Leite no Paraná

3. Onde estamos e onde queremos chegar -
Oportunidades e Ameaças

O cenário mundial acena com boas oportunidades para o ingresso de novos parceiros no comércio de lácteos, uma vez que os tradicionais países exportadores passam por mudanças que alteram suas rotas de vendas. A União Européia, que respondia por cerca de 30% das exportações mundiais aumentou a população interna e  consequentemente diminuiu as exportações. Austrália e Nova Zelândia, que juntos respondem por 50% do comércio internacional de lácteos, naturalmente assumirão os mercados deixados pela União Européia e o abastecimento da China em função da tradição como exportadores e da proximidade geográfica.

O Brasil tem imenso potencial de apoderar-se de uma fatia do mercado internacional e vem demonstrando isso, haja vista o contínuo crescimento das exportações.

Fatores como a baixa produtividade, que poderia ser visto como uma ameaça, transforma-se numa grande oportunidade quando se considera que com pouco investimento em seleção e alimentação dos animais, a produção pode duplicar ou triplicar, sem a necessidade de inclusão de área ou aumento do rebanho.

Mas para que haja segurança para investir em aumento de produção, é preciso que haja garantia de mercado externo, já que o consumo interno cresce a taxas menores que o crescimento da produção. Isso será conquistado a medida que o país amplie o número de parceiros internacionais que confiem plenamente na qualidade do produto oferecido e na regularidade de entrega, além do preço adequado.

O caminho para alcançar esse estágio passa pela eliminação  de uma série de obstáculos presentes em todos os estados produtores do Brasil, em menor ou maior intensidade.

No Paraná identificam-se obstáculos que  podem ser classificados em 3 categorias:  

1- fora da porteira - responsabilidade do governo,  

2- fora da porteira- responsabilidade das indústrias,  

3- dentro da porteira- responsabilidade do produtor.

Nesta categoria destacamos a política cambial que nos últimos anos vem favorecendo a importação em detrimento da exportação. Os recordes na exportação de lácteos alcançados pelo Brasil em 2007 somente se verificaram pelos preços excepcionalmente altos no mercado internacional. Em condições históricas de preços médios, os recordes ocorreriam na ponta das importações em função da relação real/dólar.

A política tributária é outro entrave à comercialização de lácteos. Somente uma legislação única para todos os estados evitará que a guerra fiscal continue ditando as regras de competitividade no setor.

Um aspecto fundamental para credibilidade de um produto no exterior,  é a existência, no país exportador, de um Sistema de Defesa da Sanidade Agropecuária que normatize e fiscalize o cumprimento das exigências sanitárias que garantirão a segurança dos alimentos.

Tanto o Brasil quanto o Paraná enfrentam  dificuldades e carecem de um projeto amplo para reestruturação do sistema de defesa, contemplando as necessidades de recursos orçamentários e humanos para evitar a reincidência de episódios como ocorrência de focos de febre aftosa ou, na pior das hipóteses, ao ocorrer qualquer problema sanitário, que o mesmo seja enfrentado e eliminado com rapidez e profissionalismo. 

A mesma rapidez e profissionalismo carece ser aplicada com urgência na  erradicação da brucelose e tuberculose. A presença dessas doenças é injustificável e inconcebível num país que pretenda ser reconhecido como produtor de alimentos com qualidade e segurança . 

A rastreabilidade é outro fator determinante para um produto ser aceito no exterior.

Espera-se  dos governos a reestruturação de recursos humanos e financeiros compatíveis com a importância do agronegócio para o país e sua população, entendendo a necessidade de fiscalização das prestadoras de serviços, frigoríficos, indústrias e demais componentes da cadeia responsáveis pela aplicação da rastreabilidade.

Do produtor espera-se comprometimento, seriedade e compreensão definitiva do fato de somente ser aceito no exterior produtos rastreados: ou o processo é comprovadamente sério ou o aspirante a exportador está fora do mercado. 

Combate à informalidade - É inegável a importância social do leite para o Brasil, principalmente em estados como o Paraná, onde predomina a pequena propriedade, porém esse fato não pode servir para mascarar um dado preocupante: de 2002 a 2206, a diferença entre o total de  leite produzido e o total captado pelas indústrias paranaenses  atinge níveis mínimos e máximos entre 45,3% em 2003 e 48,4% em 2004. Mesmo considerando que o Paraná é um  grande fornecedor de leite in natura para outros estados, uma parte desse volume pode ser creditado ao leite comercializado informalmente. 

Este é um aspecto que merece grande atenção de governo e iniciativa privada, tanto pela consideração do problema como de saúde pública,  evasão fiscal e concorrência desleal, quanto pela necessidade da comprovação da qualidade do leite se o estado quiser continuar exportando. 

 Embora o Paraná tenha indústrias lácteas e cooperativas figurando entre as maiores e mais modernas do país, de maneira geral o parque industrial carece de uma readequação para chegar  com mais agressividade ao mercado oferecendo novos produtos. Como já foi citado anteriormente, as indústrias paranaenses têm grande foco na produção de leite longa vida, produto que, comercializado como commoditie, reduz a margem da indústria e a remuneração da matéria prima.

 A implementação de programas de pagamento da matéria prima por qualidade é outro aspecto que precisa ser considerado pelas indústrias. Além de representar para os bons produtores a recompensa lógica pelos seus investimentos em busca da melhoria da qualidade, para os demais produtores significa um incentivo para a profissionalização. Para a indústria significa a certeza de contar com matéria prima de qualidade para produtos de qualidade.

A lição de casa dos produtores inicia com a busca pela eficiência técnico-administrativa, através de capacitação.

No Paraná são vários os cursos oferecidos pelo SENAR-PR que capacitam os produtores e seus funcionários a administrar o empreendimento através da elaboração e  monitoramento de dados referentes a custos de produção, fluxo de caixa, controle sanitário, manejo, alimentação, reprodução, entre outros. 

O produtor que passou por um processo de capacitação eficiente deverá ser  capaz de lançar um olhar mais abrangente e mais profissional sobre sua atividade, identificando e implementando medidas para solucionar questões de prioridade máxima como a sanidade do rebanho e qualidade do leite e os demais aspectos da atividade igualmente importantes, como  a necessidade de redução de custos  e incremento na escala de produção para fazer frente a margens cada vez mais reduzidas, adesão a programa de rastreabilidade e adequação às legislações vigentes.

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Boletim Informativo nº 997, semana de 24 a 30 de março de 2008
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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