Relatório de Atividades 2004 |
9 O CASO DA SOJA |
O cenário de custos de produção em alta e preços internacionais em baixa, sinalizando redução de renda para o produtor, gera preocupação ao setor agropecuário. Após três safras de resultados significativos, a pressão dos insumos nos custos de produção abre a possibilidade de reversão desses ganhos, com margem estreita de lucratividade. As indústrias fornecedoras de insumos (sementes, fertilizantes, herbicidas e outros) reajustaram os preços em índices superiores à inflação e ademais, os produtores passaram a gastar mais com aplicações de fungicidas em decorrência da ferrugem da soja (de duas a três aplicações). Dados da SEAB/DERAL apontam um aumento superior a 16% nos custos de produção (fertilizantes 20%; sementes 63%; herbicidas 11%). Conforme dados da Embrapa Soja, o custo de aplicação contra a ferrugem da soja deverá ficar equivalente ao preço de duas a três sacas de soja/hectare (ao preço atual da soja de R$ 34,00/saca = R$ 102,00/hectare para controle da doença). Os preços da soja na Bolsa de Chicago registraram mudança brusca de preços a partir de maio, quando da divulgação da primeira intenção de plantio norte-americano passando de US$ 21,83/saca para US$ 11,61/saca em outubro, uma queda de 47% nas cotações internacionais. É importante destacar que os preços internacionais da soja entraram o ano de 2004 em patamar elevado, decorrente entre outros fatores: a quebra da safra norte-americana em outubro de 2003 puxou os preços para US$ 8,00/bushel (US$ 17,00/saca); as perdas na safra sul americana elevaram as cotações de US$ 8,00/bushel para níveis acima de US$ 10,00/bushel (US$ 21,83/saca) em abril/04. Por outro lado, a China, consciente de sua importância para o mercado global, haja vista que é o maior importador mundial de soja, utilizou o mecanismo de "guerra comercial" com o objetivo de baixar os preços na Bolsa de Chicago, que entre os meses de março até início de maio, chegaram a alcançar US$ 10,50/bushel (US$ 23,15/saca), o maior preço desde 1988. Ademais, os problemas de logística registrados no Porto de Paranaguá em 2004, com recorde de prêmio negativo menos US$ 245/cents/bushel (correspondente a US$ 5,40/saca) em razão da conjugação de fatores como: elevação dos preços de fretes dos navios, deficiência portuária, barreiras não tarifárias alegadas pelos chineses entre outros, favoreceu a concorrência e o Brasil perdeu um pouco de espaço nas exportações do complexo soja para os Estados Unidos e a Argentina. Os produtores norte-americanos foram os maiores beneficiados. Na oportunidade os produtores foram alertados que esses preços não tinham sustentação e a tendência face às estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA, seria de preços no segundo semestre/2004 em torno de US$ 7,00 a 7,60/bushel, porém as cotações caíram abaixo desses patamares. O cenário especulativo sugeria aos produtores aproveitar a oportunidade de repique de preços e obter um preço médio rentável, abrindo possibilidade de margem de lucratividade maior. A partir de maio/04, com a sinalização de safra recorde nos Estados Unidos, os preços registraram curvas decrescentes, encerrando o mês de outubro em US$ 11,61/saca, isto é, uma queda de 47% nas cotações internacionais. Dentro deste quadro, isto é, a safra de 2004/05 sinalizando margens apertadas de lucratividade, o caminho para o produtor é a administração dos custos e não perder o foco na produtividade, em outras palavras, racionalização dos custos e eficiência (ganho de produtividade). O crescimento da produtividade agropecuária é a conjugação de variáveis, como: tecnologia (variedades, formas de cultivo), mecanização, crédito, relações de troca (preços relativos dos insumos) melhoria na organização e gestão dos negócios. O Paraná é o principal produtor do país com uma produção de 11,8 milhões de toneladas (28%), embora tenha se observado uma redução de 11,6% na área plantada. A produtividade estadual também se destaca, obtendo na safra normal 5.600 kg/ha e na segunda safra 3.100 kg/ha, comparadas à média nacional de 3.400 e 3.200 kg/ha respectivamente. O Paraná é o maior fornecedor do cereal no mercado interno (25% na primeira safra e 50% na segunda safra), participando no Valor Bruto da Produção Agropecuária Paranaense com R$ 3,7 bilhões (13% do total). A cultura do milho representa 47% da produção total de grãos do Estado, gera 70.000 empregos diretos no campo e envolve 200 mil produtores que, em função da baixa liquidez do trigo, fizeram, nos últimos dez anos, o milho safrinha crescer 290% e através do emprego de tecnologia fizeram a produção crescer perto de 700%, além de se constituir em principal insumo nos sistemas agro-industriais da avicultura e suinocultura. As exportações paranaenses mantiveram-se como importante ferramenta de comercialização sendo responsáveis por 77% das exportações brasileiras do grão, gerando divisas de US$ 434 milhões e um volume exportado de 3,7 milhões de toneladas. No mercado do milho não se observou a tradicional queda de preços no período inicial da colheita condicionada pela pressão de oferta. O mês de março encerrou com ganhos expressivos (R$ 15,67/saca), tendo como variáveis: forte seca que assolou áreas de produção do país, provocando atraso do plantio do milho safrinha e redução da área plantada de milho safrinha. Os repiques de preço ocorreram nos meses de abril e maio, quando alcançaram, respectivamente, a média de R$ 18,37/saca e R$ 19,30/saca. Em agosto os preços pagos aos produtores fecharam em R$ 15,19/saca de 60 kg. Os produtores se defrontaram com aumento dos preços relativos dos insumos agrícolas e buscaram ganho de escala e produtividade para redução dos custos de produção. O custo operacional para uma produtividade de 6.000 kg/ha foi de R$ 15,60/saca e o produtor de milho teve um prejuízo da ordem de R$ 0,41/saca, considerando o preço médio de agosto. As primeiras estimativas de intenção de plantio para o Paraná apontam que o milho deverá apresentar uma redução, passando de 1,35 milhão de hectares para 1,25 milhão de hectares, com previsão de produção da safra verão em 7,11 milhões de toneladas. A se confirmar a área plantada, deverá ser a menor área cultivada com milho na safra normal numa série histórica de 30 anos. Mais uma vez o produtor deverá optar pela cultura da soja, em razão da baixa liquidez do milho. O produtor de milho devido ao aumento no custo de produção, ao redor de 17% e pela falta de uma garantia na comercialização, como uma venda antecipada que assegure ao produtor uma remuneração sobre o custo de produção, sente-se inseguro em apostar no plantio de milho. Os preços praticados no Paraná entre R$ 14,00 e R$ 16,00/saca de 60 kg, na safra 2003/04, embora ligeiramente superiores ao preço mínimo de garantia, quando comparados com os custos de produção são considerados baixos, o que levou a FAEP mais uma vez, a interceder junto ao Governo Federal solicitando que fossem operacionalizados instrumentos de comercialização como o PEP, AGF e os Contratos de Opção. Em 2002, como resultado da integração entre os tradicionais parceiros da atividade agro-industrial – CNA, FAEP, OCEPAR, OCB, SEAB-PR, ABITRIGO, MAPA, CONAB, e Banco do Brasil S.A. – foi firmado o Protocolo de Intenções intitulado Plano Plurianual para o Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Trigo com o objetivo de estabelecer estratégias para que nos cinco anos seguintes houvesse um fortalecimento da triticultura brasileira, dando elementos aos produtores e industriais para a realização de planejamentos de longo prazo. Dentre as principais metas do protocolo, visou-se o aumento gradativo da produção, através do aumento da área plantada e do aumento do rendimento por hectare, a fim de se atingir o patamar de 60% do consumo nacional, tendo como conseqüência a redução das importações, o aumento do número de empregos diretos e indiretos e reflexos no consumo de fertilizantes, defensivos e combustíveis. Numericamente esta produção deveria atingir, em 2007, a quantidade de 6,5 milhões de toneladas de trigo, o que corresponderia a um incremento de 118% em 5 anos, face as 3 milhões de toneladas colhida na época. Os produtores brasileiros, assumindo seu papel no cenário, vêm cumprindo com a sua parte, atingindo com antecedência as metas de produção projetadas. Para este ano já pode ser contabilizada uma safra de 6,12 milhões de toneladas com rendimentos que chegam a 2.300 kg/ha contra um consumo estimado de 10,3 milhões. O Paraná ocupa posição de destaque nesta cultura, colhendo 51% da produção nacional em uma área superior a 1,3 milhão de hectares, com rendimentos que elevam a média nacional e com produtos classificados como de boa qualidade com pH superior a 78. Representando o setor industrial no protocolo de intenções, os moinhos igualmente têm importante papel a ser desenvolvido para o cumprimento das metas. Por estarem diretamente ligados ao processo, devem assimilar a produção ofertada em resposta à eficiência dos agricultores. Na prática isto não aconteceu da forma esperada. No momento da comercialização, os preços da saca ficaram abaixo de R$ 24,00 que é o preço mínimo fixado pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) e também abaixo dos custos de produção que, registrando um aumento médio de 17%, estão estimados entre R$ 28,00 e R$ 36,00 segundo dados da SEAB/DERAL e da CONAB. Estes valores colocaram os produtores em uma posição de espera e levaram os moinhos a adquirir a matéria-prima respeitando a mínima necessidade para processamento, sendo que muitos chegaram a reduzir os estoques para evitar a compra. Vem da Argentina o principal impacto nos nossos preços porquanto esse país produz atualmente quase 14 milhões de toneladas para um consumo nacional de 5,2 milhões de toneladas. O excedente é ofertado ao mercado internacional a preços atrativos e sujeitos a custos de transporte menores do que os praticados para o produto nacional, induzindo o setor industrial brasileiro a optar pela importação em detrimento do mercado interno. Neste momento denota-se a relevância das ações do terceiro participante do protocolo, formando o tripé de sustentação da cadeia produtiva, o Governo. Desempenhando a função de financiador do processo, os recursos governamentais atuam na implantação ou atualização da infra-estrutura das propriedades agrícolas e industriais, no custeio do plantio, na armazenagem do cereal e na comercialização da safra. Para cada momento, as linhas de crédito existentes devem atender a demanda à medida da necessidade e da disponibilidade dos recursos. A FAEP, acompanhando de perto cada um destes momentos, participou ao lado dos produtores de todas as dificuldades enfrentadas e, nas ocasiões adequadas, intercedeu junto às partes relacionadas para que os recursos fossem liberados pelos agentes financeiros de forma a atender a todos, com presteza, agilidade e valores condizentes com as necessidades do setor. No momento da comercialização pôde ser observada, ainda na safra 2003/04, a maior carência de mecanismos que garantissem aos produtores valores de venda satisfatórios e demanda concomitante com a oferta, ou seja, que fosse possibilitado ao produtor esperar o momento adequado para vender a produção. O mercado não sinaliza preços remuneradores e o custo de produção vem sendo pressionado pelos aumentos dos insumos. Em agosto, em reunião na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural – CAPADR, representantes da OCEPAR, FAEP, ABITRIGO e FECOTRIGO/RS, entregaram para o Presidente da Comissão, Deputado Leonardo Vilela, documento do trigo contendo as ações emergenciais para o setor tritícola, com o objetivo de alavancar o preço, porquanto a tendência é de preços abaixo do Preço Mínimo de Garantia, sinalizando um ano de baixa renda para o produtor. O Brasil não pode retroceder na conquista do aumento da produção de trigo e diminuição dos volumes importados (economia de US$ 400 milhões). Por este motivo a FAEP em parceria com outras organizações representativas do setor agrícola solicitou ao Governo Federal a liberação de recursos para as várias linhas de comercialização como o PEP – Prêmio para Escoamento da Produção, que teve leilões com valor do prêmio inferior ao esperado pelo mercado (lançado a R$ 73,00 por tonelada e posteriormente aumentado para R$ 122,00 por tonelada). Como estes valores não atraíram os compradores, que argumentam que este prêmio não cobre os custos de transporte, não foram registradas comercializações expressivas no Estado, apenas uma compra de 400 toneladas para um moinho do nordeste e outra de 6.500 toneladas adquiridas em um leilão para o Rio de Janeiro e Espírito Santo, desta vez ao prêmio de R$ 78,00 por tonelada. Também houve intercessão da FAEP na liberação de recursos para Contratos de Opção de Venda, os que tiveram todas as ofertas negociadas a valores entre R$ 25,70 e 26,40 por saca, com prêmios de negociação próximos dos valores de abertura, entre R$ 58,80 e R$ 60,00 por contrato de 27 toneladas. O montante de recursos para estes contratos chegou a R$ 240 milhões para o Estado. Foram direcionados ainda R$ 13 milhões para que a CONAB aplicasse em AGF - Aquisição do Governo Federal - para negociações de compra de até 800 sacas por produtor ao preço mínimo de R$ 24,00 a saca. Com relação ao EGF/SOC – Empréstimo do Governo Federal /Sem Opção de Compra, apesar das intervenções realizadas, não houve liberação de recursos durante este ano para o produtor que contratou operações para custeio alongado (Resolução 3.208 do Banco Central), sendo observadas negociações principalmente com cooperativas, num total de R$ 35,7 milhões a recursos controlados, ou seja, juros de 8,75% aa. Já o LEC – Linha Especial de Crédito de Comercialização não teve nenhum recurso disponibilizado para contratações no ano de 2004, mas constaram da pauta de reivindicações e ainda poderão ser operacionalizadas durante os meses de janeiro e fevereiro de 2005. O conjunto de todos estes instrumentos totalizou, para a cultura do trigo safra 2004/05, valores próximos a R$ 280 milhões, em torno de 1% dos R$ 28,75 bilhões previstos para custeio e comercialização no Plano Agrícola e Pecuário. Os recursos hoje disponibilizados para o setor agrícola são mais baixos que em 1998. Os custos de produção agropecuária sofreram um significativo impacto em virtude dos aumentos dos preços de vários insumos (fertilizantes, defensivos e sementes, entre outros) que coincidiu com a queda internacional dos preços das commodities. Estes reajustes trouxeram sérias conseqüências aos produtores que viram seus gastos aumentarem e suas margens de lucro serem reduzidas, podendo causar, em alguns casos, reais prejuízos às safras. Atenta a estas mudanças a FAEP empreendeu alerta para que os produtores vigiassem com acuidade suas planilhas de custos e os valores de comercialização, a fim de se prevenirem contra resultados desastrosos para suas safras. Em virtude de uma correlação muito forte entre os custos de produção, os preços de venda e os financiamentos para custeio na agricultura nacional, também foi necessária a constante interferência da FAEP junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério da Fazenda e o Banco do Brasil para que fossem viabilizadas as ações dos produtores tanto no momento do plantio quanto no momento mais adequado para a comercialização. Estas ações foram direcionadas para a efetivação dos compromissos assumidos pelo Governo Federal sobre a liberação de recursos para AGF (Aquisições do Governo Federal), EGF (Empréstimo do Governo Federal), PEP (Prêmio de Escoamento da Produção), LEC (Linha Especial de Crédito de Comercialização) e Contratos de opções, com o objetivo de que os produtores pudessem garantir o preço mínimo para seus produtos conforme a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) e assim, em conjunto com o controle dos gastos, alcançar os resultados esperados com a atividade. Em funcionamento desde 26 de abril de 2000, quando uma assembléia geral formada por produtores de cana, representada pela FAEP e industriais do setor, representados pelo Sindicato da Indústria Sucro-alcooleira declarou sua fundação, o Consecana Paraná vem trabalhando ininterruptamente para cumprir seu objetivo de apresentar mensalmente ao setor o preço do açúcar total recuperável – ATR realizado no mês, o preço do ATR por produto e a projeção do preço da cana básica para a safra. A criação do Conselho se fazia necessária para organizar fornecedores e compradores da matéria prima cana de açúcar após a saída do governo na regulamentação do setor, apresentando-lhes um instrumento que possibilitasse a formação de preços de referência para a remuneração da matéria prima com transparência e credibilidade. Transcorridos 4 anos e 8 meses desde a fundação, é possível afirmar que o objetivo foi alcançado, a formação do preço da cana de açúcar está atrelada ao resultado da comercialização mensal dos produtos derivados acompanhados pelos técnicos da Universidade Federal do Paraná, o que permite uma divisão justa do resultado econômico da atividade entre o produtor e o comprador da matéria prima. Em épocas de ventos favoráveis à comercialização do açúcar e álcool no mercado o produtor recebe valor igualmente favorável pela cana, quando o mercado arrefece o produtor já sabe que o preço da cana cairá na mesma proporção, é o princípio da transparência, a divulgação dos preços dos derivados no mercado mostra claramente o quanto as usinas de açúcar e destilarias de álcool podem pagar pela matéria prima no mês. Não se trata da indústria tirar a sua parte e deixar o que sobrar para o produtor, ao contrário, os dois setores ganham juntos ou perdem juntos. Nas 12 reuniões realizadas em 2004 produtores e industriais valeram-se da oportunidade de discutir problemas que preocuparam o setor bem como propor encaminhamentos para solucioná-los. Os preços de mercado do açúcar e álcool, bem como as cotações futuras desses produtos e do dólar foram acompanhados de perto graças às apresentações dos professores da UFPR que conseguiram transformar um assunto complexo e de difícil assimilação em temas de discussão do dia a dia dos participantes do Consecana. É a comercialização de cana realizando-se num ambiente profissional, onde a metodologia desenvolvida especialmente para isso, permite que cada participante conheça, no momento da compra e venda, o poder de remuneração do produto, determinado através de parâmetros claros e amplamente divulgados. O segmento de fruticultura paranaense se reveste de fundamental importância, porquanto constitui uma oportunidade de reconversão das atividades agrícolas, principalmente das pequenas propriedades e representa uma alternativa de fonte de renda para o produtor. A fruticultura, cultura característica de pequenas áreas, adapta-se à estrutura fundiária do Paraná, cumprindo a necessidade de reconversão das propriedades, empregando mão de obra abundante e gerando renda muito além do que é possível obter com culturas extensivas. Para produzir sua fruta o produtor paranaense consegue apoio junto à assistência técnica pública ou privada, porém o ponto crítico do setor está na comercialização, fase em que, a ausência de identificações claras e padronizadas das características dos produtos (classificação, padronização e rotulagem) impedem que compradores do atacado e varejo saibam com segurança o que estão adquirindo, exigindo transportes desnecessários e a presença dos compradores para ver e tocar o produto. Esses procedimentos acarretam perdas gigantescas e dados oficiais mostram que, de todo volume de frutas, verduras e legumes colhidos no Brasil, 30% é desperdiçado. O Programa Hortiqualidade Paraná, criado por uma parceria entre FAEP, SEAB, OCEPAR, SEBRAE em 2000, buscava mudar esse cenário, através do desenvolvimento de intenso trabalho, conscientizando e treinando os fruticultores para se inserirem num moderno sistema de comercialização baseado na classificação, embalagem adequada e rotulagem. Através de técnicos do Programa sediados na CEASA Curitiba, o Programa oferecia aos fruticultores os seguintes serviços: treinamento em classificação; apoio para a organização; transferência de informações do mercado sobre os atributos mais valorizados nas diferentes frutas; aproximação dos produtores com novos canais de comercialização; acompanhamento da movimentação da safra buscando identificar janelas de mercado; acompanhamento personalizado do produto enviado à CEASA por produtores que aderiram ao Programa e entregaram seus produtos classificados e rotulados conforme as normas difundidas. Em 2003 cerca de 1500 produtores passaram pelos treinamentos do Programa e já há sinais evidentes de que a cadeia de produção começou a transformar-se, absorvendo os novos padrões tecnológicos, passaporte para uma fruticultura empresarial, capaz de dar ao produtor o incremento de renda tão necessário para melhoria de sua qualidade de vida. O Programa Hortiqualidade teve seu convênio encerrado em 2004, devendo ser enfatizado que no transcorrer dos quatro anos de sua duração, promoveu significativos avanços quer na conscientização dos produtores, revelando a importância de se construir um novo modelo de comercialização, quer na transferência de conhecimento, com enfoque na confiabilidade, na transparência das operações, no aprimoramento e na qualidade. Neste sentido o Programa logrou uma mudança de paradigma, promovendo o início de amplo processo de transformações culturais no setor. A necessidade de criação de grupos organizados para proceder as tarefas de classificação e comercialização, foi absorvida pelos produtores e conferiu ao setor da fruticultura capacidade de agregar valor em cada etapa da cadeia. É importante destacar que, no encerramento do Programa, as ações foram distribuídas setorialmente, isto é, cada entidade parceira assumiu dentro de seu raio de ação as tarefas pertinentes. Ao Sistema FAEP coube transmitir ao seu público alvo, neste caso, os fruticultores, as informações de classificação, embalagem e rotulagem, mediante a realização de palestras específicas. Em continuidade as ações desenvolvidas, foi lançado em junho de 2004 pelo Governo do Estado, a "Campanha Paranaense de Rotulagem e Embalagem" em parceria com SEAB, CEASA, EMATER, FAEP, SENAR, Sindicatos Rurais, SEBRAE, OCEPAR, Sescoop e APRAS, tendo como principal objetivo a divulgação do produto paranaense através dos uso do rótulo e consequentemente o reconhecimentos dos que adquirem este produto, contribuindo para atingir a rastreabilidade no setor de hortigranjeiros. A divulgação da campanha está sendo realizada de maneira setorizada e cada entidade dentro do seu setor, orienta, através de palestras regionais, sobre a importância da rotulagem, com a difusão das informações em toda cadeia contemplando produtores, atacadistas e varejistas. Durante o ano de 2004 atendendo a demanda gerada nas regiões produtoras, através das mobilizações realizadas pelos Sindicatos Rurais e Emater, foram realizadas 25 reuniões atingindo cerca de 1500 participantes. Os municípios participantes foram: Pinhalão, Japira, Mariópolis, Ámpere, Toledo, Rosário do Ivaí, Uraí, Balsa Nova, Tamarana, Londrina, Santa Antônio do Paraiso, Cornélio Procópio, Corumbataí do Sul, Ribeirão do Pinhal, Joaquim Távora, Cambará, Carlópolis, Quatiguá, Pato Branco, Marialva, Bandeirantes, Araucária, Assaí, Colombo, Ibaiti. O Paraná já dispõe hoje de instrumentos que podem garantir o desenvolvimento da fruticultura paranaense e cujos resultados podem ser aquilatados mediante a conquista de novos nichos de mercado para o produto paranaense, com destaque para as regiões de Marialva, Rosário do Ivaí, Bandeirantes e Uraí, onde a produção de uva atinge excelentes níveis de qualidade, alcançando projeção nacional. 9.7 Comissão Técnica de Fruticultura As ações da Comissão Técnica de Fruticultura foram realizadas em sintonia fina com as demandas dos produtores, pautando suas ações em assuntos considerados prioritários. Nos discussões realizadas durante 2004 tiveram destaque os problemas enfrentados pelos fruticultores, no que se refere à carência de agrotóxicos e produtos biológicos registrados, contando atualmente com produtos obsoletos com alta toxicidade, os quais demandam maior volume e número de aplicações, resultando em maior custo de produção e, consequentemente, menor margem de rentabilidade para o produtor. Existem produtos com maior eficiência e baixa toxicidade, mas em razão dos trâmites exigidos e os elevados custos dos registros, as empresas se mostram desinteressadas. No Paraná ocorre um agravante, é exigido que as empresas realizem os testes no Estado para comprovar a seguridade e eficiência do produto, além dos testes já exigidos na esfera federal. A FAEP, diante da importância do assunto reivindicou às autoridades competentes estaduais e federais, providências porquanto estes problemas deverão acarretar dificuldades para exportação e sobretudo torna impossível a adequação à Produção Integrada de Frutas. Atualmente está sendo elaborado por entidades representantes do setor, integrantes do Grupo Técnico sobre Resíduos de Pesticidas – GTPR, proposta para regulamentar o uso de agrotóxico para pequenas culturas, referida proposta foi encaminhada ao Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Meio Ambiente e ANVISA, aguardando a aprovação. Com relação aos danos causados pela deriva (desvio) de agrotóxico, a FAEP em parceira com o Sindicato Rural de Cambé, mobilizou cursos de aplicação de agrotóxicos do SENAR-PR, tendo como público alvo, os produtores que fazem uso de defensivos, principalmente o 2-4 D e possuem propriedade vizinha ou próxima à área de produção de frutas. Dada a importância do assunto, a SEAB regional Londrina, lançou a campanha "Acerte o Alvo" (Campanha contra deriva de Agrotóxicos), que tem como objetivo eliminar os problemas de perdas em lavouras e os danos no meio ambiente decorrentes da deriva das pulverizações de agrotóxicos. A sistemática "Rede de Prevenção" compreende treinamentos e reciclagem de profissionais e agricultores em tecnologia de aplicação, além da distribuição de material informativo sobre o assunto. |
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