Como sempre fez questão de não ter existência legal e assim livrar-se de controles de órgãos oficiais, quanto às verbas públicas que lhe são repassadas, o Movimento dos Sem-Terra (MST) tem usado a estratégia (melhor seria dizer artimanha) de criar entidades legalizadas, sem fins lucrativos, com elas mantendo convênios por meio dos quais recebe, indiretamente, dinheiro do governo. Uma destas é a Associação Nacional de Cooperação Agrícola (Anca). Essa entidade foi acusada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de desviar R$ 4,4 milhões, repassados pelo Ministério da Educação - no primeiro governo Lula, em 2004 - para a execução do programa Brasil Alfabetizado, que tinha por objetivo alfabetizar 30 mil jovens e adultos assentados, além de capacitar 2 mil professores em 23 Estados.
A
acusação, condenação e imposição de multa ao ex-presidente da Anca -
com cobrança judicial devidamente autorizada - se deve ao fato de parte
daquela verba ter sido desviada para setores administrativos do MST.
"Nas unidades beneficiárias dos repasses a movimentação dos recursos se
fez livre de controle" - foi a conclusão a que chegou o TCU, cujo
ministro relator destacou que os recursos só poderiam ser sacados da
conta bancária específica para pagamento de despesas previstas no plano
de trabalho, "devendo sua movimentação realizar-se exclusivamente
mediante cheque nominativo, ordem bancária, transferência eletrônica
disponível ou outra modalidade de saque autorizada pelo Banco Central,
em que fiquem identificados sua destinação e, no caso de pagamentos, o
credor".
O
TCU também constatou que à descentralização irregular dos recursos se
soma a inexistência de documentos que demonstrem a efetiva execução do
objeto pactuado (a alfabetização dos assentados), tais como extratos
bancários com a movimentação financeira nas Secretarias estaduais,
cadastro de educadores e alunos, listas de presença, relatórios de
atividades e resultados. O advogado da Anca enfatiza em sua defesa que
já colocou à disposição do TCU a "relação completa de 27 mil alunos
alfabetizados". Há fortes razões para crer que essa relação esteja
longe de satisfazer às exigências de controle do uso de verbas
públicas, que cabe ao TCU, ao Ministério Público e, enfim, à Justiça
examinar.
Conhecendo-se,
como bem se conhece, o modus operandi do Movimento dos Sem-Terra, dá
para se imaginar em que foram empregados os recursos públicos que,
segundo o TCU, foram desviados de suas finalidades. E não há como
deixar de supor que o dinheiro extraído do esforço do cidadão
contribuinte, em lugar de destinar-se ao meritório esforço de
alfabetizar jovens e adultos do País, condição mais do que elementar de
qualquer projeto de promoção social, escorreu para atividades
notoriamente ilegais, tais como as operações de invasões e ocupações de
fazendas produtivas e tudo o mais que esse "movimento social" tem
praticado, de maneira cada vez mais abrangente. Não bastasse o governo
brasileiro financiar as ações ilegais do MST, agora se sabe que elas
também são financiadas pelo caudilho venezuelano Hugo Chávez, que há
dias esteve com João Paulo Stédile em São Luís, no Maranhão.
Há
que concluir, então, que, se a estratégia - ou artimanha - de
permanecer sem existência legal interessa aos líderes emessetistas,
pois dessa forma eles se protegem de controles ou eventuais sanções
diretas do Poder Público, deixando que estas atinjam apenas as
entidades montadas para lhes repassar, "legalmente", verbas do governo,
essa "clandestinidade ostensiva" não interessa à sociedade. Em outras
palavras, o mínimo que exigiria o zelo com o dinheiro gerado do esforço
do cidadão contribuinte seria estabelecer a existência legal, de
quaisquer movimentos sociais, como condição indispensável de receber
subsídios ou verbas públicas. Dessa forma o MST e assemelhados se
obrigariam a prestar contas, diretamente, ao Tribunal de Contas e
demais órgãos de fiscalização e controle oficiais da forma como
utilizaram o dinheiro público que lhes é repassado. Quanto ao
financiamento do governo bolivariano de Caracas, trata-se de uma
violação da soberania nacional, dado que, no caso, o dinheiro é
entregue diretamente a um movimento clandestino que não esconde seus
objetivos político-ideológicos.
Publicado no jornal
O Estado de S. Paulo em 2 de abril de 2008