Safras recordes e altos preços não 
garatem rentabilidade ao produtor 

Agência CNA

A safra 2007/2008 trouxe expectativas de novos níveis de preços ao produtor, mais adequadas ao patamar de oferta e demanda mundial. Na avaliação da CNA, os altos preços internacionais tendem a continuar no ano que vem. O otimismo impera no mercado externo quando se trata de crescimento da demanda pelas principais commodities. Mas, no mercado interno, as projeções para o dólar reduzem o impacto junto aos produtores. Significa que, não fosse o cenário internacional favorável, a situação do produtor estaria bem pior. Aliada à questão cambial, o aumento dos custos dos insumos e a precariedade da infra-estrutura roubaram a renda do produtor. "Os grandes números do setor em 2007 serão extraordinários. Safra de grãos, cana e proteína animal recordes, assim como no VBP, PIB e exportações. Porém, o produtor ainda enfrenta o mais básico dos problemas, a falta de rentabilidade," afirmou o superintendente técnico da CNA, Ricardo Cotta Ferreira, ao divulgar o balanço do ano e perspectivas do setor para 2008.  

Mesmo sob a pressão de um alto grau de endividamento, foi colhida a maior safra de grãos brasileira em 2006/07, atingindo o recorde de 131,7 milhões de toneladas. Safra cheia e preços fortes melhoraram a receita de grãos. Após dois anos de prejuízo na maioria das regiões, a rentabilidade começou a melhorar. Na maior parte do País, foi suficiente para cobrir os custos operacionais, mas ainda aquém de atingir os custos totais, que levam em consideração as depreciações e custos de oportunidade. "Ainda é recomendável cautela nos investimentos futuros, pois o patrimônio dos produtores foi sendo depreciado ao longo do tempo e, na tentativa de recuperá-lo, acabam sendo obrigados a recorrer a novos empréstimos, gerando novos endividamentos", disse Cotta.  

Diante deste quadro, apesar da queda da taxa de juros dos recursos de crédito rural, de 8,75% para 6,75% ao ano, a CNA prevê que, em 2008, os produtores não tomarão recursos com a intensidade esperada. Para 2007/08, foram previstos R$ 70 bilhões para o crédito rural. "A crise de renda do setor em 2005 e 2006 ainda não foi superada e vem limitando o acesso a novos recursos para investimentos", justificou o superintendente.

Para a pecuária de corte, 2007 marcou o processo de recuperação de renda, invertendo a situação apresentada nos últimos quatro anos, em decorrência dos aumentos nos custos de produção e queda nos preços da arroba do boi e do litro do leite. Para 2008, as expectativas são de que a pecuária inicie novo ciclo de crescimento. O País deverá manter a liderança das exportações mundiais de carne bovina, pois seus principais concorrentes ainda enfrentam problemas para aumentar a oferta, como Argentina, Austrália, Estados Unidos e União Européia. "Para que o Brasil possa aproveitar as oportunidades do mercado internacional, é preciso uma melhoria dos investimentos em defesa sanitária e certificações, de forma a atender às crescentes exigências dos mercados importadores", completou Cotta Ferreira.

No caso da pecuária de leite, houve dois momentos distintos em 2007: recuperação dos valores recebidos pelos produtores até setembro, seguida por queda dos preços pagos em função do crescimento da produção e da redução do consumo do leite longa vida. "O grande desafio para o setor lácteo é ampliar o consumo no mercado interno e aumentar as exportações", afirmou o superintendente da CNA. No mercado internacional, a resposta da produção foi pequena mesmo diante dos preços remuneradores. A expectativa é de que, em 2008, a demanda mundial pelo produto continue forte, embora ainda não se saiba quais países serão os principais provedores do mercado mundial. É esperada uma grande contribuição dos países em desenvolvimento. No Mercosul, Argentina e Brasil têm o maior potencial para ampliar produção e exportação de leite e derivados.          

O Brasil deverá continuar despontando na produção mundial de cana-de-açúcar na safra de 2007/2008. A estimativa de crescimento da safra é de 11,1% em relação à safra anterior. Esse desempenho ocorrerá em função do aumento de 12,53% da área plantada e de 2,6% da produtividade média. Dados da Conab indicam que a produção nacional de cana-de-açúcar deverá ultrapassar 547 milhões de toneladas. Do total, 86% serão destinados à produção do setor sucroalcooleiro. Em relação aos produtos da cana, a produção de açúcar deverá atingir 30 milhões de toneladas e a de álcool 21 bilhões de litros.  

A estimativa da produção de café para safra 2007/2008 é de 32,6 milhões de sacas de café beneficiado. Quando comparada à produção na safra 2006/2007 (42,5 milhões), estima-se uma redução de 23,3% na produção nacional, devido aos efeitos da bianualidade da produção brasileira. Para 2008, projeta-se um aumento do consumo interno, que poderá atingir 18 milhões de sacas. Investimentos em promoção comercial, o boom do consumo fora-do-lar alavancado pela expansão das cafeterias, a melhoria da qualidade do produto e o aumento da renda interna são as principais causas da expansão do mercado interno. Mas, apesar da valorização dos preços internacionais, a expectativa de manutenção da política cambial, o alto índice de endividamento setorial, e o aumento dos custos de produção - principalmente com mão-de-obra e fertilizantes - ainda reduzem a rentabilidade dos cafeicultores. 

Boletim Informativo nº 987, semana de 17 a 23 de dezembro de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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