Discurso do presidente da Federação da Agricultura
do Estado do Paraná na abertura do Encerramento
do Empreendedor Rural 2007 

"Há um dito popular: Todo Povo tem o Governo que merece.

Se isso fosse verdade, como justificar os povos que vivem sob o tacão de ditaduras, governados por tiranos.

Isso até poderia valer para as democracias, onde o povo pode eleger seus governantes.

Até neste último caso é falso esse ditado uma vez que existem democracias e democracias. Não é difícil ludibriar um povo quando os níveis de consciência cívica são baixos, resultado dos baixos índices de educação e do pouco acesso crítico  a informações.

Foi pela via democrática que Hitler assumiu o poder na Alemanha e é pelo voto do povo que Chaves e Evo Morales estão implantando a ditadura na Venezuela e na Bolívia. Pois é na Bolívia que se transferiu a reunião que aprovou a nova Constituição - que naturalmente favorece Evo Morales - para um quartel do exército.

E pelas notícias que circulam, de um novo mandato para o presidente, este poderá ser também o retrato de nosso país.  

Não há como culpar o povo pelas escolhas que faz quando  esse povo é despolitizado no seu sentido de compreensão  real da coisa pública.

Se isso não fosse assim, como entender a crise ética que está engolfando o nosso país sem que haja um maciço repúdio por parte de todo um povo, uma vez que os índices de aprovação de Governantes são notavelmente altos, apesar de tudo?

"Nunca antes neste país" a imprensa publicou tantos escândalos públicos como agora e no entanto aqueles que se consideram ,-para usar a expressão da moda - republicanos, varrem o lixo para debaixo do tapete a vista de todos. E o fazem impunemente.

Vivemos tempos difíceis e obscuros.  

Vivemos tempos de enganação, tempos em que os governantes nos dizem que "tudo vai bem no melhor dos mundos possíveis" sem o menor senso de realidade.

O Brasil não vai bem.   

Por falta de decisões corajosas, não faz as reformas que Já deveriam estar feitas e por isso nosso país  está perdendo oportunidades fantásticas num mundo que cresce em média a taxas maiores que a nossa.

Como se diz no campo, o cavalo está passando encilhado e nós não conseguimos montá-lo.

No fundo, no fundo,  esta é uma crise ética que se espraia para a economia e para a nossa sociedade. Estamos contaminados por usos e costumes que corroem o nosso tecido social, de cima a baixo.

É preciso reagir.  

É preciso por um basta nas mazelas que aviltam a nação e erguer um novo país, com moral,  com geração de riquezas e sua distribuição mais eqüitativa.

Assistir a esse estado de coisas sem uma ação concreta é aceitar que somos covardes ou que toleramos a ineficiência, a incompetência e a malversação do dinheiro público. É aceitar que o nosso destino é ser isso mesmo, um país e um povo de segunda classe.

Isso é inaceitável.

Temos que reagir  a este "destino" de país pantanoso e sem futuro.  Mas reagir sem quebrar os valores democráticos que tão duramente conquistamos e que precisam ser preservados a todo o custo.

É sobre isso que eu quero falar hoje, como reagir a esse estado de coisas.

Toda decisão que envolve o público é política.

A política é exercida num encadeamento de troca de prestígios e comprometimentos que começa no município, quando elegemos nosso prefeito e nossos vereadores.

São eles que, por sua vez, funcionam como principais  cabos eleitorais de deputados estaduais, deputados federais.  

É esse bloco de eleitos que, por sua vez, dá sustentação a eleições majoritárias.

Se ética é mercadoria hoje escassa no Congresso Nacional, em muitas  Câmaras de Vereadores, nas Assembléias Legislativas ou no exercício dos cargos executivos, essa é em grande parte  uma decorrência do mau encadeamento na escolha de candidatos não comprometidos a partir da base municipal.

E este é o ponto central dessa minha fala: temos no Paraná uma oportunidade para quebrar muitos elos desse mau encadeamento nas próximas eleições municipais.

Tanto no Programa Empreendedor Rural como no de Desenvolvimento Sindical procuramos colocar conteúdos de tal forma a permitir que os participantes de ambos os programas agucem e ampliem seu senso crítico para avaliar situações e pessoas.  

Saber os que podem e os que não devem ser nossos representantes em Câmaras Municipais que mais tarde vão ter extremas influência  na escolha de deputados, senadores e governantes.

Participar ativamente das próximas eleições municipais será portanto um excelente exercício para as eleições que virão depois. Um exercício de cidadania e liderança.

Liminarmente é preciso que tomemos a consciência que, mesmo não militando num partido político,  mesmo que alguém tenha asco de política, nós somos agentes políticos, quer queiramos ou não.

Somos agentes políticos quando votamos, quando reclamamos da incompetência e do desleixo  dos políticos. Só que na maior parte das vezes nós subestimamos essa nossa condição cívica.

Quando nos omitimos em política estamos na  verdade abrindo espaço para que ele seja ocupado por políticos nocivos, com todas as suas conseqüências .

Nossa obrigação é intervir no encadeamento que começa no município, estende-se pelo Estado até chegar à política nacional. Além de escolhermos bons representantes municipais, é preciso nunca baixar a guarda e manter ativamente ações políticas com vistas às eleições estaduais e nacionais.

Como dizia o grande tribuno e político brasileiro Carlos Lacerda e que foi símbolo de sua luta: " o preço da liberdade é a eterna vigilância".

E vigiar significa ser crítico, estar atento, denunciar, usar dos meios que a lei  permite para eliminar da política os  corruptos e os incompetentes.

Significa indignar-se e na indignação formar grupos para partir para ações públicas, de alerta à população, de exigência de providências às autoridades.

Talvez muitos se questionem sobre o que nós, pobres mortais, temos com isso. Não somos políticos e nem autoridades para cercear as ações dos homens públicos.

Temos, sim, muito a ver com isso. Maus políticos, governantes incompetentes interferem na nossa vida. Desvio de dinheiro público, tributação exagerada, falta de obras públicas tem tudo a ver conosco.  

A ação nefasta de governantes e de legisladores faz com que nossa produção escoe por estradas ruins, por portos antiquados e caros. Com isso, os preços de nossos produtos são afetados e nossa renda cai.

Faz com que faltem escolas decentes que realmente formem profissionais mas onde circulam cartilhas espúrias que enaltecem regimes totalitários, uma forma nada sutil de preparar nossos algozes no futuro.

A carência  de hospitais, a notória falta de segurança, tudo isso afeta nossas vidas diretamente. E tudo isso tem a ver com política.

É por esta razão que lideranças - sindicais ou comunitárias -  e  empreendedores precisam ser políticos. Não necessariamente ligado a um partido.  

Não digo que sejam candidatos, mas para quem tiver essa vocação, tanto melhor. Que sejam vereadores, prefeitos, deputados e se possível vão adiante, com sonhos e aspirações mais altos.

Sempre que necessário, mobilizar a população contra medidas de Governos que atentem contra as liberdades. Medidas que visem cercear a imprensa ou a liberdade de criação artística, como já ocorreu recentemente em nosso país.

Contra a tentativa de instaurar no Brasil uma "República Sindicalista"  inspirada na tirania. As liberdades vão sendo cortadas devagarzinho, passo a passo, até um dia em que acordemos num país sem estado de direito, sem garantia de propriedade, sem liberdade.

Espero nunca chegar a esse ponto porque acho que já há uma consciência sólida em boa parte do povo brasileiro de que a democracia é o melhor dos regimes.

Mas é bom estar atento.

Com a nossa participação ativa e constante, com a nossa união, vamos construir o país que queremos, o país que todos nós merecemos.

Este evento tem um caráter cívico porque estão aqui hoje empreendedores e lideres. É por isso que escolhemos dois temas importantes para a vida de todos nós:  

Para onde vai nossa economia, principalmente a economia do agronegócio. E convidamos para falar sobre esse assunto o professor Delfim Neto, uma das personalidades brasileiras com mais autoridade para nos dar uma aula sobre economia brasileira.

Creio que a vinda dessas duas magníficas personalidades, o professor Delfim Neto e o governador José Serra, aos quais quero apresentar os meus agradecimentos, é um presente e tanto para todos nós.  

Muito Obrigado."

Boletim Informativo nº 986, semana de 10 a 16 de dezembro de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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