Editorial O Estado de S. Paulo
Estimulado pela safra recorde que colheu e pelos bons preços internacionais, o agricultor está investindo mais do que nos anos anteriores e poderá obter resultados ainda melhores na safra que começou a plantar em outubro. Embora mostrem alguma divergência, estimativas feitas por órgãos do governo e por institutos privados coincidem num ponto: a agricultura prepara-se para quebrar novos recordes, agora não só de produção, mas também de renda. Os fatores que impulsionaram os preços no mercado internacional devem persistir por um bom tempo, o que já leva alguns economistas a falar em um novo ciclo de alta, que pode ser longo.
O efeito do otimismo no campo se espalha pelo País por causa do aumento da demanda de bens industrializados empregados na lavoura, que faz crescer o emprego nas cidades; do aquecimento do comércio varejista, que igualmente estimula a produção industrial; e, sobretudo, da redução do risco de alta dos preços dos alimentos, que pressionaram a inflação nos últimos meses.
Depois do anúncio do plano do governo americano de estimular a produção de etanol a partir do milho, os preços de alguns produtos de grande importância na agricultura brasileira explodiram. De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), em 12 meses até outubro o preço da soja subiu 75% em dólar na Bolsa de Chicago. A cotação do milho subiu 48% e a do trigo, 116%. A média dos preços desses itens deverá se manter muito alta nos próximos dois anos por causa da utilização do milho americano na produção de álcool e do aumento da demanda da China.
A exportação brasileira de milho em 2007 deverá alcançar o recorde de 9,5 milhões de toneladas. Quanto ao trigo, a produção, que alcançou o pico de 6 milhões de toneladas em 2004, mas se reduziu para 2 milhões de toneladas em 2005, recuperou-se em 2006 (4 milhões) e deve repetir o desempenho neste ano.
Na safra já colhida, a produção de grãos deve ter alcançado 131,5 milhões de toneladas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ou 133,8 milhões de toneladas, conforme o IBGE. Em qualquer dos casos, é um recorde. Para a safra 2007-2008, a Conab projeta uma produção entre 135 milhões e 138 milhões de toneladas. O IBGE, em seu primeiro prognóstico, prevê 138,1 milhões de toneladas. Economistas do setor privado fazem estimativas mais otimistas de até 143 milhões de toneladas. O levantamento da Conab estaria subestimado porque foi feito antes de o agricultor decidir o que iria plantar.
O aumento da área cultivada é um dos fatores que justificam as projeções de novo recorde da safra de grãos. Na safra passada, o recorde foi alcançado apesar da redução da área plantada (de 3,6%, segundo a Conab, ou de 0,3%, segundo o IBGE). Na nova safra, conforme projeção de instituições privadas, a área plantada deve aumentar 4,2%.
Outros indicadores também ajudam a compor um cenário muito positivo no campo. De janeiro a agosto, as vendas de fertilizantes foram 44,8% maiores do que as de igual período de 2006, de acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). No ano, as vendas devem totalizar 24 milhões de toneladas, um recorde. “Imaginávamos que haveria uma recuperação da agricultura de grãos, porém num prazo mais longo”, disse ao Estado há algumas semanas o diretor-executivo da Anda, Eduardo Daher.
As vendas de máquinas agrícolas, por sua vez, devem crescer 41% em 2007 e, no próximo ano, com o crescimento de 15% a 20% esperado pelas indústrias do setor, o total de unidades vendidas pode chegar perto de 42 mil (o recorde de vendas é de 2002, com 42,5 mil unidades). Desempenho semelhante está sendo registrado pelo setor de defensivos agrícolas. Estatísticas do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola mostram aumento de 44% nas vendas de defensivos em 2007, na comparação com 2006.
Esses resultados, é importante ressalvar, estão sendo alcançados apesar do pesado endividamento dos produtores, especialmente os da Região Centro-Oeste, da desvalorização do dólar e das péssimas condições das estradas brasileiras. Ao alcançá-los em meio a tantos problemas, a agricultura brasileira dá mais uma prova de sua força.
Editorial do jornal O Estado de S. Paulo,
de 12 de novembro de 2007