Paz no campo

 Jornal Gazeta do Povo

O “líder” sem-terra Valmir Mota de Oliveira, morto recentemente em Cascavel na invasão da fazenda da empresa de pesquisa agrícola Syngenta, era contratado por um programa da Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar) com salário de quase R$ 3 mil. A descoberta confirma que trabalhadores estranhos à agricultura são recrutados por movimentos de sem-terra, como o MST e a Via Campesina, com o intuito de substituir a negociação e o equilíbrio necessários na solução do problema agrário brasileiro pelas demonstrações de força que desrespeitam o Estado Democrático de Direito.

Com freqüência, a ação desses grupos, que se recusam a tratar de suas demandas pelo diálogo, termina em tragédias como a registrada na fazenda da Syngenta, em que duas vidas foram perdidas. Há no Paraná 86 propriedades rurais invadidas com ordens judiciais de reintegração à espera de serem cumpridas o que equivale a uma área de mais de 25 mil hectares.

A leniência do poder público abre caminho para confrontos que não trazem qualquer avanço efetivo para o verdadeiro trabalhador rural, aquele que vive da terra e que busca produzir em paz, longe dos conflitos típicos dos movimentos que dizem representá-lo mas que, como ficou evidente no episódio da Syngenta, preferem, para cumprir seus fins ideológicos, engordar suas fileiras com pessoas que não tem qualquer afinidade com o dia-a-dia rural.

Ao não promover a reintegração pacífica da posse nos casos determinados pela Justiça, as autoridades do estado alimentam confrontos como o da Syngenta e acabam por incentivar o preconceito generalizado contra os trabalhadores rurais de baixa renda. CPIs do Congresso e da Assembléia Legislativa já chegaram, em diferentes oportunidades, às mesmas conclusões: muitos grupos que dizem representar o homem do campo agem como milícias.

Promovem saques, vandalismos, torturas e até execuções, chegando a invadir e depredar instalações do Congresso, sob a complacência de autoridades e a tolerância da opinião pública.

As estatísticas mostram que a população rural encolhe em todo mundo e no Brasil não é diferente: de 40%, em 1970, ela foi reduzida para 18% na virada do milênio. É certo que não soubemos adotar mecanismos preventivos para esse êxodo. Assim, atender à pressão de grupos radicais para acelerar a reforma agrária promovendo o assentamento de milhares de pessoas sem vocação agrícola, equivale a criar nova dependência para elas e uma fonte de despesas para o poder público.

Muitos desses assentamentos acabam abandonados pelos detentores de lotes, que, sem preparo ou disposição para tarefas agrícolas, passam adiante suas posses, indo formar, mais adiante, novos acampamentos de reivindicantes da terra onde, rapidamente, formamse células de doutrinação revolucionária.É hora de paz no campo. É preciso que sociedade pressione o governo a dar um “basta” aos conflitos artificialmente arranjados, que apenas ampliam a distância entre o Brasil que aspira ser moderno, pacífico e democrático e aquele em que vigora a estagnação.

Editorial do jornal Gazeta do Povo do dia 30 de outubro de 2007

Boletim Informativo nº 981, semana de 5 a 11 de novembro de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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