Os ventos favoráveis à agropecuária, mais especificamente os
grãos, que devem alcançar uma safra recorde de 130 milhões de
toneladas, não devem levar o produtor a descuidar da gestão
profissional de seu negócio. Até por que é muito recente o cenário
obscuro das três últimas safras e há um passivo acumulado pela
combinação de anos de crise conjuntural e estrutural (a logística
subtrai renda do produtor), aliada ao câmbio desfavorável.
Há uma sinalização de retorno da rentabilidade nas principais culturas e um novo ciclo de expansão com a nova era das “energias alternativas”, tendo como matérias-primas o milho (álcool de milho) e óleos vegetais, no caso soja (biodiesel).
Mas para se manter competitivo, valem as máximas de
gerenciamento profissional, controle rigoroso do custo de produção,
busca de maior produtividade e qualidade do produto final.
Na tomada de decisão do produtor do que plantar é importante observar o conjunto de variáveis que se relacionam com a produção, tais como: preço, crédito (juros), custos, gestão, novas demandas e clima entre outras.
Existem alguns princípios básicos que devem pautar as tomadas de decisão:
1º - Não tomar decisões emocionalmente, não assumir riscos
elevados com base em situações de euforia.
2º - A tomada de decisões deve ter como base a racionalidade econômica;
aproveitar as oportunidades; administrar os riscos; buscar instrumentos
de comercialização como Mercado Futuro e Alianças Estratégicas;
aguardar as boas oportunidades de mercado e controlar custos de forma
rigorosa.
Resumidamente a agricultura atual é um segmento econômico para o qual é necessário ter “um craque ligado às finanças globais e um bom administrador junto à plantação de soja, milho ou trigo”;
Igualmente importante é a utilização de mecanismos de proteção de flutuação de preços, escapando, assim das quedas que ocorrem.
O produtor é refém da globalização financeira, não forma preços, mas ao contrário, é um tomador de preços e fica pressionado entre duas grandes forças, pelo oligopólio dos insumos e pelo oligopsônio (poucos compradores, inúmeros vendedores) das empresas transnacionais na comercialização do produto.
Fatores de
demanda a médio prazo – soja e milho
Entrou em cena um novo fator, a bioenergia ou biocombustível que passa a concorrer com a oferta de grãos para alimentação humana e proteína animal. Foi criada a expectativa de aumento da demanda por soja, decorrente da implantação de programas de bioenergia em vários países, baseada no uso de óleos vegetais como a soja.
Com relação ao milho, existem nos Estados Unidos 119 usinas de
etanol em produção e mais 86 em expansão ou
construção. Para 2007 há uma previsão de produção
de 35,8 bilhões de litros de etanol.
Previsão para a soja
O relatório de agosto do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) foi considerado positivo para o mercado da soja, porquanto reduziu as projeções da produção, consumo e dos estoques finais mundiais para a safra 2007/08.
Os números projetados para a safra norte-americana, no entorno de 71,4 milhões de toneladas, os estoques ajustados de 5,99 milhões de toneladas somados aos aspectos climáticos na fase de enchimento dos grãos, contribuíram para as oscilações registradas.
O preço da soja está 43% superior à média histórica dos últimos dez anos (US$ 13,23/saca). O USDA trabalha com preços para a safra 2007/08 entre US$ 15,98 e 18,28/(saca).
Em agosto, as cotações atingiram o patamar de US$ 19,19/saca, o preço máximo, não obstante a crise imobiliário nos EUA que acabou contaminando as bolsas mundiais e pontualmente as commodities agrícolas.
A tendência do mercado internacional é de continuar oscilando em consonância com as especulações sobre a o clima e a nuvem de instabilidade da crise financeira provocada pelas hipotecas de alto risco nos Estados Unidos.
Conforme o DERAL (SEAB) já foram comercializadas no Paraná 73% da produção estimada de soja (11,8 milhões de toneladas), ou seja, 8,6 milhões de toneladas até meados de agosto.
Os preços da soja no mercado doméstico paranaense estão nos maiores patamares desde setembro de 2004, com uma demanda externa aquecida, num momento de entressafra no Brasil e Argentina ao mesmo tempo em que a colheita ainda não começou nos Estados Unidos. A saca de soja no Paraná tem preço, na média, em R$ 35,0/saca, valor nominal não registrado desde o período áureo da soja, em 2004, quando as cotações alcançaram R$ 52,00/saca, com dólar a R$ 2,8600/US$.
Os prêmios de exportação no Porto de Paranaguá praticamente dobraram em relação ao mês de julho, passando para US$ 1,10/saca de 60 kg.
Previsão para o milho
O Departamento de Agricultura do Estados Unidos (USDA) revisou para cima as estimativas da produção norte-americana de milho na safra 2007/08, em 331,47 milhões de toneladas.
Um fator que chama a atenção refere-se ao fato de que os Estados Unidos plantaram mais milho do que em qualquer outra época desde a 2ª Guerra Mundial. Pelas informações divulgadas, os americanos plantaram mais do que a capacidade de armazenamento atualmente disponível, gerando necessidade de armazenamento e uma preocupação com a logística.
A queda de produção de milho na Europa, de 56 milhões de toneladas para 48 milhões de toneladas, elevou as necessidades de importação para atender as necessidades internas.
Foram exportadas entre fevereiro e julho, cerca de 3,75 milhões de toneladas de milho brasileiro. A meta é de exportar 8 milhões de toneladas, equivalente a uma exportação mensal entre agosto a janeiro/08 de 700 mil toneladas mensais.
Para dar suporte aos preços internos, o Brasil teria que atingir embarques mensais de 900 mil toneladas.
De acordo com Safras & Mercado, já foram fechadas
vendas de milho brasileiro das safras atual e da nova para o mercado
europeu com preço entre US$ 202,00 a US$ 204,00/tonelada
(correspondente entre R$ 22,50 a R$ 23,00/saca no Porto de Paranaguá).
O preço do milho brasileiro tem sustentação na demanda
européia. Ofertas no Norte do Estado a R$ 22,00/saca e
compradores a R$ 20,50/saca.
Previsão para o trigo
O USDA reduziu as projeções de produção mundial de trigo em 1,87 milhão de toneladas, passando para 610,4 milhões de toneladas, resultado dos problemas climáticos observados na América do Norte e na Europa. A escassez de trigo no mercado internacional reflete melhores preços ao produtor mais do que outra commodity.
Os preços do trigo no mercado interno, em agosto, são os maiores preços desde 1992.
A inexistência de oferta na Argentina e os preços recordes no cenário internacional dão sustentação para o comportamento favorável das cotações.
Os primeiros lotes da safra paranaense vêm sendo bastante disputados. Tal postura deverá conduzir o mercado a um pico de preços para setembro. No Paraná já foram colhidos 10% da safra nova e preços entre R$ 610,00 a R$ 620,00/tonelada.
Gilda Bozza Borges
Economista - DTE / FAEP