A turbulência que atingiu recentemente os mercados financeiros fez cair a cotação de produtos agroindustriais que respondem por até um terço das exportações brasileiras, mas não quebrou o ânimo dos produtores. Eles mantêm sua projeção de que, para o agronegócio, este deverá ser o melhor ano da história. Todo o País ganha com a recuperação do campo. Ela aumenta a oferta de alimentos, reduzindo as pressões inflacionárias, e tem impacto sobre a economia das cidades, porque impulsiona uma longa cadeia de produção e consumo, estimulando a atividade e a geração de empregos nos setores industrial e de serviços.
Se confirmadas as projeções da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea/USP), a renda do agronegócio neste ano será R$ 24 bilhões maior do que a do ano passado, chegando a R$ 564 bilhões. Este resultado superará o recorde histórico do setor, de 2004.
O setor agrícola está sendo beneficiado pelos bons ventos do mercado. Milho, soja e carnes são alguns dos produtos que apresentam os melhores resultados neste ano. O superintendente técnico da CNA, Ricardo Cotta Ferreira, atribui a alta do milho e da soja ao aumento da demanda externa para atender à produção de combustível. No caso da pecuária, a escassez da oferta no mercado internacional estimula as exportações da carne brasileira; no mercado interno, a entressafra e o aumento do abate de matrizes por causa da baixa rentabilidade do setor sustentam os preços. A combinação desses fatores alivia a pressão da desvalorização do dólar sobre o setor.
O desempenho das vendas externas de carnes tem sido notável. No acumulado dos sete primeiros meses do ano, as exportações dos vários tipos de carne foram 38,2% maiores do que as de igual período de 2006. É o resultado do aumento de 25,9% no volume exportado e de 9,8% nos preços. O aumento mais expressivo foi nas exportações de frango, que cresceram 51,5%; as de carne bovina e suína cresceram, respectivamente, 25% e 29%. No ano, o valor das exportações deve superar US$ 10 bilhões.
O aumento da demanda de milho nos EUA - onde é utilizado para a produção de etanol - impulsionou os preços e as exportações brasileiras do produto.
De janeiro a julho, nossas exportações de milho cresceram 220%. Em 2007, deverão alcançar o valor inédito de US$ 1 bilhão. O aumento da área plantada com milho reduz áreas para outros cultivos e para pastagens, razão pela qual faz subir também os preços de soja e derivados e da carne bovina, o que também beneficia o Brasil.
Mesmo assim, a CNA detectou uma queda brusca, em julho, no ritmo de expansão dos embarques de produtos agroindustriais, especialmente de açúcar e álcool.
O Ministério da Agricultura alega que, em julho de 2006, os embarques foram elevados porque estavam represados em conseqüência de greves dos funcionários da Receita e do Ministério, o que distorceu a base de comparação.
Por via das dúvidas, a CNA já reduziu suas projeções para as exportações do agronegócio. Antes dos dados de julho, ela projetava vendas de US$ 57 bilhões; agora, prevê exportações de US$ 55 bilhões, um número ainda bem superior ao total exportado em 2006, de US$ 49,4 bilhões. O Ministério da Agricultura ainda não viu necessidade de mudar sua projeção de exportações totais entre US$ 58 bilhões e US$ 59 bilhões.
Há três anos, a produção recorde gerou no campo uma euforia que teve conseqüências financeiras duras. Desta vez, os solavancos no mercado financeiro devem servir de alerta para os produtores.
O Brasil exporta produtos agropecuários e agroindustriais para o mundo inteiro. Mas países como os EUA, Holanda, China e Rússia são os maiores compradores de nossos produtos e, por isso, o crescimento de nossas exportações está diretamente vinculado ao desempenho dessas economias. As vendas de carne brasileira crescem rapidamente porque a economia mundial se expande e estimula o consumo de proteínas animais, o qual, por sua vez, depende do nível de renda da população dos países importadores.
Publicado em 27 de agosto de 2007