Cerca de dois mil produtores e lideranças rurais participaram na segunda-feira (27/08), no restaurante Madalosso, em Curitiba, do evento “Cenários e Perspectivas da Agropecuária”, promovido pelo Sistema FAEP e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
Na abertura do encontro, o presidente da FAEP, Ágide Meneguette, salientou a importância da realização do evento pela situação em que se encontra a agropecuária brasileira e, em particular, a do estado do Paraná. “Há uma crise sem precedentes motivada por desastres climáticos e pela apreciação do real. Prejuízos e dívidas foi o que restou para os produtores do segundo semestre de 2004 para cá. Nem a euforia das altas dos preços internacionais puderam reduzir o impacto de três safras de verão e duas de inverno com perdas abissais”.
Meneguette destacou os esforços da bancada ruralista em defender os interesses da agricultura nacional no Congresso, mas lembrou que a falta de infra-estrutura adequada e falhas no sistema de fiscalização sanitária animal agravam ainda mais a crise. “Tudo isso, política cambial, infra-estrutura sucateada e a crise no sistema de vigilância sanitária, precisa ser urgentemente objeto de ações firmes do governo. Por esta razão esperamos que os investimentos programados pelo governo dêem resultados no mais breve tempo possível”.
Para o presidente da FAEP, o agronegócio tem proporcionado ao Brasil saldos positivos. “Em alguns momentos, esses saldos foram decisivos para evitar a falência do País. Por isso, espero que, com esse encontro, se possa vislumbrar dias melhores para a agricultura do Paraná”, acrescentou.
Prestigiaram o evento o superintendente estadual do Banco do Brasil, Danilo Angst, presidente da Federação do Comércio do Estado do Paraná (Fecomércio), Darci Piana, presidente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), João Paulo Koslovski, secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos,
Rasca Rodrigues, representante da Federação das Indústrias do estado do Paraná (FIEP), Arthur Oscar K. Passos, chefe da delegacia Regional do trabalho (DRT-PR), Sérgio Barros, vice-presidente da associação Comercial do Paraná, Jaime Sunye Neto, os deputados federais Eduardo Sciarra, Ricardo Barros, Abelardo Lupion, Alfredo Kaefer e Rodrigo Rocha Loures, os deputados estaduais Augustinho Zucchi, Luiz Malucelli Neto, Antônio Anibelli, Edson Luiz Strapasson e Elton Welter.
O primeiro palestrante a falar foi o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes tranquilizou os produtores em relação à prorrogação das dívidas de custeio das safras 2003/04, 2004/05 e 2005/06. Em relação às dívidas de investimento, 70% do valor das parcelas que vencem este ano foi prorrogado para o final do contrato: “Dos outros 30%, 15% serão bonificados e apenas 15% efetivamente pagos pelo produtor”, explicou o ministro, esclarecendo que quem já pagou receberá o bônus na próxima parcela (mais informações na página 6). “O Senado entrou em crise. Dois partidos seguraram a votação. O que gerou uma instabilidade muito grande”.
Em sua palestra, o ministro também chamou a atenção para a capacidade da agropecuária brasileira em dar as respostas para a crescente demanda mundial em diversos setores: “O Brasil pode continuar crescendo muito. Pode melhorar o uso de áreas de pastagens e ganhos em produtividade, sem precisar derrubar árvores”.
O evento também contou com a participação diretor-geral da Itaipu Binacional, Jorge Samek, que apresentou programas de apoio ao desenvolvimento do setor agropecuário e de proteção ambiental. Samek destacou a importância de ações integradas na área de defesa sanitária animal, desenvolvidas com países vizinhos. “Vamos transformar a América Latina em área livre de febre aftosa e ganhar mercados”, afirmou.
Ele também ressaltou a realização do evento promovido pelo Sistema FAEP e Sebrae, como fundamental para o desenvolvimento do setor agropecuário. “Evento como este é exemplo do quanto crescemos e vamos crescer em termos de processamento de produtos e expansão do agronegócio. País nenhum se desenvolve, vendendo minério e matéria-prima para o exterior. Quando seremos, além de maiores produtores, os maiores transformadores de produtos?”, questionou.
Na palestra “Programas do governo do estado de apoio às médias e pequenas propriedades”, o secretário de Agricultura, Valter Bianchini (foto), falou da importância do Paraná retomar o crescimento da cafeicultura com novas variedades desenvolvidas pelo Instituto Agropecuário do Paraná (Iapar). “Devemos saltar de 100 mil para 140 mil hectares com café nos próximos anos”, disse. Ele também informou que são discutidas linhas de crédito para potencializar a cafeicultura no estado, como também, políticas e subsídios para cooperativas e prefeituras que investirão em lavouras de café.
No período da tarde, a cientista política Lucia Hippólito (foto) desenvolveu o tema “Situação política brasileira e suas perspectivas”. Num tom crítico, de forma clara e objetiva, a cientista analisou os principais dilemas que o Brasil precisa enfrentar daqui para frente: a intensidade da participação do governo nas instituições e a descentralização do poder. “Os governos passam e as regras precisam permanecer estáveis. O Estado vem se centralizando de forma absurda. Se não tomarmos as rédeas, a situação vai ficar complicada”, avaliou a cientista, enfatizando: “Está na hora das pessoas de bem voltarem a se interessar pela política”. Em sua avaliação sobre o governo Lula, Hippólito salientou a fala de oposição no cenário político brasileiro. “Governo de sem oposição é um mau governo, não tem crítica nem balizamento”. Ela aponta as eleições de 2008 como um importante preâmbulo para 2010. Fala que o debate no País está muito burro e finaliza com um questionamento aos presentes: “Que tipo de país nós queremos ser no século XXI?”
O senador Osmar Dias (foto à esquerda) encerrou a programação com a palestra “Análise da atual conjuntura política brasileira”. Na ocasião, ele lembrou que já foi acusado de defender o agronegócio. “Para mim, agronegócio é o agricultor familiar até o grande produtor”, afirmou.
Quanto à necessidade de uma reforma política no País, Dias reforçou o poder do voto dos cidadãos. “O sujeito é acusado por corrupção e é eleito de novo deputado. Que reforma política dá jeito nisso? O voto é a única arma que o cidadão tem para mandar esse sujeito de volta para casa”, concluiu.