Uma nova ameaça paira sobre os pomares de citros no Paraná. O Huanglongbing (HLB) ou greening, é considerada a doença mais severa dos citros em todo o mundo. No Brasil, foi identificado no Estado de São Paulo, em 2004, e também há registro de casos em Minas Gerais. No Paraná, a primeira ocorrência foi registrada no município de Altônia, região noroeste, em dezembro de 2006, e uma segunda ocorrência detectada em Sabaudia, região norte, em julho deste ano, provocaram reação em cadeia de produtores de todo o estado.
“Nós vamos fazer uma varredura de toda nossa área critrícola. São 4.500 hectares de laranja em 42 municípios da região norte do estado. Estamos definindo número de inspeções e também o tratamento químico”, afirma Benno Roes, gerente do Departamento de Fruticultura da Cooperativa Agroindustrial de Rolândia (Corol). Na região noroeste do estado, que concentra 14 mil hectares de produção de laranja, cerca e 6 milhões de pés, “em 70% dos casos, os produtores estão fazendo levantamento pé a pé. Até o final de setembro teremos levantado 100% da situação”, diz o produtor José Gilberto Pratinha, de Paranavaí.
Pratinha acredita que a adoção de medidas preventivas pode impedir que o quadro, no Paraná, se torne tão alarmante quanto em São Paulo, onde pomares inteiros foram inviabilizados por causa da doença, mas por outro lado, diz que sem o apoio do governo os produtores não vão conseguir impedir o avanço do HLB. ”O Estado precisa fazer a parte dele, está começando a fazer a parte dele, mas está muito lento. Tivemos uma reunião recentemente onde governador e secretário da Agricultura não se mostraram sensibilizados com a situação”, observa o produtor. De acordo com dados da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (Seab/Deral), o Paraná conta com uma área de 26 mil hectares de citros e uma produção de 400 mil toneladas de laranja e 210 mil toneladas de tangerina, o que representa 48% do volume de frutas produzidas no estado. Carlos Alberto Salvador, chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal do Defis/ Seab explica que em cada uma das regiões afetadas existe uma equipe de 10 técnicos supervisionada por três agrônomos fazendo varredura e mapeamento das áreas afetadas.
Manoel Luiz de Azevedo, agrônomo do Núcleo Regional de Umuarama explica que a SEAB montou uma força tarefa com a equipe, composta por servidores dos Núcleos Regionais de Umuarama, Maringá e Paranavaí e estabeleceu um raio de 5 km a partir da propriedade onde foi constatado o primeiro foco da doença, para a vistoria de todas as propriedades: “Foram realizadas 45 amostragens de plantas em 28 propriedades. Até o momento temos o resultado de 24 amostras, sendo 20 positivas para a doença (em 15 propriedades) e 4 negativas. O restante das amostras aguarda resultado laboratorial”. Já foram vistoriadas 95 propriedades (146.256 plantas, em 409 hectares), extrapolando o raio de 5 km, de acordo com Azevedo.
Na avaliação do produtor Pratinha é preciso mais. “O governo deve fiscalizar as mudas clandestinas que hoje entram no Estado à vontade e erradicar a Murta, planta ornamental presente em muitas cidades, que é hospedeira da bactéria”. Para ele, o que acontece nos pomares de São Paulo hoje é conseqüência da morosidade em ações do governo e do próprio setor produtivo. “Com certeza não vamos chegar a isso. Se os produtores continuarem o trabalho que vêm fazendo e Estado fizer seu papel, com certeza venceremos a doença. Mas se não fizermos a tarefa de casa, o greening ganha a guerra, e não podemos perder essa guerra”.
A respeito do controle da Murta, Salvador, do Defis, anunciou que está sendo montado um calendário de reuniões com prefeitos dos municípios produtores de citros para sensibilizá-los com relação à gravidade do problema: “Em Paranavaí, o prefeito já fala em legislação para erradicação das Murtas na cidade”. Ele lembra também que, de acordo com resolução estadual, é proibida a produção de mudas de Murta, transporte e comércio no Paraná.
Impactos – De acordo com os entrevistados ainda é cedo para se precisar os impactos econômicos decorrentes da doença. Uma coisa é certa, o trabalho de monitoramento vai aumentar os custos de produção. Roes, da Corol, não arrisca um número, mas Pratinha fala em um índice entre 15 a 20% de aumento. Outra conseqüência, na visão do produtor, é que muitos produtores devem deixar a atividade: “Não há mais espaço para amadores”. A produção de laranjas do Paraná é vendida in natura e também como suco concentrado, grande parte para exportação.
O Huanglongbing (HLB) é uma doença que teve origem no sudeste asiático e seu nome significa “doença do dragão amarelo” em razão da descoloração das folhas dos ramos dos citros, que ficam com uma cor amarelo-esverdeado. É transmitida pela bactéria Candidatus liberibacter por intermédio de um inseto sugador de seiva, denominado Diaphorina citri.
O inseto adquire a bactéria ao sugar uma planta contaminada, seja ela de citros ou de Murta. A bactéria sobrevive no aparelho bucal do inseto por todo o seu ciclo de vida (aproximadamente 60 dias). Toda vez que o inseto suga nova planta, ele transmite a bactéria. Dentro da planta, inicia-se um processo de multiplicação da bactéria nos vasos responsáveis pela translocação da seiva elaborada, responsável pela nutrição da planta, causando obstrução desses vasos. Com isso a planta começa a perder a coloração, passando do verde para a cor amarelada, iniciando o processo de morte, com seca de ponteiros, perda de folhas e de frutos. Produz frutos pequenos e defeituosos.
Além de medidas de conscientização e informação dos produtores por meio de palestras e material informativo, algumas medidas podem ajudar na prevenção e controle da doença:
- aquisição e plantio de mudas sadias
- execução de inspeções roineiras nos pomares
- eliminação das plantas de murta
- controle químico e biológico do
inseto vetor
- diagnóstico precoce de plantas
suspeitas
- erradicação de plantas doentes
- Não abandonar pomares
No caso de suspeita, o produtor deve procurar o Núcleo Regional da SEAB para coleta de material. Os técnicos informam que a análise fitopatológica exige laboratório com tecnologia específica. O custo do exame é de R$ 40,00 / amostra, que em um primeiro momento está sendo coberto por verba liberada pelo Mapa e/ ou pelo governo do estado nos casos de inspeções feitas pelas equipes da Seab.
Erradicação
A erradicação da planta se dá pelo retirada da planta inteira ou corte rente ao solo e aplicação de herbicida no toco. Não é necessário queimar a planta erradicada, já que após a retirada cessa a translocação de nutrientes, não mais atraindo o inseto vetor da doença. A pesquisa sugere que, na área onde houve a erradicação, não se plante novas mudas cítricas por um período de um ano, para evitar contaminação das novas plantas.