Autoridades sanitárias do Reino Unido confirmaram no dia 07 de agosto a existência de um novo foco de febre aftosa numa fazenda do condado de Surrey, no sul da Inglaterra.
O secretário de Estado britânico para Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais, Hilary Benn, afirmou que cerca de 100 reses, sacrificadas no dia 6 de agosto, após apresentarem sinais da doença, estavam infectadas. O segundo foco foi descoberto dentro da zona de proteção de 3km ao redor da fazenda onde o primeiro foco foi identificado.
Os setores agrícolas britânicos temem que a confirmação do segundo foco de febre aftosa leve à repetição da crise de 2001, que teve conseqüências catastróficas para a economia. A União Européia já proibiu as exportações de carne fresca, animais vivos e produtos lácteos da Grã-Bretanha. Os principais mercados mundiais decretaram um embargo à carne britânica. Isso pode abrir espaço para o produto brasileiro nos Estados Unidos, Rússia, Europa e Japão.
A Agência Sanitária Britânica afirmou em um relatório que é “muito provável” que a fonte do surto de febre aftosa seja um centro de pesquisa sobre animais doentes perto das duas fazendas contaminadas. O relatório menciona dois laboratórios vizinhos - um estatal e um privado franco-norte-americano - e não oferece detalhes.
O laboratório da Merial é apontado como a possível fonte do foco detectado na Inglaterra. Dois laboratórios do complexo Pirbright utilizavam uma amostra da doença para realizar pesquisas científicas e produzir vacinas. O centro está próximo à granja. No Brasil, a Merial tem indústria em Paulínea (SP).
Em nota, a Merial informou que as causas do foco são indefinidas, “sendo pura especulação as várias versões divulgadas pela imprensa internacional sobre o ocorrido”. A empresa comunicou que tem confiança na integridade dos seus processos de biossegurança - os mesmos seguidos em Paulínea (SP) - e que as investigações iniciais não mostram quaisquer falhas nesses procedimentos. A Merial suspendeu a produção viral da unidade de Pirbright.
Repercussão – O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, explicou que o Brasil não teme o contágio porque não importa animais vivos da Inglaterra e que avaliará “com muita tranqüilidade” as posições que adotará com relação a esse foco. “Temos de analisar isso com muita tranqüilidade, sem que tomemos as mesmas medidas precipitadas tomadas contra o Brasil e que não gostamos”, afirmou.
O secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, disse que o comércio de “alguns produtos” vindos do Reino Unido será suspenso temporariamente para evitar expor o rebanho brasileiro ao risco de contaminação por um foco de febre aftosa. Ele não citou quais serão as restrições comerciais serão adotadas.
Para o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira. o foco é uma prova de que quem mexe com gado está sujeito a esses acontecimentos.
Nogueira aproveitou para lembrar que o Brasil demonstrou honestidade quando denunciou os focos que teve. “Não tem porque a Europa menosprezar o rebanho brasileiro como vinha fazendo nos últimos meses”, acrescentou. Segundo ele, se ficar provado que o vírus saiu de um fabricante de vacinas, o Brasil também corre risco.
Para o consultor da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), Alexandre Antônio Jacewicz, o acontecimento na Inglaterra deve amenizar a pressão dos fazendeiros da Irlanda contra a importação da carne brasileira.