O País tem de avançar nesta área, sem medo, mas também com segurança. O Instituto Interamericano de Cooperação Agrícola (IICA), uma espécie de FAO para as Américas, realizou na semana passada, na Guatemala, uma importante reunião para debater o futuro do agronegócio no continente, destacando três temas relevantes para o setor: as mudanças climáticas, a agroenergia e a biotecnologia.
O tema da biotecnologia, que incorpora a transgenia, foi apresentado pelo dr. Victor Villalobos, cientista mexicano, que estimulou o debate. Vale a pena analisar alguns dados por ele assinalados.
Reafirmou a tese de que a agricultura continuará garantindo a segurança alimentar na mesma proporção em que cresce a população do planeta. Mas ressaltou que mais de 80% do crescimento da produção de alimentos se dará em terras agrícolas já cultivadas atualmente. Por isso, o dr. Villalobos defende a biotecnologia como um fator capaz de aumentar a produtividade por área, com justificativas óbvias:
a) a transgenia permite a incorporação, em novas variedades de plantas, apenas dos genes desejáveis, e não de todo o genoma;
b) isso permite reduzir significativamente o tempo para produção de novas variedades, comparado com o método convencional de melhoramento genético;
c) pode-se usar qualquer gene existente na natureza.
Não é por outra razão que o cultivo de produtos geneticamente modificados tem crescido muito desde 1996, quando os produtos entraram no mercado e a área plantada com eles no mundo todo foi de 2,8 milhões de hectares. Atingiu 102 milhões de hectares no ano passado, quando quase 10,3 milhões de agricultores de 22 países cultivaram os transgênicos, sendo que 90% deles estão em países em desenvolvimento, como China, Índia e Filipinas. Em geral, são pequenos produtores. Por outro lado, Estados Unidos, Argentina, Brasil e Canadá, plantaram 90 milhões de hectares de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e somaram quase 90% da área total com OGM.
Por que este crescimento?
Há claros benefícios: o uso de pesticidas em plantas transgênicas cai até 80%, limpando a área de ervas daninhas, o que possibilita melhor produtividade agrícola.
Desde 1996, o uso desses pesticidas caiu 224,3 milhões de toneladas, o que diminuiu a contaminação do solo e da água, reduziu a emissão de e garantiu melhor qualidade de saúde e de vida ao agricultor.
De acordo com o International Service for Acquisicion of Agri-biotech Aplications (ISAAA), só o algodão Bt (um tipo de transgênico) tem o potencial de diminuir 81 milhões de quilos de inseticida por ano, globalmente. Isto significa uma economia de 12,6 bilhões de litros de água!
Segundo Villalobos, os OGM, nesses 11 anos de cultivo, já produziram excedentes de US$ 27 bilhões pela redução de custos.
E termina afirmando que:
a) o risco de o produto transgênico causar danos à saúde humana é similar ao de qualquer outro produto de origem convencional;
b) se aos alimentos convencionais fossem aplicados os critérios de sanidade, inocuidade e biossegurança com o mesmo rigor aplicado aos transgênicos, é possível que muitos deles não seriam aprovados.
O essencial é que cada país tenha leis garantidoras da biossegurança. Hoje em dia, 60 países já têm tais leis, inclusive o Brasil, de modo a garantir o avanço científico e tecnológico que modernize a agropecuária, com benefícios econômicos para os produtores e socioambientais para todos. E mais, em sua nova fase, a transgenia incorpora melhores padrões nutritivos e até poderes medicinais em plantas.
São idéias e fatos que mostram a necessidade de avançarmos nesta área sem medo, mas com segurança. Não podemos ficar a reboque de outros países, porque isso implicaria pagarmos royalties a eles mais tarde. Nossos órgãos de pesquisa, como a Embrapa, Instituto Agronômico de Campinas (IAC), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Companhia de Desenvolvimento Tecnológico (Codetec), universidades, estão aptos a avançar, dentro de normas da nossa lei de biotecnologia.
Recente estudo da Unicamp indica que a cultura da soja geneticamente modificada no Brasil permitiu um ganho de US$ 14,4 bilhões nos últimos 10 anos, graças à redução dos custos de produção. Não podemos desperdiçar outros ganhos potenciais.
Afinal, como diz o grande mestre Ernesto Paterniani, avaliando os problemas da CTNBio: “Num mundo cada vez mais preocupado com a deterioração do ambiente e com o desenvolvimento sustentável, seria natural esperarmos dos reais defensores da natureza apoio integral a uma tecnologia que atende precisamente aos anseios da proteção ambiental. Mas o que assistimos são ações truculentas e fundamentalistas que somente atrasam a prosperidade nacional”.
*Roberto Rodrigues é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV (Fundação Getúlio Vargas), presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, professor de Economia Rural da Unesp (Jaboticabal) e ex-ministro da agricultura. (Publicado no jornal Gazeta Mecantil de 3 de agosto de 2007)