Cientistas brasileiros já desenvolvem
a primeira soja transgênica no país

Depois de dez anos de pesquisa conjunta entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a multinacional alemã Basf, foi anunciado na semana passada o desenvolvimento comercial de uma soja tolerante a herbicida, que é a primeira planta transgênica brasileira e deverá concorrer com variedades da empresa Monsanto. Boa parte das pesquisas foi feita no Paraná na Embrapa soja de Londrina.

Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, de 8 de agosto (edição 41567), assinada pelos jornalistas Lígia Formenti e Herton Escobar, traz toda história da pesquisa e desenvolvimento da primeira soja transgênica brasileira. Leia a seguir a matéria completa:

“Embrapa e Basf apresentam
1ª soja transgênica do Brasil

(Lígia Formenti, BRASÍLIA e Herton Escobar, SÃO PAULO)

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a multinacional alemã Basf anunciaram o desenvolvimento comercial da primeira planta transgênica brasileira: uma soja tolerante a herbicidas. O produto, já em estágio avançado, é resultado de dez anos de pesquisa desenvolvida em parceria pelas duas empresas e deverá concorrer com as variedades Roundup Ready (RR), da Monsanto.

Embrapa e Basf aguardam o fim de estudos simultâneos de avaliação da segurança alimentar e ambiental para pedir o registro do produto na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) - o que é esperado para o próximo ano. A idéia é colocar o produto no mercado até 2012.

A nova soja contém um gene da Arabidopsis thaliana (uma planta modelo de laboratório, utilizada em pesquisas no mundo todo) que confere resistência a uma classe de herbicidas chamada imidazolinonas. Dessa forma, o herbicida pode ser aplicado para o controle de ervas daninhas sobre toda a lavoura, sem prejuízo para a soja. As imidazolinonas são concorrentes diretas do glifosato, herbicida que é a base da tecnologia RR, da Monsanto - empresa que domina o mercado de plantas transgênicas no mundo. “Será uma opção bastante atraente para o agricultor do ponto de vista econômico”, disse o gerente-geral da Embrapa Transferência de Tecnologia , José Roberto Rodrigues Peres. Além do custo, ele observa que a soja transgênica usada no País (do tipo RR) já começa a apresentar indícios de tolerância. “Daí a importância de haver outros produtos”, disse. “Temos de ter uma segunda bala na agulha”, completou o diretor-executivo da Embrapa, José Geraldo Eugênio de França. “É bom que o agricultor não dependa de uma única tecnologia.”

Ainda sem nome comercial, a soja foi desenvolvida inteiramente no Brasil, sob a coordenação do geneticista e engenheiro agrônomo Elibio Rech, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. O gene (chamado ahas) é patenteado pela Basf, mas a tecnologia de transformação genética da planta foi desenvolvida por Rech e patenteada pela Embrapa. O cultivo das sementes transgênicas foi feito em dez áreas diferentes do País, para o desenvolvimento de sementes adaptadas a mais de um tipo de solo e clima.

“Ao lado do desenvolvimento da planta, foi preparado todo um pacote regulatório, um sistema de pesquisas para avaliar a segurança do produto”, contou o gerente de Biotecnologia da Basf, Luiz Louzano. Uma fábrica foi construída para verificar a segurança dos derivados do produto, como óleo e farelo.

Para Peres, o fato de os testes de segurança estarem sendo feitos no País podem contribuir “psicologicamente” para a rapidez na apreciação do processo na CTNBio. Algo que, em tese, não deveria fazer diferença. “Todos os países que integram a Organização Mundial do Comércio têm de seguir boas práticas laboratoriais, uma série de regras que garantem a segurança dos produtos”, disse. “E, quando um produto é considerado seguro, ele é seguro em todo o mundo”, completou Rech. “Estou feliz pelo Brasil.”

A expectativa, segundo Louzano, é que a nova soja possa ganhar 20% do mercado. Além de pedir o registro no Brasil, Basf e Embrapa pretendem que o produto seja registrado simultaneamente em mais de 20 países produtores de soja e seus derivados.

A Biotecnologica na pesquisa brasileira

O Brasil, mais uma vez, mostra seu potencial mundial na pesquisa e desenvolvimento da biotecnologia. A Embrapa por meio de uma parceria publico-privada desenvolveu a primeira planta transgênica brasileira.

Esta tecnologia inusitada apresentada pela Embrapa, vem oferecer ao produtores rurais, que optarem pelo uso da biotecnologia, mais uma ferramenta para o manejo de plantas daninhas na cultura da soja. Na atualidade, temos como única opção o uso das sementes de soja Roundup Ready, tolerante ao herbicida glifosato, o qual tem apresentado vantagens, identificadas pelo produtor, de custos e flexibilidade no manejo.

Com a alternativa da soja tolerante à herbicidas da classe imidazolinonas, o produtor poderá fazer a rotação de ingrediente ativo, procedimento fundamental no manejo de plantas daninhas, visando evitar a resistência das infestantes a determinado herbicida. A resistência ocorre quando utiliza-se um único ingrediente ativo (mecanismo de ação) para fazer o controle das ervas indesejáveis durante vários anos seguidos, aumentando a pressão de seletividade de indivíduos resistentes. A possibilidade de uso da tecnologia apresentada pela Embrapa também apresentará benefícios econômicos, uma vez que os herbicidas do grupo imidazolinonas concorreria diretamente com o glifosato, base tecnológica da Monsanto, pressionando uma redução de preço dos herbicidas.

O desenvolvimento desta tecnologia inevitavelmente terá a cobrança de royalties. no entanto, parte destes recursos serão direcionados para nossa pesquisa, uma vez que a Embrapa receberá estes recursos por participação no processo, fortalecendo os avanços tecnológicos.

A agricultura brasileira, em um primeiro momento, possuía um modelo tecnológico rústico, muitas vezes adaptando técnicas de fora. Em 1973, com o surgimento da Embrapa passamos para um segundo nível, desenvolvendo modelos próprios adequados as condições tropicais. Agora estamos entrando em um terceiro patamar de crescimento, só possível com o advento da biotecnologia.

Sem dúvida nenhuma estamos passando por uma nova revolução, consolidando o país como uma das grandes potências na produção de alimentos e fibras.

M.Sc. Silvio Krinski Engenheiro agrônomo

Boletim Informativo nº 969, semana de 13 a 19 de agosto de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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