O Programa Empreendedor Rural (PER) foi destaque na
edição de terça-feira, 31 de julho, do jornal
Folha de São Paulo. Sob o título ‘Programa forma
empresários no campo’ o repórter André
Palhano falou sobre a iniciativa paranaense que, agora, ganha
adesão de outros 13 estados. São também de
produtores paranaenses os exemplos usados para ilustrar de que maneira
o Programa pode alavancar o desenvolvimento do setor
agropecuário. No Paraná, o PER foi a campo em 2003 e
é fruto da parceria entre SENAR-PR, Sebrae, Fetaep e FAEP. Mais
de 14 mil produtores rurais participaram da primeira fase do Programa e
outros mil concluíram a terceira fase, de desenvolvimento de
lideranças. Acompanhe, na íntegra, a matéria
publicada na Folha de São Paulo:
“... Após um bem-sucedido embrião no Paraná,
o PER (Programa Empreendedor Rural) começa a ganhar terreno.
Está sendo levado, com o apoio da CNA
(Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil), para mais 13 Estados e o Distrito Federal.
Fruto de uma parceria entre o Senar (Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural), ligado à CNA, e o Sebrae (Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), com a
participação de entidades locais, o programa busca
estimular o empreendedorismo no campo, incentivando a
implementação de projetos rurais e ensinando os
produtores a avaliar a viabilidade e a sustentabilidade
econômico-financeira e ambiental de cada um deles.
O objetivo, segundo um dos idealizadores do programa, o engenheiro
agrônomo Fernando Peres, é fomentar uma
“visão empresarial” no segmento rural, sobretudo
para os pequenos e médios produtores, que mais carecem desse
tipo de informação.
“Não importa se o que a pessoa faz é plantar uva,
criar cabras ou explorar o turismo rural. O que ensinamos no programa
é como montar um projeto de negócios, se esse projeto
é viável e se tem algum futuro”, afirma o
agrônomo.
O fato de muitas vezes o produtor rural não enxergar o que faz
da terra como um empreendimento, diz ele, figura hoje como um problema
importante na agricultura de pequeno e médio porte no Brasil.
Além de enfrentar uma concorrência geralmente desleal, por
exemplo, na hora de negociar com seus fornecedores, esse produtor
é um dos responsáveis pela depredação
ambiental no campo.
“Ao enxergar o negócio como um empreendimento e avaliar
suas condições de viabilidade e sustentabilidade no
médio e longo prazos, questões como a
proteção e a recuperação do solo passam a
ser atributos de maior relevância para esse produtor”,
afirma Peres.
Treinamento em etapas - O Programa Empreendedor Rural é dividido
em três etapas distintas. Na primeira, os produtores recebem
treinamento sobre a estrutura e o desenvolvimento de um projeto, com
base no conhecimento de cada um. É nessa fase que os produtores
também aprendem a avaliar a viabilidade e a sustentabilidade de
seus projetos no médio e longo prazos.
“O instrutor que está dando o treinamento sabe apenas
montar projetos. Capacitação técnica para o
produtor rural plantar ou explorar o solo não entram aqui, mas,
sim, como montar um negócio viável e como buscar
informações para tanto”, explica a coordenadora da
área de Desenvolvimento e Avaliação do Senar,
Patrícia Gomes.
Quem passa nos testes de viabilidade entra para a segunda fase, de
implementação efetiva dos projetos. Nesse momento recebe
treinamento, por exemplo, sobre como trabalhar em grupos para
potencializar as chances de implementação desse projeto,
criando uma central de armazenagem comum, organizando grupos para
demandar a melhoria de uma estrada local no poder público, entre
outros.
A terceira fase se caracteriza pela seleção e pela
formação de lideranças, agregando o conceito de
“capital social” ao segmento rural. “São
pessoas que se destacam como líderes naturais durante as fases
anteriores e que recebem treinamento específico para atuarem
como líderes, seja na organização de grupos para
negociar de maneira conjunta uma produção, para demandar
ações ou simplesmente para representar determinada
atividade ou região na sociedade”, diz Peres.
Empreendedores rurais - Entre os mais de 15 mil produtores rurais que
receberam treinamento no Paraná, onde o programa vem sendo
aplicado desde 2003, há casos como o do empreendedor José
Claudimar Borges, de Realeza, que, com base no PER, iniciou um projeto
de caprinocultura com aproximadamente 60 animais e, poucos anos depois,
contava com uma produção de mais de 500 animais.
Como resultado do treinamento que recebeu nas demais fases do
programa, Borges participou ativamente de projeto associativo para
criar um condomínio de terminação para receber
animais de pequenas propriedades. E ainda do de um frigorífico
com linha de abate e sala de processamento, corte e beneficiamento de
carnes.
A agricultora Juliana Duarte da Cruz, de Itaúna do Sul, é
outro exemplo de empreendedora. Ao passar pela primeira fase do
programa, sua família estava prestes a perder a terra por conta
de dívidas acumuladas após anos de produção
de mandioca em um ambiente de preços desfavorável.
Decidiu tocar um novo projeto, de sericultura, e, com a renda obtida,
quitou todas as dívidas da família. “Foi no
programa que eu comecei e foi por ele que a vida de minha
família mudou totalmente”, relatou a empreendedora em um
evento recente.
“Saber avaliar a viabilidade de uma produção
é algo fundamental no campo hoje em dia. Quanto mais cedo um
produtor ver as chances que ele tem com o seu negócio, ou mesmo
de constatar que aquilo não tem futuro, melhor”, resume
Fernando Peres.
Limitações - Apesar do crescimento que
experimentará a partir de agora, com a
implementação de projetos pilotos em diversos Estados
brasileiros, o Programa Empreendedor Rural também tem as suas
limitações. A mais importante delas, segundo os
especialistas, refere-se à sua abrangência de
atuação, na medida em que exige uma
formação escolar mínima dos produtores. Como o
grau de escolaridade média no setor rural brasileiro é
muito baixo, isso se destaca como um limitador importante. Outro
é o elevado custo de formação e treinamento dos
instrutores e dos produtores rurais, um trabalho que demanda
revisões e reavaliações
periódicas.