Endividamento rural representa
80% do PIB agrícola brasileiro

A crise que atingiu a zona rural nas duas últimas safras levou os produtores rurais a um endividamento de R$ 73,4 bilhões, valor que representa cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola. (Confira o Boletim Informativo 965). Os dados são do Banco Central e, segundo o pesquisador Gervásio Rezende, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) - órgão ligado ao Ministério do Planejamento -, a relação dívida/PIB é a maior da história do País. ‘’E há quem diga que esses dados estão subestimados’’, afirmou, segundo divulgou o jornal Folha de Londrina semana passada (25/07). O Ministério da Agricultura estima, no entanto, numa dívida total de R$ 131 bilhões.

    A política agrícola foi discutida no 45º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober), evento realizado no campus da Universidade Estadual de Londrina (UEL) de 22 a 25 de junho. Conforme dados apresentados, de 1995 a maio deste ano, a dívida total dos agricultores (comercialização, custeio e investimentos) cresceu mais de 70%. Em 95, o total do débito era de R$ 42,3 bilhões, enquanto até maio o valor chegava a R$ 73,4 bilhões. Este total (até maio de 2006) está dividido em R$ 4,1 bilhões (comercialização), R$ 30,6 bilhões (custeio) e R$ 38,6 (investimentos).

    No entanto, a maior parte deste volume foi contraída antes da crise da agricultura (das safras 2004/05 e 2005/06). Neste período, dizem os especialistas, houve a combinação de preços baixos e quebra de safra em função da estiagem. Mas as dívidas foram contraídas na fase de euforia, que ocorreu após a desvalorização cambial de 99 que elevou os preços agrícolas e gerou muita expectativa. Gervásio Rezende acrescentou que foram assumidos endividamentos, a longo prazo, para investimentos, principalmente de frota e modernização, diminuindo a capacidade de pagamento dos agricultores.

    O pesquisador acrescentou que a relação dívida/PIB aumentou porque foi favorecida pela queda do PIB (devido às produções menores) e aumento do endividamento (agravado pela crise). ‘’Agora o aumento da safra e dos preços vai trazer um alívio para o setor’’, argumentou. Por isso, Rezende defende um risco solidário entre agricultores e indústrias. ‘’Não é só o setor agrícola quem deve ficar com os encargos. As indústrias devem ter responsabilidade solidária porque também são beneficiados quando a agricultura vai bem, as indústrias têm muitos benefícios e isso tem que mudar’’, salientou.

    Ele explicou que as montadoras abriram seus bancos de financiamento e recebem linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar seus produtos.           

Boletim Informativo nº 967, semana de 30 de julho a 5 de agosto de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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