O agronegócio tem-se mostrado extremamente competente ao
produzir dentro da porteira, mas vulnerável às
decisões que o país adota para os produtos
agrícolas. Enquanto os produtores respondem com aumento de safra
e de produtividade, o governo federal busca soluções
definitivas para antigas pendências, como o endividamento
agrícola e a sanidade animal e vegetal. Esses são dois
dos principais pontos de uma agenda de trabalho, posta em
prática pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento.
Na defesa sanitária animal, é inaceitável perder
bilhões de reais por falta de um bom controle sanitário,
seja na febre aftosa, na brucelose ou na tuberculose dos animais. Na
área vegetal, a ferrugem asiática trouxe um
prejuízo de R$ 2,19 bilhões, na última safra.
Outro ponto da agenda se refere ao seguro rural contra efeitos adversos
do clima. A solução sugerida por especialistas é a
formação de um Fundo de Catástrofe, cujo projeto
de lei, elaborado pelos ministérios da Fazenda e da Agricultura,
ouvindo os segmentos seguradores e a área rural, encontrase
pronto para ser enviado ao Congresso Nacional.
A infra-estrutura e a logística são também, duas
preocupações da agenda. Sem esquecer as rodovias,
será preciso, ainda, intensificar os investimentos em hidrovias
e ferrovias. O mesmo nível de preocupação
são os investimentos nos portos, visando a tarifas mais
competitivas. Por outro lado, é necessária a reforma do
sistema de serviços de cabotagem.
Por exemplo, o custo de transporte do Sul para o Nordeste é
superior ao do Brasil para a China. Sobre esses itens, ou seja,
infra-estrutura, logística e cabotagem, há estudos
prontos, e o processo de decisão está sendo encaminhado.
O endividamento do setor agrícola, estimado em torno de R$ 100
bilhões, é outro tema da agenda. Para o endividamento,
que vem desde o início dos anos 1990, muitos pontos
contribuíram, desde adversidades climáticas a planos
econômicos.
Para encontrar uma solução, uniramse os
ministérios da Agricultura e da Fazenda, o Banco do Brasil, o
BNDES, representantes das Comissões de Agricultura do Senado e
da Câmara de Deputados, e convidados. A expectativa é de
que dessa união surjam critérios que diferenciem
produtos, regiões e produtores. O produtor rural tem provado
que, quando pode e tem renda, honra seus compromissos.
As negociações internacionais, também, fazem parte
das prioridades do Ministério. A Organização
Mundial de Comércio precisa ser mais favorável aos nossos
produtos para reduzir tarifas de proteção, estimadas de
15% a 65% na China; de 30% a 270% na União Européia; de
12% a 350% nos Estados Unidos; e de 40% a 182% na Índia, entre
outras.
A bioenergia é outro ponto da agenda de prioridades. Em 2007, a
produção já cresceu 11,2 por cento. As estimativas
de expansão indicam a utilização de uma
área adicional de até 10 milhões de hectares, na
próxima década - um percentual pequeno, no conjunto dos
300 milhões de hectares utilizados pela agricultura e
pecuária.
De qualquer forma, devemos acompanhar a expansão da
cana-de-açúcar e das oleaginosas utilizadas para o
biodiesel.
Para isso, são necessários o zoneamento e o
estabelecimento de critérios socioambientais. Entre as
prioridades está, ainda, o nível da taxa de juros ao
crédito rural e sua importância para o uso de tecnologia
no campo. Há quase dez anos, o governo fixou os juros para o
setor em 8,75 por cento. Como a inflação caiu e o mesmo
ocorreu com a taxa Selic, é natural esperar que os juros rurais
sejam reduzidos também, como está acontecendo agora.
O último ponto da agenda de prioridades trata dos insumos
agrícolas. Na área dos defensivos, um grupo de trabalho
coordenado pela Casa Civil revisou o decreto que tratava do uso dos
produtos. Como resultado, observouse, já na safra 2006/2007, a
redução de, em média, 15% nos preços em
relação à safra anterior. Progrediuse muito,
graças às novas regras e à aceitação
dos genéricos. E, embora esforços ainda precisem ser
feitos, o assunto está bem conduzido.
Dentre os insumos, os fertilizantes têm um papel
estratégico. Hoje, a demanda nacional é de 22
milhões de toneladas, e, desse total, produzimos somente 9
milhões de toneladas. Em 2015, a demanda será de 30
milhões, e, mantida a capacidade instalada da indústria,
teremos que importar mais de 20 milhões de toneladas. Um grupo
de trabalho foi incumbido de encontrar uma saída para romper
essa dependência.
Essa agenda de prioridades não pertence ao Ministério da
Agricultura, tampouco ao ministro. E, sim, a todos que, de alguma
forma, são responsáveis pelo nosso desenvolvimento.
Isto inclui governos, a classe política, sindicatos, associações, cooperativas e produtores.
*Reinhold Stephanes é ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Artigo publicado no jornal O Globo de 28 de junho de 2007)