Uma questão
de equilíbrio

Certas atividades industriais acham-se intensamente prejudicadas pela apreciação da moeda nacional em relação ao dólar norte americano. Aquelas dependentes diretamente de exportação não conseguem manter a hegemonia do negócio, pois exportam em moeda estrangeira e recebem internamente em reais. A defasagem que se formou aos poucos, pois essa valorização da moeda interna ocorre há largo tempo, já foi o suficiente para descapitalizar certos setores da produção industrial, gerando dificuldades de monta.

Na realidade, somente aquelas áreas da produção de exportação que também estejam voltadas para o mercado interno é que poderão buscar escapatória. Porém, o setor primário representado pela agricultura e a pecuária, principalmente aquelas atividades específicas ocupadas na exportação, como soja e carnes, vêm amargando a ausência de lucro, há muito tempo. A falta de lucratividade em qualquer atividade gera possibilidade de quebra iminente. Esse fato se torna mais grave quando envolve negócio que dependa de financiamentos, e assim, por via de conseqüência, obrigue ao enfrentamento das clássicas elevadas taxas de juros remuneratórios do capital praticadas no país. O binômio ausência de renda e elevado grau de endividamento define uma situação insustentável. Somente medidas certas, oportunas e mesmo excepcionais é que poderão alterar o quadro, possibilitando a restauração do setor produtivo campesino.

Duas frentes bastante claras se descortinam na espécie. Uma delas, a dívida rural, incompatível com o ganho da produção nos últimos anos, ao menos a partir de 2003. A outra, talvez a mais preocupante, a ausência de renda da atividade agropastoril, considerando-se para tanto a quantidade imensa de brasileiros que labutam no campo. Os fatores que desencadearam o momento atual mostram-se claros, pois vão desde o encarecimento dos insumos até os elevados juros. Mas, o elemento básico, constante e presente em qualquer equação individual pertinente à produção é a ausência de renda, seja qual for a espécie, umas mais outras menos, mas o traço comum a todas é a descapitalização crescente e continuada.

Asolução das dificuldades criadas passa obrigatoriamente pela restauração do equilíbrio da balança cambial, permitindo a competitividade dos produtos nacionais, pois de nada adianta os bons preços das commodities lá fora, em moeda estrangeira, quando aqui dentro o produtor recebe em moeda nacional. A Resolução Bacen 3460 transfere o vencimento das parcelas da dívida para julho e agosto, o que apenas retarda o desfecho da questão.

Djalma Sigwalt é advogado, professor e consultor da
Federação da Agricultura do Paraná - FAEP   -   djalma.sigwalt@uol.com.br

Boletim Informativo nº 964, semana de 9 a 15 de julho de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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