O senador Osmar Dias (foto) disse que o governo federal descumpre a
lei ao legitimar a Instrução Normativa nº 27,
editada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra) em 2006, que trata da ratificação
e da desapropriação de áreas rurais.
O senador paranaense, que discutiu o tema no dia 27 de junho em
audiência pública na Comissão de Agricultura e
Reforma Agrária do Senado, em Brasília, disse que o
governo se vale de dados antigos para propor
desapropriação de terras produtivas em nosso País.
“A base de dados do Incra tem informações do Censo
Agropecuário de 1996 com números defasados e não
confiáveis e ainda não leva em conta o trabalho da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa,
órgão de indiscutível competência”,
alertou.
A IN nº 27 permite que o processo de ratificação da
titularidade leve em conta os índices de produtividade das
áreas - graus de utilização da terra (GUT) e de
eficiência na exploração (GEE), ambos aplicados nos
procedimentos de desapropriação para fins de reforma
agrária. “É um processo de
verificação inadequado, porque afere exclusivamente a
produtividade física da terra, sem levar em conta o
aproveitamento do espaço disponível para a
diversificação de culturas. O Incra não considera
a racionalidade econômica e ambiental e a sustentabilidade
econômica de quem produz”, completou.
Para o senador, o critério do governo é equivocado. Na
pecuária, por exemplo, o Incra considera a unidade animal como
item de produtividade. “Se um produtor tem uma vaca que produz 30
litros de leite por dia ela vale o mesmo que a de outro produtor que
tenha um animal que produza 1 litro. É preciso modernizar este
critério”, disse.
Dias ainda ressaltou que o parâmetro de análise de
produtividade adotado pelo Incra e legitimado pelo governo federal se
contrapõe ao que prevê a Constituição
Federal e o Estatuto da Terra. “O Estatuto da Terra determina que
os imóveis devem ser explorados de acordo com suas
possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio.
Há também a Lei 8.629/1993 que determina que os
índices de produtividade sejam estabelecidos desde que
contemplem simultaneamente o aproveitamento racional e adequado da
propriedade e de desenvolvimento regional. Isto também
está previsto na Constituição Federal, no
capítulo que trata da Política Agrícola e
Fundiária e da Reforma Agrária”, observou.
De acordo com a lei 8629, de 1993, os parâmetros, índices
e indicadores que informam o conceito de produtividade devem ser
ajustados periodicamente. Porém, dados do próprio Incra
dão conta de que os índices de produtividade não
são atualizados desde 1980. “Não podemos admitir
que os avanços da tecnologia na agricultura em 27 anos
não sejam levados em conta pelo governo”, ressaltou Dias.
Reforma Agrária - Osmar Dias considera que o governo federal
pode acelerar a reforma agrária se destinar as grandes
quantidades de terra que já estão em nome da União
e se der prioridade a obtenção de terras pelo processo de
aquisição de imóveis rurais. “Até
junho deste ano, 72 milhões de hectares de terra foram
destinados a projetos de reforma agrária, mas até agora
ninguém sabe o quanto e nem o que é produzido nesses
assentamentos. A reforma agrária é necessária, mas
não pode penalizar a quem produz”, concluiu.