Havia espaço para o Governo reduzir mais a taxa dos juros agrícolas. Mas o novo Plano de Safra, anunciado na quinta-feira, 28 de junho, manteve as linhas do crédito agrícola em um patamar de “juros de mercado”, 6,75% ao ano para o custeio, o que pouco ajuda para quem está endividado e com a renda comprometida por causa da atual taxa de câmbio. O presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), Ágide Meneguette, alerta ainda que “não adianta reduzir os juros se não houver rolagem de dívidas – simplesmente por que os bancos não fazem novos empréstimos para o produtor que tem débitos pendentes”.
O Plano de Safra foi anunciado pelo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e pelo presidente Luis Inácio Lula da Siva. Tanto o ministro como o presidente disseram que, em relação ao endividamento do produtor rural, estão sendo finalizados estudos técnicos para a rolagem de dívidas conforme o produto plantado, o histórico do produtor e da crise regional. “A solução, tecnicamente viável, está a caminho”, garantiu Stephanes.
Quanto ao Seguro Rural, o ministro disse que um projeto de lei,
prevendo a formação de um Fundo de Catástrofes
está pronto para ir ao Congresso. Também afirmou que
há estudos sobre mudanças na navegação de
cabotagem – o setor privado sugere a abertura para navios de
bandeiras estrangeiras – por que, segundo o próprio
Stephanes, “é inacreditável que os custos para
transportar da região Sul para a região Nordeste sejam
maiores do que para mandar mercadorias para a China”.
Em relação aos juros, a expectativa
era de que a queda da inflação e as sucessivas baixas na
taxa Selic chegassem nessa safra aos produtores rurais, o que foi
insistentemente defendido pela FAEP junto aos ministérios da
Agricultura e Fazenda. A redução da taxa Selic foi de 48%
entre 2003 e 2007, enquanto a TJLP caiu 40% no mesmo período.
Já os juros de custeio para o produtor rural estavam congelados
em 8,75% ao ano, há nove anos, e havia “gordura”
para queimar (ver quadro 1). Na análise do Departamento
Técnico-Econômico da FAEP, era possível
tranquilamente baixar os juros de custeio para 4,5%. Mas os juros
anunciados, somados à política cambial
desfavorável, continuam sendo um inibidor para a expansão
dos investimentos e melhoria da competitividade do agronegócio
brasileiro, que enfrenta agricultores de outros países
fortemente subsidiados pelos seus governos.
Dos R$ 58 bilhões para a agricultura
comercial, R$ 49,1 bilhões vão para custeio (compra de
insumos) e a comercialização, e R$ 8,9 bilhões
para programas de investimento (compra de máquinas e
equipamentos) segundo informou o Ministério da Agricultura.
O total de recursos para taxas de juros definidas
pelo governo (controladas) será de R$ 36,45 bilhões, 21%
a mais em relação ao programado na safra anterior. Os
juros controlados são a diferença que o governo paga ao
agricultor, caso a taxa de mercado fique acima do estabelecido em lei.
Veja um resumo das principais medidas do Plano de Safra 2007/08:
Crédito - O valor do crédito rural destinado à
agricultura empresarial é de R$ 58 bilhões, um
acréscimo de 16% em relação à safra
anterior. Destes, R$ 49,1 bilhões para custeio e
comercialização e R$ 8,9 bilhões para os programas
de investimento.
Juros – A taxa anual de juros controlada, em vigor desde julho de
1998, foi reduzida de 8,75 para 6,75%. Segundo o governo, a nova taxa
representa uma diminuição de 22,9% nos custos destes
financiamentos para o produtor rural. O total de recursos com taxas de
juros controladas será de R$ 36,45 bilhões, um
acréscimo de 21% em relação ao programado para a
safra anterior.
Financiamentos - O plano ampliou os limites de financiamento de
custeio, investimento e empréstimos do Governo Federal (EGF).
Para lavouras irrigadas de arroz, feijão, mandioca, sorgo ou
trigo e milho, o limite aumentou de R$ 400 mil para R$ 450 mil. O
limite de financiamento para pecuária bovina e bubalina,
leiteira ou de corte, foi ampliado de R$ 140 mil para R$ 150 mil. Para
avicultura e suinocultura exploradas em sistemas que não o de
parceria, o limite aumentou de R$ 120 mil para R$ 150 mil. No caso de
investimentos, demais custeios ou comercialização, os
limites subiram de R$ 80 mil para R$ 100 mil.
Investimento – Os programas de financiamento coordenados pelo
Ministério da Agricultura, com recursos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos Fundos
Constitucionais, contarão com um total de R$ 8,9 bilhões,
ante R$ 8,6 bilhões na safra 2006/2007.
O número de programas de investimento com recursos do BNDES caiu
de oito para seis, sendo que o Moderagro, Proderagro e Prodefruta foram
consolidados num único programa, denominado Moderagro II, de
forma a aprimorar sua operacionalização. O limite de
crédito por operação no Moderagro II será
de R$ 600 mil. Os demais programas de investimento são:
Moderinfra, Prodecoop, Propflora, Moderfrota, Prolapec,
Proger-Investimento e Finame Agrícola Especial.
Proger Rural - Para fortalecer a média agricultura, o governo
baixou a taxa de juros do Programa de Geração de Emprego
e Renda Rural (Proger Rural) de 8% para 6,25% ao ano. O volume de
recursos foi ampliado de R$ 700 milhões na safra anterior para
R$ 2,2 bilhões. Para enquadramento no programa da safra
2007/2008, o produtor deve ter uma renda bruta anual de até R$
220 mil, contra R$ 100 mil definido na safra 2006/2007. O limite de
crédito também foi ampliado de R$ 48 mil para R$ 100 mil
por beneficiário, tanto para custeio quanto para investimento.
Comercialização – Em 2007 o governo fará
leilões de equalização de preços, antes do
plantio, de modo a garantir aos produtores a
comercialização de suas safras em 2008, a preços
estabelecidos com base em estimativas do custo variável.
Preços Mínimos – Para produtos amparados por
Aquisições do Governo Federal (AGF) e EGF, o Plano de
Safra contempla aumento dos preços mínimos vigentes, em
nível regional e nacional, para diversos produtos.
Títulos Privados – O governo continuará empenhado
no fortalecimento do sistema privado de financiamento do
agronegócio. As operações realizadas com os
três principais títulos privados de crédito
já movimentaram um valor estimado em R$ 6,7 bilhões.
São os títulos Certificados de Depósito
Agropecuário e Warrant Agropecuário (CDA-WA), os
Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio
(CDCA) e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA).
Seguro Rural – O governo aumentou as subvenções ao
prêmio do seguro rural, de R$ 31,1 milhões em 2006 para R$
100 milhões em 2007. O objetivo é ampliar a
abrangência do sistema brasileiro de seguro rural, atualmente da
ordem de 2,4% da área plantada. Dificuldades estruturais
relacionadas com o Fundo de Estabilidade do Seguro Rural e o
monopólio do mercado de resseguros, recentemente eliminado,
aliado à falta de tradição do produtor em
contratar o seguro, são alguns dos entraves apontados pelo
governo para a ‘fragilidade’ do sistema.
Fundo de Catástrofe - Como forma de superar as mencionadas
restrições à expansão do seguro rural, o
governo aumentou as subvenções ao prêmio do seguro
rural e está encaminhado ao Congresso Nacional um Projeto de Lei
que substitui o atual Fundo de Estabilidade do Seguro Rural por um
Fundo de Catástrofe. Este terá suporte financeiro
assegurado por meio de subvenção econômica anual do
Ministério da Agricultura e garantia da União, em
títulos do Tesouro Nacional a serem depositados em
instituição financeira federal.
PLANO AGRÍCOLA 2007/2008 | 2006/07 | 2007/08 | VARIAÇÃO |
I. Custeio e Comercialização I.1 a Juros controlados I.2 a Juros livres II. Investimentos III. Agricultura Empresarial (I + II) IV. Agriultura Familiar (Pronaf) V. Agriultura Total (III + IV) |
41.400 30.100 11.300 8.600 50.000 10.000 60.000 |
49.100 36.450 12.650 8.900 58.000 12.000 70.000 |
18% 21% 12% 7% 16% 20% 16% |
Infra-Estrutura – O governo está criando um Grupo de
Trabalho para propor decisões referentes a infra-estrutura e
logística, com o objetivo de fortalecer a
participação da agricultura no Plano de
Aceleração do Crescimento.
Endividamento Rural – O governo aprovou a adoção de
efeito suspensivo, até 31 de agosto de 2007, das parcelas das
dívidas de investimento vencidas e não pagas ou vincendas
até 30 de agosto de 2007, para os produtores adimplentes
até 31 de dezembro de 2006. As parcelas de custeio das safras
2004/2005 e 2005/2006, já prorrogadas e com vencimento em 2007,
também foram beneficiadas com prorrogação para 12
meses após o vencimento do contrato, a critério da
instituição financeira. Conjugado a essas medidas, o
governo criou um Grupo de Trabalho interministerial composto por
representantes dos ministérios da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento e da Fazenda, e integrado por parlamentares e assessores,
com o objetivo de propor medidas que contribuam para equacionar o
endividamento agrícola.