Os produtores rurais estão falidos ou terrivelmente endividados como conseqüência da atual política cambial, segundo avaliação do presidente da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP), Ágide Meneguette, em reunião na sede da CNA, em Brasília (20/6), com os parlamentares da bancada paranaense no Congresso Nacional e com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes.
Segundo ele, a solução para o empobrecimento da agropecuária é mudar a política cambial. “A crise reside justamente na conversão dos valores da cotações em dólar para real”, afirmou.
De acordo com o estudo preparado por técnicos da FAEP e apresentado por Meneguette na abertura do encontro, a produção agropecuária do Paraná teve um prejuízo da ordem de R$ 9,7 bilhões desde o segundo semestre de 2004 até o ano passado. “O problema maior foi a apreciação exagerada do real e a conseqüente queda vertiginosa do valor do dólar, que quebraram a normalidade do plantio e comercialização das safras”, afirmou Meneguette. Segundo o presidente da FAEP, nesse período, as safras sempre foram plantadas com um dólar valendo mais do que na hora da comercialização. “A diferença do câmbio foi o principal responsável pelo prejuízo acumulado”, explicou. O economista do DTE/FAEP, Pedro Loyola, fez a apresentação técnica aos presentes com demonstração de dados e gráficos sobre o endividamento agrícola, com apoio dos economistas Gilda Bozza e Jeffrey Albers.
Segundo Ágide Meneguette, diante deste quadro alguns produtores bancaram integralmente sua safra e perderam dinheiro, enquanto outros tiveram que vender seus bens para sobreviver. “Os que obtiveram financiamentos acumularam seus prejuízos sob a forma de dívidas com bancos e com fornecedores de insumos em tal monta que estouraram os limites para obtenção de novos créditos”, explicou Meneguette. Segundo ele, foi por este motivo que sobraram recursos de crédito rural a juros de 8,75% ao ano, em 2006 e 2007.
Na avaliação do presidente da FAEP, a situação ficará ainda mais difícil a partir deste mês, quando vence a maioria das parcelas de financiamento de investimentos com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES). Como estas parcelas não são amparadas pelo Manual de Crédito Rural, não poderão ser prorrogadas pelos bancos repassadores, alerta Meneguette. “As medidas tomadas pelo Governo Federal, no último dia 14, apenas dão fôlego para que se negocie uma solução melhor e definitiva”, disse Meneguette.
De acordo com ele, os cálculos sobre
acumulação das dívidas mostram a necessidade de um
alongamento de todas as dívidas, por um prazo mais
elástico. “Os produtores rurais estão pagando muito
caro pela política de contenção
inflacionária via câmbio, embora estejam dando uma
contribuição decisiva nas contas externas”, afirmou
Ágide Meneguette. Citou como exemplo o caso da soja, cujo
preço internacional é de US$ 18 a saca, mas não
passa de R$ 28,00 quando convertido em real, do qual ainda se subtrai
os resultados negativos das deficiências em infra-estrutura. Os
prejuízos se estendem por todo o setor: em valores corrigidos
pelo IGPM, o frango, que valia R$ 1,64 o quilo, em 2003, caiu para R$
1,33; o quilo da carne suína, de R$ 1,56, em 2003, para R$ 1,17
ao produtor; a arroba do boi, caiu de R$ 64,82, em 2003, para R$ 52,20,
este ano.
Participaram da reunião os senadores Osmar Dias, Flávio Arns, Wilson Matos, e os deputados federais da bancada do Paraná: Abelardo Lupion, Ricardo Barros, Luiz Carlos Settin, César Silvestri, Chico da Princesa, Alceni Guerra, Ratinho Júnior, Eduardo Sciarra, Osmar Serraglio, Moacir Micheletto, Alex Canziani, Rodrigo Rocha Loures, Max Rosenmann, Luiz Carlos Hauly, Dilceu Sperafico, Nelson Meurer, Airton Roveda, André Vargas, Gustavo Fruet, Angelo Vanhoni, Hidekazu Takayama, e Alfredo Kaefer.
Também estiveram presentes a senadora por Tocantins, Kátia Abreu, membros da diretoria plena da FAEP, presidentes das Comissões Técnicas da entidades, e presidentes das federações estaduais, o diretor do Deral, Francisco Simione, que representou o secretário da Agricultura do Paraná, Valter Bianchini.