Dólar baixo impede recuperação
de renda do produtor rural

A valorização do real frente ao dólar elimina as vantagens nas cotações e impede que o produtor saia do sufoco

    Mesmo com preços de soja e milho favoráveis no mercado internacional – a soja cotada 31% acima da média histórica dos últimos dez anos – o produtor brasileiro não consegue aproveitar o bom momento. A valorização do real frente ao dólar elimina as vantagens nas cotações e impede que o produtor saia do sufoco das três últimas safras e inicie um processo de recuperação de renda.
    O dólar atingiu na semana passada a cotação mais baixa desde 2001, ficando abaixo de R$2,00/US$, acumulando queda superior a 8% desde o início de 2007. A moeda americana neste patamar é uma catástrofe para o produtor rural, que recebe menos em real pelo mesmo dólar exportado. Se a cotação do real fosse outra, os produtores poderiam se beneficiar da alta das commodities agrícolas. Mas não é o que acontece.

       Soja - O USDA divulgou o relatório de maio/07 promovendo algumas alterações no quadro de oferta e demanda mundial de soja. A produção mundial foi reajustada de 233,5 milhões de toneladas para 233,7 milhões de toneladas. O consumo interno estimado em 225,5 milhões de toneladas, as exportações reavaliadas para baixo, ficando em 69 milhões de toneladas. Os estoques globais finais estão previstos em 61,9 milhões de toneladas. A relação estoque final/consumo é de 27,5%.
        A projeção efetuada para a Argentina manteve os números de produção em 45,5 milhões de toneladas e o consumo interno argentino em 36,5 milhões de toneladas. Já as exportações foram reajustadas de 7,5 milhões de toneladas para 7,2 milhões de toneladas. O estoque final foi reavaliado para mais, passando de 19,6 milhões de toneladas para 20,2 milhões de toneladas. O USDA manteve a produção brasileira na safra 2006/07 em 58,8 milhões de toneladas e o estoque final passou de 17,6 milhões de toneladas para 18,1 milhões de toneladas. As exportações previstas em 25,6  milhões de toneladas.
        Com relação aos Estados Unidos o relatório de maio manteve a produção (86,7 milhões de toneladas) e as exportações (29,4 milhões de toneladas). Foram efetuadas modificações no consumo interno (53,1 milhões de toneladas) e estoque final (16,6 milhões de toneladas).

    O USDA divulgou também os primeiros números para a safra 2007/08. O relatório surpreendeu o mercado com o corte pela metade dos estoques norte-americanos, ou seja, prevê um estoque final de 8,7 milhões de toneladas (-48%) para a safra 2007/08 contra 16,6 milhões de toneladas (safra 2006/07). A produção norte-americana projetada é de 74,7 milhões de toneladas com uma produtividade média de 2.788 kg/hectare. Não obstante tratar-se das primeiras estimativas para a  próxima safra norte-americana de soja, esses causaram impacto no mercado. Tal fato somado ao temor do mercado quanto às condições climáticas (seca e possibilidade de La Niña no verão norte-americano) deu suporte às cotações futuras na Bolsa de Chicago. Os contratos para o primeiro vencimento em maio/07 encerraram o pregão na sexta-feira última, a US$ 17,47/saca. Vale ressaltar que em 2007 as cotações da soja em grão na Bolsa de Chicago apontam uma valorização em 20%, saindo de US$ 14,56/saca em dezembro de 2006 para os atuais US$ 17,47/saca (maio/07).

 QUADRO MUNDIAL (milhões de toneladas)
Itens 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06(*) 2006/07(**)
Estoque inicial
Produção
Importação
Esmagamento
Consumo total
30,71
184,87
54,15
157,98
183,96
32,18
197,31
62,87
164,91
190,57
40,50
186,26
54,25
163,84
189,96
38,80
215,74
63,71
175,68
205,16
48,49
219,78
63,92
184,53
214,12
53,84
233,68
68,53
194,64
224,99
Fonte: USDA – maio 2007 (*) Estimativa (**) Projeção

    Por outro lado, o dólar atingiu a cotação mais baixa desde 2001, ficando abaixo de R$2,00/US$, acumulando queda superior a 8% desde o início de 2007. Essa valorização do real em relação ao dólar beira a catástrofe, porquanto retira parte de renda do produtor. Assim, em que pese os preços favoráveis no mercado internacional (31% acima de média histórica dos últimos dez anos (US$ 13,29/saca) o produtor brasileiro não aproveita essa valorização e vê escapar a possibilidade de  sair do sufoco e iniciar um processo de recuperação de renda.  Com isso, cai a renda do setor, com impacto mais forte na renda do produtor rural, haja vista que o mesmo recebe menos reais pelo mesmo dólar exportado.

Milho - Safra 2007/08

Estados Unidos: produção recorde de
316,5 mi de toneladas

    O relatório do USDA de maio/07 trouxe as primeiras estimativas do quadro de oferta de demanda mundial de milho para a safra 2007/08 e também os números para a safra norte-americana. A produção mundial para a safra 2007/08 foi projetada em 766,5 milhões de toneladas (crescimento de 9,8%=68,8 milhões de toneladas) relativamente à safra 2006/07 quando foram produzidas globalmente 697,7 milhões de toneladas. O consumo mundial previsto é de 769,4 milhões de toneladas e exportações mundiais de 83,1 milhões de toneladas. Os estoques finais na safra 2007/08 foram estimados em 90,2 milhões de toneladas e a relação estoque final/consumo é de 11,7%, o menor índice desde da safra 2002/03.
        A produção norte-americana foi avaliada em 316,5 milhões de toneladas, ou seja, cerca de 18% maior em relação à produção da safra 2006/07 (267,6 milhões de toneladas). A produtividade estimada para o milho americano na safra 2007/08 é de 9.424 kg/ha, a qual foi considerada conservadora pelo mercado. A produtividade estimada para o milho americano na safra 2007/08 é de 9.424 kg/ha, a qual foi considerada conservadora pelo mercado. O impacto do relatório ficou por conta das projeções para a safra norte-americana 2007/08, com a notícia que os Estados Unidos deverão destinar 87 milhões de toneladas para a produção de etanol. Este número ficou acima das expectativas do mercado que trabalhava com a utilização de 81 milhões de toneladas para a produção de álcool a partir do milho. As projeções para as exportações norte-americanas são de 50,2 milhões de toneladas contra 55,9 milhões.
        O menor volume de milho norte-americano exportado deverá abrir janelas de oportunidades de comercialização externa para o Brasil, conforme já analisado em relatórios anteriores.
        Vale lembrar que os números devem ser analisados com cautela haja vista que, nos próximos 90 dias, o fator clima é de fundamental importância e as previsões para o clima norte-americano apontam uma tendência de clima seco. Por outro lado, o plantio que deverá ser encerrado em maio vem enfrentando certas dificuldades em razão das condições climáticas e mostra um certo atraso em relação às safras anteriores.

 QUADRO MUNDIAL (milhões de toneladas)
Itens 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06(*) 2006/07(**)
Estoque Inicial
Produção
Importação
Consumo Total
Exportação
Estoque Final
Estoque/Consumo
148,04
610,48
76,84
627,10
78,23
123,38
19,7
123,38
623,34
76,51
647,02
77,34
103,86
16,1
103,86
712,63
77,11
685,20
78,27
130,70
19,1
   130,70   
695,61
79,18
703,88
81,22
122,43
17,4
122,43
697,72
82,55
726,94
87,00
93,20
12,8
93,20
766,50
82,23
769,45
83,11
90,25
11,7

Gilda Bozza Borges
Economista - DTE / FAEP

Boletim Informativo nº 958, semana de 28 de maio a 3 de junho de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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