Reestruturar a defesa sanitária do Paraná por meio de uma maior participação da iniciativa privada. Este é o desafio do setor produtivo para que o estado possa avançar nas iniciativas voltadas à sanidade agropecuária e conquistar o retorno do status sanitário almejado por todo o setor produtivo.
Esta foi a idéia defendida e aceita pelas lideranças e representantes dos setores primário e secundário que participaram do encontro promovido pelo Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Paraná (Fundepec) dia 14 de maio no Hotel Mabu, em Curitiba. O objetivo foi planejar e executar um plano que garanta uma estrutura capaz de impedir a incidência de futuros focos de febre aftosa e de outras doenças.
Entre os participantes do evento, estiveram o mInistro da Agricultura, Reinhold Stephanes, o presidente da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP), Ágide Meneguette, o diretor-executivo do Fundepec, Antônio Leonel Poloni, o secretário da Agricultura, Valter Bianchini, o secretário nacional de Defesa Agropecuária, Inácio Afonso Kroetz, o presidente do Sistema Ocepar, João Paulo Koslovski, além de diretores de indústrias ligadas ao setor agropecuário.
O presidente da FAEP, Ágide Meneguette, ressaltou a importância dos diferentes segmentos se comprometerem a participar de um esforço conjunto para o Paraná recuperar o status sanitário de área livre de febre aftosa, com vacinação. Segundo ele, desde que foram decretados os focos da doença no estado, os membros do Fundepec desempenham-se em forçar o governo do estado a restabelecer o sistema de defesa. “Em diversas ocasiões, essas instituições têm se exposto através de críticas às autoridades na defesa dos interesses dos produtores e das empresas”, disse.
Para ele, chegou-se a uma situação que exige a participação direta de todos os interessados, e não apenas através de suas instituições de representação. “Essa participação das instituições de representação passa, agora, a ser insuficiente”, avaliou Meneguette.
Quanto à participação de todos, Meneguette questionou se os participantes estavam conscientes de que o problema sanitário não era apenas do governo. Para ele, cabe ao governo fiscalizar e realizar a função de polícia. “Mas defesa sanitária quem faz, realmente, somos nós, produtores e industriais, produzindo com qualidade, dentro das normas de higiene e segurança. Os governos federal e estadual têm obrigações legais de garantir a sanidade, mas nós temos o dever de agir em nossas fazendas, nossas indústrias, nosso comércio para que essa sanidade seja efetiva. Somos nós que criamos, alimentamos, vacinamos, transportamos, abatemos, industrializamos e comercializamos nossos produtos”, disse.
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, garantiu que, entre as várias prioridades na sua pasta, a defesa sanitária é a número um. “A questão está no topo da agenda”, afirmou. Ele ainda confirmou a liberação de R$ 6 milhões para o georreferenciamento das propriedades situadas no Paraná e R$ 45 milhões para o Mato Grosso do Sul, onde os problemas com a febre aftosa são maiores.
O ministro também citou a Medida Provisória 371, publicada recentemente, que prevê a possibilidade da União pagar sozinha a indenização de animais sacrificados por febre aftosa, numa faixa de 150 quilômetros das fronteiras. “É para dar agilidade e eficiência na erradicação da doença, o que às vezes não acontece nos estados por falta de recursos”, disse.
O secretário da Agricultura, Valter Bianchini, apoiou a iniciativa de discutir uma ação integrada com os países que têm fronteira com o Brasil. Também disse que apenas uma ação forte e integrada entre a iniciativa privada e os três níveis do governo proporcionará ao Paraná o status em conformidade com a sanidade agropecuária.
Desafios - O diretor-executivo do Fundepec, Antonio Leonel Poloni, afirmou que o desafio do Fundepec é fazer com que, em cinco anos, o Paraná alcance o reconhecimento internacional de área livre de febre aftosa sem vacinação. “O essencial, nesse desafio, é organizar e aumentar a estrutura de defesa sanitária, integrando os estados, a União e a iniciativa privada, e adotando procedimentos sanitários aprovados pela União Européia ou algum outro mercado consumidor exigente”, disse.
O diretor-executivo da Frimesa, Elias José Zydek, afirmou que para reconquistar o antigo status sanitário, são indispensáveis competência técnica e profissionalismo. Ele também elogiou a iniciativa para discutir a sanidade. “Quem cria, comercializa e industrializa tem o direito de participar das decisões e escolher o caminho a ser tomado. A participação de quem faz acontecer é indispensável”, disse.
Ao defender a existência de um plano para defesa sanitária, o diretor de operações da Perdigão, Flávio Carlos Kaiber, citou a necessidade de um grupo gestor cobrar a prática das ações aprovadas. “A defesa sanitária do País tem muito que melhorar”, criticou. Segundo ele, é preciso evitar os erros do passado. “O impacto negativo dos incidentes que aconteceram no passado não podem mais repetir. O custo é muito alto”, disse.
Já o diretor da Sadia, Osório Dal Bello, defendeu mais atitudes por parte dos interessados. “Cada produtor tem que preparar seu processo produtivo com estrutura e condições que dificultem a chegada de doenças. Precisamos fazer uma grande mudança estrutural. Por mais que se faça, ninguém garante que a doença não chegue em nosso meio. Por isso, é preciso ter transparência, seriedade e rapidez”, afirmou.
O presidente da FAEP destacou que a decretação de focos de febre aftosa no Paraná, em outubro de 2005, provocou um prejuízo superior a R$ 2 bilhões a produtores e indústrias. Segundo Ágide Meneguette, os frigoríficos deixaram de vender carne bovina e suína para o exterior. “Mesmo no mercado interno, sofremos interdições severas e, ainda hoje, estamos com dificuldade para comercializar nossos produtos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul”, lembrou. Com o fato, veio a queda do preço da arroba do boi de R$ 56,00 para R$ 48,80. Até hoje, o preço não voltou ao antigo patamar. Para o presidente da FAEP, a queda do preço do suíno foi ainda maior. “De R$ 2,24 o quilo para R$ 1,42, que ainda persiste. Além das restrições de comercialização”, lamentou.
Os efeitos da febre aftosa foram agravados com a existência de focos de gripe aviária na Ásia. A combinação de ambos fatos prejudicou o segmento do frango apesar da ave não ser suscetível à febre. “Deixou o mercado assustado e o preço do frango ao produtor caiu de R$ 1,44 para R$ 1,18. Somente há pouco tempo, reagiu para 1,27. Portanto, ainda abaixo do valor de 2005”, disse.
Ele ainda lembrou os efeitos para o segmento do leite. “Os leiteiros tiveram de jogar fora milhões de litros de leite por falta de compradores e quando conseguiram reconquistar parte do mercado, tiveram seus custos aumentados pela necessidade de processar o leite antes de enviá-lo para São Paulo”, afirmou.
Para Meneguette, os prejuízos atingiram vários setores da economia do estado. “Todos perderam: produtores, cooperativas e indústrias. Perderam as populações dos municípios que têm na agropecuária e no agronegócio a sua base econômica. Que são quase todos. Bilhões de reais deixaram de circular no comércio, nos serviços. As indústrias tiveram de reduzir a sua produção e, em conseqüência, houve desemprego”, concluiu.