Se era para demonstrar que é a
organização mais poderosa do País,
porque é capaz de botar abaixo, com a maior
tranqüilidade e sem restrição alguma a
suas operações, o ordenamento jurídico
nacional, o respeito aos Poderes constituídos e
às estruturas de organização da
sociedade brasileira, o Movimento dos Sem-Terra (MST) já
cumpriu plenamente seus objetivos. Se era para deixar de todo
desmoralizadas quaisquer autoridades - federais, estaduais, municipais
- constituídas e vigentes em quaisquer regiões do
Brasil, o MST igualmente o conseguiu, de forma plena. E, se era para
deixar claro que a tão decantada impunidade
crônica, que contamina a sociedade brasileira, é
fruto de um Estado emasculado, incapaz de impor a lei e a ordem a seus
cidadãos - princípio ínsito
à sobrevivência do Estado Democrático
de Direito, único capaz de impedir a anomia em uma sociedade
-, o MST, aí também, já obteve
êxito estrondoso com seu “abril
vermelho”. Só que, por sobre tudo isso, o
escárnio emessetista não é
lançado apenas aos Poderes constituídos, mas
à própria Nação.
Dessa vez a radicalização do movimento foi total,
com simultaneidade, amplitude e intensidade de agressões
à lei e à ordem não vistas em sua
longa e vandálica carreira. No Paraná 3 mil
integrantes do MST tomaram de assalto 25 das 27 praças de
pedágio espalhadas pelas rodovias do Estado e liberaram a
passagem dos veículos sem pagamento das taxas porque, como
está em nota “oficial” da entidade,
“os pedágios são hoje um dos principais
entraves à pequena agricultura”. Em alguns desses
pedágios cortaram os cabos telefônicos e das
câmaras de segurança.
Na Rodovia Presidente Dutra, principal ligação
entre os dois municípios mais importantes do
País, integrantes do MST fizeram bloqueio do
trânsito em dois trechos estratégicos para a
interdição da via. Na parte da manhã a
estrada foi interditada entre o km 153 e o km 155, na região
do Vale do Paraíba, por cerca de 3 mil manifestantes,
provocando um congestionamento de 5 quilômetros. No Estado do
Rio a interrupção ocorreu à altura do
km 242. Outra importante rodovia do Rio, a BR-101, foi fechada por
cerca de 300 sem-terra, durante quase duas horas. No Rio Grande do Sul
cerca de 2.400 militantes emessetistas interditaram 9 rodovias em
períodos alternados. Em São Paulo,
além da Via Dutra, a Rodovia Raposo Tavares (SP-270) foi
bloqueada à altura do km 172, em Itapetininga. As
ações do MST no Estado também
incluíram o reforço da
ocupação da Fazenda São Luiz, em
Presidente Bernardes, no Pontal do Paranapanema. Estas são
algumas das inúmeras operações
desencadeadas no “abril vermelho”.
Alguns governadores deram apoio ostensivo aos integrantes do MST - caso
do baiano Jaques Wagner (PT), visto com o boné da entidade
em frente a seus 5 mil manifestantes, cujos representantes recebeu em
audiência, e da paraense Ana Julia (PT), que prestigiou,
junto aos militantes do MST e assemelhados, ato religioso em homenagem
às vitimas de Eldorado dos Carajás.
Aliás, apesar de a
“comemoração” dos 11 anos do
“massacre” ser invocada como pretexto principal da
megamobilização dos sem-terra, têm
surgido (como sempre) outras
“reivindicações” do MST e
coligados ao governo, tais como programas de
educação nos acampamentos, assistência
técnica, reflorestamento, valorização
da Companhia Nacional de Abastecimento,
atualização da portaria que mede a produtividade
no campo, a desapropriação de determinadas
fazendas para fins de reforma agrária, etc, etc.
Nem seria necessário ouvir-se especialistas para se saber
dos inúmeros crimes e desrespeitos flagrantes às
legislações civil e penal que representam todas
essas ações dos sem-terra. Mais importante
é entender o que representam de atentado generalizado
à própria segurança nacional. Se
está se cogitando em empregar as Forças Armadas
para resolver problemas de segurança no Rio de Janeiro, de
natureza estritamente policial, o que dizer da necessidade de os
Poderes de Estado e a ordem legal serem defendidos, em todo o
território nacional, ante uma força que ostensiva
e notoriamente os desafia - se é que não pretende
destruí-los?
(Editorial do jornal O Estado de S. Paulo publicado dia 21/04/2007)