O setor produtivo do agronegócio decidiu acirrar a
discussão junto à opinião
pública sobre os conflitos agrários decorrentes
de invasões de terras pelo Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) e a desapropriação
arbitrária de terras para quilombolas e terras
indígenas. Empresários e pequenos produtores
prejudicados avaliaram no dia 26 de abril o atual quadro
fundiário do País no Fórum
Agrário Empresarial, realizado pela
Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA), em parceria com a Associação
Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf).
“Todos precisam saber que o custo com a reforma
agrária é altíssimo e, ainda assim, o
MST continua invadindo arbitrariamente propriedades rurais produtivas e
áreas urbanas”, disse o presidente da
Comissão Nacional de Assuntos Fundiários e
Indígenas da CNA, Leôncio Brito.
Segundo estudo da CNA, enquanto são destinados 68,6
milhões de hectares à reforma agrária,
105,6 milhões de hectares para terras indígenas e
propostos até 21 milhões de hectares para
quilombolas, as lavouras anuais e permanentes ocupam, respectivamente,
47 milhões e 15 milhões de hectares. “A
partir da avaliação construída neste
Fórum, iremos aos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário, para fazer com que a política
fundiária seja executada dentro da legalidade e dos limites
constitucionais”, explicou Brito.
O custo atual por assentado, segundo o Instituto Nacional de Reforma
Agrária e Colonização (Incra),
é de R$ 67 mil por família. O repasse de recursos
federais ao MST cresceu 315%, no atual Governo, em
relação à gestão anterior,
conforme dados da organização
não-governamental Contas Abertas. Mesmo assim, segundo o
Incra, mais de mil imóveis rurais foram invadidos, com saldo
de destruição de
plantações, de áreas de reserva legal
ou de preservação permanente,
maquinários, casas e morte de animais.
“Até quando ficaremos assim? Até quando
o governo vai financiar isto?”, indagou o representante da
CNA.
Em contrapartida aos prejuízos causados pelo MST, o
1º vice-presidente da CNA, Fábio de Salles
Meirelles, lembrou a importância da
participação do agronegócio no Produto
Interno Bruto (PIB) brasileiro – 27% em 2006 – e
dos 37% de empregos gerados pelo setor produtivo. Segundo o dirigente,
os números da destruição provocada
pelos conflitos precisam ser comparados aos números do
agronegócio. “A cadeia produtiva do
agronegócio está sob ameaça, desde a
agricultura familiar até o lado empresarial da
produção e, se aqueles que produzem
não têm tranqüilidade, também
corre riscos o abastecimento para quase 200 milhões de
brasileiros e os benefícios que a economia
agropecuária gera para o Brasil, como o saldo positivo para
a balança comercial”, disse Meirelles.
Ao falar sobre O MST e a Democracia, o filósofo e professor
Denis Lerrer Rosenfield afirmou que é
imprescindível defender a propriedade privada e o
agronegócio frente à ação
do MST. “A principal ameaçada neste contexto
é a democracia e, numa sociedade onde os direitos de
propriedade não são respeitados,
também não se respeita a liberdade”,
argumentou. Para o diretor executivo da Abraf, Cesar Augusto dos Reis,
chegou a hora do setor produtivo pressionar o poder público.
“A impressão que se tem é de que o
Governo perdeu o controle dos movimentos sociais. Todas as
decisões tomadas ultimamente sinalizam que o clima de
segregação social poderá ser ampliado,
ao invés de eliminado da sociedade brasileira”,
destacou.
O presidente da Comissão de Agricultura,
Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR), da
Câmara dos Deputados, deputado Marcos Montes, afirmou que o
Congresso deve trabalhar para não deixar que projetos de lei
que ameacem o agronegócio e a estabilidade
sócio-econômica do País sejam
aprovados. Ele defendeu, também, uma
ação junto à opinião
pública. “A Comissão de Agricultura
irá apoiar o setor produtivo no sentido de conscientizar a
opinião pública sobre os abusos que vêm
sendo cometidos por ditos movimentos sociais, que têm suas
ações pautadas no radicalismo e
vandalismo”,
finalizou.