Enquanto o mundo avança para a segunda década na adoção das culturas geneticamente modificadas (GM), o Brasil apenas engatinha na quarta safra, favorecida por uma medida provisória que permitiu o plantio e a comercialização da cultura da soja geneticamente modificada tolerante ao glifosato.
O avanço mundial das culturas geneticamente modificadas, sustentado por uma taxa de crescimento de 13% ao ano, atinge, nesta nova década, o incrível número de 102 milhões de hectares, tornando-se a tecnologia agrícola mais rapidamente adotada nos últimos tempos. Este crescimento acontece fomentado por 10,3 milhões de produtores em 22 diferentes países do mundo. Cerca de 90% deles são pequenos agricultores de países em desenvolvimento e cultivam soja, milho, algodão, canola, arroz, abóbora, mamão papaia e alfafa. No ano de 2006, a alfafa destacou-se como a primeira cultura geneticamente modificada perene a ser comercializada.
A taxa de adoção acelerada dessa nova tecnologia reflete a satisfação do produtor rural em realizar seu cultivo, identificando nela vantagens agronômicas, econômicas, sociais e ambientais.
Os benefícios econômicos reconhecidos pelos agricultores no cultivo de lavouras geneticamente modificadas são decorrentes da otimização no custo de produção, proporcionado pela redução do uso de agroquímicos, do numero de aplicações e do uso de óleo diesel, e da maior produtividade, proporcionada pela eficiência no controle de insetos-pragas e pela supressão da mato competição, um dos principais fatores de interferência no sistema produtivo. Além disso, a nova tecnologia também traz vantagens de conveniência e flexibilidade no manejo da cultura. Em termos mundiais, os benefícios econômicos chegaram a US$ 5,6 bilhões somente no ano de 2005. E enquanto que, na primeira década de uso da tecnologia, foi acumulada a expressiva cifra de US$ 27 bilhões.
A tecnologia vem apresentando substancial crescimento nos países em desenvolvimento, ocupando uma área de 40,9 milhões de hectares na Ásia, América Latina e África do Sul. Os benefícios proporcionados aos agricultores, contribuindo para o aumento de sua renda, corroboram com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (MDG) de reduzir a pobreza e a fome no mundo em 50% até 2015, fortalecendo a ideologia do benefício social.
O uso de lavouras geneticamente modificadas, principalmente aquelas tolerantes aos herbicidas, favorece a adoção de práticas conservacionistas do solo, contribuindo positivamente para a sustentabilidade da agricultura, como o sistema de plantio direto na palha. Os ganhos ambientais ainda podem ser percebidos pela redução do uso dos agroquímicos nas lavouras, já estimados em 224.300 toneladas de ingredientes ativos, e pela diminuição do uso de herbicidas de maior toxicidade, abreviando a toxicidade nos alimentos, no solo e na população de inimigos naturais, o que é importante para o equilíbrio do ecossistema.
Dentre todos os países, onde se cultivam lavouras geneticamente modificadas, os EUA são o principal produtor, responsável por 53% da área global com agricultura transgênica, seguidos da Argentina (18%), Brasil (11%), Canadá (6%), Índia (4%) e China (3%). A soja, principal fonte de proteína na cadeia produtiva de transformação, continua sendo a mais importante lavoura geneticamente modificada no mundo. Em 2006, a cultura ocupou 58,6 milhões de hectares (57% da área global com agricultura transgênica). Seguida pelo milho (25,2 milhões de hectares), algodão (13,4 milhões de hectares) e canola (4,8 milhões de hectares).
No Brasil, apesar das resistências políticas e ideológicas que impedem a adoção da tecnologia em alguns estados e a aprovação de novos eventos transgênicos no País, a cultura da soja tolerante ao glifosato apresenta expressivo crescimento, já ocupando mais de 55% dos 21 milhões de hectares ocupados com o cultivo da oleaginosa.
O estado do Rio Grande do Sul destaca-se como principal produtor de soja transgênica. No ano de 2005, a soja transgênica ocupou 97% da área cultivada com o grão.
Na primeira década de cultivo das lavouras geneticamente modificadas, o destaque ficou por conta da tecnologia que confere, à planta, tolerância aos herbicidas, resistência aos insetos, como também, as características combinadas na mesma planta, também conhecidas como genes stack. O advento das novas gerações com genes combinados na mesma planta vem de encontro à reivindicação de muitos produtores, que identificavam nela maiores benefícios. A tecnologia dos genes stack, entre 2005 e 2006, apresentou um crescimento de 30%, muito superior às características de resistência a insetos (17%) e tolerantes a herbicidas (10%).
As previsões para a próxima década são otimistas quanto à evolução da tecnologia dos transgênicos, tanto para o desenvolvimento de novas características, quanto para o crescimento contínuo da área global cultivada. Alguns estudos (ISAAA, Brief 35/2006) relatam um potencial de crescimento para a nova década em até 200 milhões de hectares, beneficiando, pelo menos, 20 milhões de produtores. O desenvolvimento de novas características biotecnológicas estará voltado para o aumento da eficiência das culturas alimentícias/forrageiras, como a tolerância a secas, gerando um impacto positivo nos países em desenvolvimento, que já sofrem influência com as mudanças climáticas. A biotecnologia também exercerá fortes influências no desenvolvimento das culturas energéticas, melhorando o aproveitamento da produção de biocombustíveis e favorecendo a migração da matriz energética fóssil para etanol e biodiesel.
A evolução tecnológica das culturas geneticamente modificadas vem propiciando um aumento da competitividade da agricultura mundial. Isto, pela redução dos custos, aumento de produtividade e redução do impacto ambiental da atividade agrícola. O Brasil, pela sua importância e grandeza na produção de alimentos e bioenergia, precisa adotar um posicionamento mais técnico para suas decisões quanto à liberação ou não de novos eventos biotecnológicos. Não permitindo que o agricultor fique marginalizado a esta tecnologia. Mas, sim, dando a ele o poder de escolha entre o cultivo transgênico, convencional ou mesmo orgânico.