Para Antônio Poloni defesa
sanitária exige visão sistêmica

Há onze anos o Fundo de Desenvolvimento da Agropecuária do Estado do Paraná (FUNDEPEC-PR) vem trabalhando como objetivo de incorporar a iniciativa privada em ações de defesa agropecuária e, ao mesmo tempo, ajudar o Estado a modernizar seu sistema de defesa sanitária. O diretor-executivo da entidade, Antônio Leonel Poloni, acredita que o avanço na questão da defesa sanitária no Brasil passa pela conquista de uma visão sistêmica no planejamento e execução de ações de sanidade. O tema voltou a ser destaque desde que Reinhold Stephanes assumiu o cargo de ministro da Agricultura. O ministro afirmou que a defesa 

sanitária será prioridade em sua gestão. No que diz respeito ao combate à febre aftosa, Stephanes declarou à imprensa que é preciso melhorar o trabalho nas fronteiras e fazer ações conjuntas com os países vizinhos. Leia a seguir trechos da entrevista com Leonel Poloni.

Boletim Informativo - Como diretor-executivo do FUNDEPEC, era isso que o senhor esperava ouvir do novo ministro?

Antônio Leonel Poloni - Não há, ou não deve haver, mais dúvida de que as questões relativas à sanidade devem ter primazia nas ações do Brasil e o posicionamento do atual ministro nesse sentido nos deixa bastante otimistas.

 

BI - O que muda no trabalho que vinha sendo feito até agora?

ALP - A mudança que esperamos é na visão do tema sanidade. É preciso que o assunto seja visto sob um ponto de vista macro, de continente, e que, a partir daí, efetivamente se invista na erradicação dos problemas.

 

BI - Quando se fala em defesa sanitária, logo surge uma associação à febre aftosa. A questão não é muito mais abrangente do que isso?

ALP - Muito embora a defesa sanitária tenha uma área de envolvimento e alcance bastante ampla, ela é, ao mesmo tempo, pontual. Ou seja, a competência e a eficiência do setor devem ser demonstradas no trato item a item, na "lição de casa" bem feita.

 

BI - A carne brasileira tem um mercado de US$ 1 bilhão na Europa. Recentemente esteve no Brasil uma missão veterinária da União Européia que avaliou as condições de produção e controles da defesa agropecuária no País. Os integrantes avaliaram que houve progressos, mas ainda há inconformidades no SISBOV. Como avançar nesta questão? Qual o potencial de crescimento do mercado europeu para o Brasil? De que dependemos?

ALP - Para essas três questões existe uma única resposta: de nada adianta dizer que faz. É preciso provar que foi feito, com registros confiáveis, garantidos. O potencial de mercado é grande, precisamos determinação e competência para acessá-lo. Isso só depende de nós. As exigências são as mesmas dos produtores europeus. Nos cabe cumpri-las para sermos parceiros comerciais.

 

BI - Entre as sugestões entregues ao ministro pelo presidente da FAEP, Ágide Meneguette, constam ações em prol da defesa sanitária animal e vegetal, com ênfase para a sanidade animal em função da situação criada com a febre aftosa no Paraná em 2005. Como evitar que situações como esta se repitam?

ALP - O agronegócio brasileiro está no centro da economia nacional de fato (superávit da balança comercial), e é preciso colocá-lo de direito. É isso que o governo precisa fazer. Unir as ações dos poderes público e privado e efetivamente investir recursos físicos e financeiros nas estruturas sanitárias do Brasil.

 

BI - O ministro anunciou que está buscando mais recursos para defesa sanitária, que passou também por mudanças em sua estrutura de comando. O novo secretário de Defesa Agropecuária será o médico veterinário Inácio Afonso Kroetz, especialista em reprodução animal e funcionário do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). São bons sinais?

ALP - As mudanças são importantes quando acontecem para oxigenar, mas podem ser fatais quando delas decorram desestruturações. Acredito que mudanças nas áreas de comando são naturais, todavia não se pode provocar grandes alterações nas equipes técnicas uma vez que são estas as responsáveis pelo suporte, pela visão de futuro e, principalmente, por dar segurança a todos os países que têm relações comerciais com o Brasil. Considero assertiva a escolha do Inácio para a SDA, pois se trata de um técnico muito competente.

 

BI - Como conciliar ações eficientes com um orçamento (do MAPA) reduzido em 52% sobre o total aprovado em lei pelo Congresso Nacional? É possível a Defesa Sanitária trabalhar para atender todas as ações com um caixa de R$ 127,4 milhões?

ALP - Esse deveria ser o orçamento de um estado brasileiro, não do País. Para estimar os recursos necessários para o setor, a equação é bastante simples: leve-se em conta o custo-benefício dos investimentos em sanidade e, num segundo momento, o impacto (ou repercussões) para o país, do resultado da insuficiência orçamentária na área.

 

BI - O ministro revelou também que estuda conversar como governo sobre a possibilidade de canalizar emendas parlamentares das bancadas de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná para a defesa animal. Como avalia a abertura desse espaço?

ALP - Deve haver um trabalho de conquista constante e significativa do MAPA no Orçamento da União para essa área. Não é mais possível continuar a depender anualmente de emendas parlamentares. Embora elas sejam recursos importantes, se faz necessária a criação de bases permanentes de manutenção dos sistemas sanitários brasileiros.

 

BI - Quais devem ser as próximas ações do FUNDEPEC no sentido de responder ao esforço conjunto que está sendo proposto pelo ministro?

ALP - Continuaremos a fazer a parte que nos cabe – enquanto entidade representante da iniciativa privada, pois sabemos que sanidade deve ser objeto de responsabilidade partilhada: produtores, indústrias, governos. O FUNDEPECPR sempre foi e será parceiro em ações conjuntas (público/privada).


Boletim Informativo nº 952, semana 16 a 22 de abril de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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