Safra e dívidas

Técnicos pesquisam quanto
ainda custará para sair da crise

Quanto custa produzir um hectare de milho, soja ou trigo no Paraná? E qual o tamanho mínimo da colheita para se atingir o ponto de equilíbrio, em que a renda do produtor é suficiente para sua sobrevivência digna, para pagar dívidas e o custo operacional do cultivo da terra? E se for incluída no cálculo a remuneração pelo capital investido e pelo uso da terra?

Para responder a essas e outras perguntas sobre os custos de produção e a crise agrícola, uma equipe de técnicos da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), da Confederação da Agricultura e 

Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro Avançado de Estudos em Economia Agrícola (CEPEA/Esalq) visitou no início do mês três das principais regiões produtores do estado e coletou dados de produtores, cooperativas, assistentes técnicos, fornecedores e sistema bancário. Os números estão sendo processados e o resultado do levantamento deverá sair no início de maio.



Técnicos reúnem-se em Londrina


   O estudo acontece num momento importante. Com clima e preços favoráveis, a safra que está sendo colhida no País é em geral uma boa notícia, mas ainda está longe de resolver a crise que atinge os produtores rurais endividados após três safras consecutivas operando no vermelho. A volta à estabilidade pode demorar ainda algumas colheitas. O levantamento técnico dos custos de produção é um instrumento para que os produtores conheçam sua real situação. Como disse um produtor de Guarapuava, "eu não fazia idéia do meu custo, não anotava e não acompanhava os gastos, é por isso que estou no vermelho!"

A participação de uma entidade independente e de

renome em pesquisas agrícolas, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, visa garantir que as planilhas de custo reflitam a realidade do setor agropecuário e funcionem como uma referência na hora do Sistema CNA/FAEP/SENAR apresentar pleitos e negociar questões do crédito agrícola, endividamento, financiamento, seguro e política governamental. A metodologia aplicada tem credibilidade internacional e é resultado de parceria com a Universidade do Texas e, mais recentemente, com uma universidade alemã.


   Nas reuniões com produtores, o primeiro ponto foi estabelecer o tamanho de uma área referencial para a região; por consenso definiu-se que uma propriedade-padrão, em Cascavel, tem em média 70 alqueires; em Guarapuava, 500 hectares e, em Londrina, 100 hectares. Em seguida levantou-se o percentual destinado a cada cultura – soja, milho verão, milho safrinha e trigo.

A metodologia do CEPEA/Esalq resulta em três tipos de custos de produção. Primeiro, o custo operacional efetivo de desembolso do produtor, que envolve o custeio do plantio, financiamento do capital de giro, pagamento de juros, gastos com mão-de-obra, insumos, tecnologia (royalties da



Reunião em Cascavel

Monsanto, por exemplo), assistência técnica e impostos.

O segundo modelo leva em consideração todos os fatores já citados mais a depreciação de máquinas e equipamentos, utilitários e benfeitorias. E no terceiro cálculo entra ainda o chamado "custo oportunidade", que é a remuneração pelo uso da terra, incluindo as áreas de reserva legal e reserva permanente, e os juros sobre o capital investido.



   Os números não estão fechados. Mas em relação ao endividamento dos produtores, o consenso é de que os efeitos da crise vão afetar as próximas safras. Há dívidas de custeio e investimento prorrogadas no ano passado cujas parcelas começam a vencer neste ano. Os próprios agrônomos do sistema financeiro reconhecem que ainda é muito cedo para se falar em "zerar as contas do produtor".

A equipe que saiu a campo, para ouvir produtores, técnicos e fornecedores, foi composta pelos pesquisadores Mauro Osaki e João Paulo B. Deleo

(CEPEA/Esalq), Márcia M. Ayres de Souza e Rosemeire Cristina dos Santos (CNA), Gilda M. Bozza e Pedro Loyola (Sistema FAEP).


Boletim Informativo nº 952, semana 16 a 22 de abril de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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