Em entrevista exclusiva, concedida à Agência CNA logo após a cerimônia de posse (27/03), o novo ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, destacou a abertura para o diálogo como a marca principal de sua gestão. Segundo ele, a principal qualidade de um profissional é saber ouvir. ”Todas as entidades responsáveis e atuantes, principalmente a CNA, serão ouvidas e evidentemente qualquer colocação é considerada uma contribuição significante para a tomada de decisões importantes”, declarou o ministro.
Stephanes aposta na junção entre habilidade técnica e articulação política para resolver assuntos considerados mais urgentes do setor agropecuário. Entre eles, o ministro citou questões como sanidade animal, transgênicos, preservação do meio ambiente, seguro rural e juros.
Leia abaixo a íntegra da entrevista.
Agência CNA: Quais serão as prioridades da sua gestão?
Reinhold Stephanes: É preciso partir do raciocínio que tivemos bons ministros e o Ministério da Agricultura está estruturado, com um planejamento estratégico de longo prazo. Em primeiro lugar, minha função é tentar dar continuidade ao que vem sendo feito e, eventualmente, corrigir alguns rumos e adaptar de acordo com o momento. É claro que sabemos das dificuldades mais agudas que existem hoje, como o problema da defesa sanitária animal, que é sério e que vem sendo enfrentado. Mas precisamos reforçar a ação nesta área.
Também temos outras questões muito sensíveis, como a discussão sobre os transgênicos, a questão da agricultura e meio ambiente, o mercado externo, com alguns embargos que causam grande preocupação. Algumas questões aparentemente são conflitantes, embora cada lado tenha sua devida importância. Cabe aí a capacidade de harmonizar, inclusive, eventuais interesses que possam ser conflitantes. De forma geral, pela minha própria característica como profissional, pretendo ter uma atitude extremamente técnica, aliando isso à capacidade de articulação, de entendimento.
CNA: O que o setor pode esperar em termos práticos para este ano?
R. S.: Há um profissional à frente da pasta pronto a procurar colaboradores que oficialmente sejam extremamente capazes. Vou manter um entendimento permanente com o setor agrícola e com seus representantes e tentar fazer o melhor trabalho possível. Cada entidade tem sua forma de pensar e tem interesses diferentes. Meu papel como ministro é compreender as demandas de cada instituição e integrá-las em prol do bem público.
CNA: A CNA elaborou uma agenda propositiva, que reúne as principais reivindicações do setor agrícola para o governo. De que forma essas sugestões poderiam ser aproveitadas?
R. S.: A CNA especificamente é uma entidade com a qual eu tenho algum contato há mais de 30 anos e tem um papel extremamente importante na agricultura brasileira. Todas as entidades responsáveis e atuantes, principalmente a CNA, serão ouvidas e evidentemente qualquer colocação é considerada uma contribuição significante para a tomada de decisões importantes.
CNA: A agricultura sofreu nos últimos dois anos uma das mais graves crises. Segundo levantamentos da CNA, a recuperação prevista para esta safra não chegará ao produtor, por conta dos prejuízos acumulados. Há algo que o Ministério da Agricultura possa fazer para que o crescimento no faturamento se traduza em uma posição de mais tranqüilidade para o produtor?
R. S.: É claro que sentimos muito o prejuízo nas duas safras anteriores, não só pela quebra causada por questões climáticas, mas também pelos preços, que não eram compatíveis. Neste momento, assumimos em uma situação muito melhor. Há boas expectativas para as próximas safras, os preços também melhoraram muito e sabemos também que há necessidade de mais duas ou três à frente para que a agricultura possa se capitalizar. Tenho clara noção disso e sei ainda que outro ponto sensível é a questão dos juros. A inflação está caindo e os juros se mantendo. Isso significa que os juros reais são hoje maiores do que eram antes. Todas essas são questões que, evidentemente, temos de enfrentar e ver como resolver.
CNA: Com relação ao seguro rural, o que pode ser feito nos próximos quatro anos?
R. S.: O presidente recomendou explicitamente, tanto no contato que tivemos pessoalmente quanto no pronunciamento durante a posse, a necessidade de se implantar outras medidas e consolidar o seguro rural. Então, o seguro rural também está incluído na nossa pauta de prioridades.
CNA: Atualmente, boa parte da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) está contingenciada (60%) e não é usada para as rodovias, enquanto a infra-estrutura é um gargalo enorme do setor. Como ministro, de que forma o senhor pode trabalhar para resolver a liberação de recursos que são constitucionalmente desta área?
R. S.: Essa é outra questão delicada que o setor agrícola precisa resolver e está ligada ao que a área econômica pode fazer. Isso é histórico, da mesma forma como a agricultura sempre foi altamente produtiva e competitiva na sua porteira. O problema começa depois que sai da porteira, ou seja, a falta de infra-estrutura acaba encarecendo o nosso produto agrícola. Esse é um problema quase crônico. No plano estratégico, elaborado pelo Ministério da Agricultura, há uma tentativa de reverter parte do problema, dentro do programa de investimento de longo prazo.
CNA: O senhor pretende viabilizar um PAC agrícola, como as categorias dos setores têm pedido?
R. S.: Não quero e nem vou fazer nada de forma precipitada. Essa é uma questão que precisa ser discutida com o governo.