Sem transgênicos, agronegócio
amarga prejuízo de US$ 1,1 bi

O economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Edgard Pereira apresentou, no dia 13 de março, na Câmara dos Deputados, o estudo “Impactos Econômicos das Culturas Geneticamente Modificadas (GM) no Brasil”, no qual demonstra que os ganhos com a utilização de culturas GM poderiam chegar a US$ 1,1 bilhão.

Em entrevista exclusiva à Agência CNA, Pereira explicou como o uso de organismos geneticamente modificados representa redução de custos, ganho de produtividade e benefícios ambientais, com a redução da aplicação de agroquímicos. Ele ressaltou, ainda, que o debate extenso sobre o uso de transgênicos no Brasil trouxe perda econômica para o agronegócio.

Leia a seguir a íntegra da entrevista:

A indefinição sobre a questão dos transgênicos no Brasil significa prejuízo para o País?

Tivemos uma situação de excessiva precaução. Isso impediu que se começasse a obter antes benefícios econômicos importantes para o setor. Há uma perda econômica em função do debate. De qualquer maneira, acredito que, nos últimos anos, tivemos um movimento de liberação e uma tendência de agilidade na resolução das pendências em relação aos OGMs. Isso se deu a partir da legislação de 2005. Houve um período de demora para se chegar a uma decisão sobre o assunto. A partir de agora a tendência é de crescimento. Acredito também que a agricultura brasileira é bastante ágil. O produtor é muito conectado com o que acontece na tecnologia e no mercado externo e rapidamente vai alcançar os benefícios que mostramos. No caso da soja, liberada a partir da safra 2003/04, o Brasil já alcançou a terceira posição no mundo em utilização de produtos geneticamente modificados, com pouco mais de 11 milhões de hectares de área plantada. Isso nos dá uma indicação da rapidez com que se ajusta a agricultura brasileira.

Qual é a vantagem das culturas geneticamente modificadas para o agronegócio?

A adoção das chamadas culturas GM proporciona ganhos econômicos bastante significativos. Esses valores de economia de recursos advêm de duas fontes: primeiro, da redução dos custos; e segundo, do ganho de produtividade em relação às culturas convencionais. Entre 1998 e 2007, os benefícios econômicos conseguidos pelos produtores de soja GM poderiam ter alcançado US$ 2,9 bilhões, pois haveria uma redução de custo de US$ 42 por hectare que viria associado a um ganho de produtividade de US$ 30 por hectare. A composição desses dois efeitos é que gera uma economia significativa de recursos. A redução de custo se dá na aquisição de produtos, como herbicidas, no caso da tolerância ao glifosato, e pela diminuição do número de pulverizações, no caso de plantas resistentes a insetos. A redução de gastos com mão-de-obra e equipamentos também é observada quando diminuem as aplicações de agroquímicos nas lavouras.

A que se deve o crescimento em âmbito global do uso de OGMs?

O crescimento exponencial do uso das culturas GM no mundo certamente se deve à comparação entre essas culturas e as tradicionais, além do ganho econômico resultante. Hoje, temos 102 milhões de hectares no mundo que utilizam culturas GM. No Brasil, a penetração de culturas GM no total de lavouras do País é reduzida, em função do atraso da permissão para sua comercialização, que só se deu em 2005, com a Lei de Biossegurança. Atualmente, nos limitamos a usar soja tolerante ao glifosato. Recentemente, foi permitido o uso do algodão resistente a insetos. Por isso, no estudo, estimamos também quais teriam sido os benefícios e quais podem ser os ganhos projetados nas culturas, como algodão e milho, que ainda não obtiveram liberação ou ainda não estão em uso, como no caso do algodão. No caso do algodão resistente a insetos, os benefícios podem chegar a US$ 86 milhões. Para o milho GM, os ganhos poderiam ser de US$ 192 milhões ao ano. Em resumo, o total de ganhos a partir da adoção dessas três culturas GM poderia ser de US$ 1,1 bilhão.

A pesquisa revelou que a adoção de culturas GM proporciona também ganhos ambientais. De que forma isso se dá e há como mensurar essa contribuição para o meio ambiente?

Na medida em que o plantio convencional necessita de várias pulverizações em diferentes momentos, o impacto ambiental direto do uso das culturas GM resistentes a insetos e pragas pode ser traduzido pela redução do uso de agroquímicos. Há formas de captar os impactos econômicos dos efeitos da utilização dos OGM sobre o meio ambiente. Não só no que diz respeito ao menor risco de contaminação das águas, dos rios, mas sob o aspecto da menor exposição da sociedade em geral e dos trabalhadores do campo a esses produtos. Há benefícios em termos de saúde que têm dimensão econômica como o bem-estar das pessoas e a desoneração do sistema de saúde. Estimamos que com o algodão resistente a insetos, o uso de inseticidas tenha uma diminuição de aproximadamente 2.893 toneladas. Com o milho GM essa redução seria de 1.739 toneladas. Para ampliar a pesquisa é necessário criar experimentos que possam avaliar por determinado período de tempo essas culturas. Precisaríamos da liberação do produto e de prazo para captar os efeitos. A idéia, a partir de agora, é construir gradativamente uma metodologia para incorporar esses resultados.

Boletim Informativo nº 950 , semana de 26 de março a 1º de abril de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná
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