Indefinição sobre os transgênicos
pode ter custado R$ 23,6 bi ao País

Cálculo inclui o que deixaram de ganhar os produtores de soja,
milho e algodão e os fabricantes de sementes


A indefinição do Brasil em relação aos organismos geneticamente modificados já pode ter custado R$ 23,6 bilhões ao País. A informação foi veiculada pela Agência Estado no dia 11 de março. O cálculo refere-se às vantagens que os produtores de soja, milho e algodão teriam deixado de aproveitar. A conta inclui também o que os fabricantes brasileiros de sementes podem ter perdido com o contrabando vindo da Argentina.

Segundo cálculos da Consultoria  Céleres, se 

os sojicultores brasileiros tivessem podido introduzir gradualmente sementes transgênicas, adaptadas a cada região, eles teriam economizado R$ 6,5 bilhões entre as safras de 1996 e 2006. Isto com o dólar cotado a R$ 2,11. Este montante equivale a mais da metade do valor da soja em grãos produzida no Brasil em 2006, que foi de R$ 11,8 bilhões.

O cálculo leva em consideração o que os produtores teriam pago em royalties aos detentores da tecnologia e se baseia nos ganhos obtidos nos Estados Unidos e na Argentina, respectivamente, o primeiro e o terceiro maiores produtores mundiais de soja. O Brasil é o segundo. A Céleres estima que, mesmo da maneira como a soja tolerante a herbicida entrou no mercado, sem a necessária adaptação a cada ambiente de produção, ela rendeu ao agricultor, no período, R$ 2,9 bilhões a mais do que se ele tivesse usado a soja convencional.

A pedido da Agência, a Céleres calculou os prejuízos também para o milho e o algodão resistentes a insetos, considerando que poderiam ter sido introduzidos a partir de 2001. De acordo com a Consultoria, os produtores de milho teriam aumentado sua produção em R$ 8,5 bilhões e, ainda, economizado R$ 2 bilhões em inseticidas e no manejo da lavoura. No caso do algodão, a economia teria sido de R$ 352 milhões e o aumento da produção de pluma e de caroço renderia cerca de R$ 280 milhões a mais. A soma desses prejuízos é de R$ 17,6 bilhões.

Além disso, com as sucessivas autorizações para que os sojicultores conseguissem créditos nos bancos usando sementes não-certificadas - diante do fato consumado do contrabando e da produção própria de sementes transgênicas -, a indústria de sementes do Brasil perdeu, conforme dados da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem, R$ 6 bilhões. Isto apenas nos anos de 2005 e 2006. Segundo o presidente da Abrasem, Ywao Miyamoto, o faturamento de R$ 7,5 bilhões, em 2004, caiu para R$ 5,5 bilhões em 2005. E, em 2006, ficou em R$ 3,5 bilhões.

"A indústria de sementes do Brasil, que tem uma tradição de 40 anos, foi praticamente dizimada pela pirataria", lamentou Miyamoto. O ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, concorda com a análise. "O contrabando de sementes piratas ocupou o espaço da semente nacional por tanto tempo e em tão larga escala que criou uma crise brutal", disse à Agência.

Ações na Justiça, dificuldades de obter os dois terços necessários nas votações e demora na emissão de pareceres pelos representantes da área ambiental têm paralisado a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), à qual cabe autorizar pesquisa e comercialização de produto transgênico.

Media Provisória - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem até o dia 21 para sancionar ou vetar Medida Provisória 327, aprovada na Câmara e no Senado, destinada a destravar a comissão, reduzindo para metade mais um (14, do total de 27) os votos necessários para conceder licenças de comercialização.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que comanda a resistência no governo aos trabalhos da CTNBio, pedirá ao presidente que vete a MP 327. Na visão dela, quem tem de dar licenças ambientais para cultivos transgênicos é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), subordinado a seu ministério. Como a nova Lei de Biossegurança, de 2005, confirmou essa atribuição à CTNBio, Marina quer que, pelo menos, seja mantida a maioria de dois terços, por meio da qual os ambientalistas têm conseguido barrar as autorizações. "A lei foi alterada de forma equivocada", avaliou João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas, encarregado do tema no Ministério do Meio Ambiente.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário também pedirá o veto. "Não vejo nenhum argumento razoável para não manter o quórum de dois terços para as decisões sobre liberação comercial", disse Magda Zanoni, do Núcleo de Estudos Agrários para o Desenvolvimento Rural e representante do Ministério na CTNBio. "Em um ano, fizemos muito", afirmou.

Oposição - Dos 27 integrantes da CTNBio, cinco se opõem sistematicamente a qualquer coisa que conduza à liberação comercial. Dois deles são representantes do Ministério  do Meio 

Ambiente. Um dos integrantes representa o Desenvolvimento Agrário e outro, a Secretaria da Pesca. Um deles, indicado pelo Ministério da Justiça, é representante dos consumidores.

Em tese, seria possível alcançar o quórum de 18 votos. O problema é que os opositores nunca faltam. Enquanto, dificilmente, todos os outros estão presentes. São cientistas, com muitas ocupações, e até com dificuldades financeiras para comparecer em Brasília. Já que a diária de R$ 180, às vezes, não é suficiente para quem tem de viajar até o aeroporto mais próximo.

O ministro da Agricultura pedirá ao presidente que sancione a mudança do quórum, embora vete a parte da MP que libera a venda de algodão produzido com semente transgênica contrabandeada. "O tema dos transgênicos precisa ser encarado de forma técnica, e não emocional", disse Guedes. O Ministério da Ciência e Tecnologia seguirá a mesma linha. "Nunca conseguimos dois terços", disse o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério, Luiz Antonio Barreto de Castro. Ele também foi o primeiro presidente da CTNBio, criada em 1996. "Desde 2005, não liberamos nada", concluiu. 

Estudo da Abrasem mostra
ganho com transgênicos

O ganho econômico anual com o cultivo transgênico de soja, milho e algodão é de US$ 1,13 bilhão. A informação é da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes e Mudas (Abrasem). O estudo da Abrasem considera a área com soja transgênica plantada em 2006/07 e que 50% da área cultivada com milho e algodão pudesse ser ocupada com organismos geneticamente modificados. Atualmente, o cultivo de milho e algodão transgênicos não está liberado no País.

No caso específico da soja, o estudo mostra que o ganho econômico no País, desde a safra 1998/99, pode alcançar US$ 2,9 bilhões. Considerando que o cultivo da soja modificada geneticamente só foi liberado em 2003/04, os ganhos reduziriam para US$ 2,3 bilhões, de acordo com estudo feito pelo economista Edgard Antônio Pereira, da Consultoria Edap e da Unicamp, a pedido da Abrasem.

Segundo Pereira, do total economizado após a liberação comercial da soja transgênica, US$ 1,3 bilhão provém da economia acumulada com redução dos custos de produção e US$ 1 bilhão, do aumento da produtividade.

O relatório do pesquisador ainda indicou que a economia, no caso da liberação do plantio de milho transgênico, poderia alcançar anualmente US$ 192 milhões, considerando a participação de 50% da área plantada com a cultura transgênica. Desse total, US$ 161 milhões resultariam da alta na produtividade e US$ 31 milhões da redução dos custos de produção. Estima-se que a aplicação de milho transgênico reduzirá o consumo de agrotóxicos em 1.739 toneladas por safra.

Com relação ao plantio de algodão transgênico, caso fosse liberado o plantio comercial, a redução na aplicação de agrotóxicos alcançaria 2.893 toneladas por safra. A redução dos custos de produção seria de US$ 35 milhões e os ganhos com produtividade saltariam para US$ 51 milhões, num total de US$ 86 milhões em economia, se considerada também uma área plantada de 50% com algodão geneticamente modificado.

‘’A eficiência das lavouras transgênicas pode ser medida pelo maior controle de pragas e de plantas daninhas, aumentando o rendimento físico. Soma-se a isso a maior eficiência com redução dos custos de produção, proporcionada pela menor aplicação de agrotóxicos’’, disse Miyamoto.


Boletim Informativo nº 949, semana 19 a 25 de março de 2007
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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