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Exportação
de carne bovina, Jean-Yves Carfantan |
As grandes empresas varejistas respondem hoje por mais de 65 % da distribuição de carne bovina no mercado da União Européia (a participação percentual varia de 60 a 80 % conforme o estado membro considerado). A partir de 2004, essas empresas mudaram a sua estratégia de comercialização de carne de qualidade. Continuaram a garantir o respeito de normas exigentes de rastreabilidade e segurança sanitária, mas privilegiaram parcerias de fornecimento com indústrias européias capazes de fornecer grandes volumes de produtos. No novo cenário que prevalece hoje na Europa com a reforma da Política Agrícola Comum (que leva a uma diminuição significativa da oferta local e a uma elevação de preços de carne de qualidade), essa lógica de economia de escala só poderá ser mantida se o varejo europeu conseguir reforçar as suas parcerias com fornecedores não-europeus de carne bovina. Para a bovinocultura brasileira e para as alianças mercadológicas regionais, esse novo contexto significa oportunidades excepcionais de aumento das exportações. Por diversos motivos (competitividade dos produtos, escala de produção) vários varejistas europeus consideram a parceria com brasileiros como a melhor hipótese. As empresas européias sabem que já existem no país diversas cadeias de produção que associam pecuaristas e frigoríficos e respeitam critérios exigentes de qualidade e segurança sanitária. No entanto, em curto prazo, dois problemas podem levar o setor a perder essa oportunidade. O primeiro é ligado ao prazo que os grupos varejistas europeus determinaram. Esse pessoal precisa fechar parcerias com possíveis fornecedores brasileiros nos próximos meses, já que se trata de garantir um fluxo comercial significativo a partir do final de 2007. Alguns grandes frigoríficos brasileiros já perceberam que não dá para deixar "passar o trem" sem reagir. Estão reforçando equipes comerciais que terão como missão negociar com o varejo europeu nos próximos meses. Mas fora esses exemplos a classe produtora ainda não está mobilizada. Por sua vez, as grandes empresas européias de varejo ainda hesitam em apostar numa parceria ambiciosa com fornecedores brasileiros. Sabem que a imagem da carne brasileira junto aos consumidores europeus não é sempre positiva. Alguns supermercados ingleses ou italianos acabaram levando a sério as denunciações de Ongs radicais que acusam os exportadores brasileiros de carne de contribuir com o desflorestamento. Segundo essas empresas varejistas, os frigoríficos brasileiros estariam comprando animais de regiões que têm sido desmatadas para abrigar pastagens. Os boicotes não vão muito para frente porque no contexto atual o Brasil aparece como um dos poucos exportadores que pode fornecer carne de qualidade. No entanto, limitam a penetração do produto nacional e a capacidade de a bovinocultura brasileira tirar proveito rapidamente de uma conjuntura muito favorável. Outro fator que leva os varejistas europeus a hesitar é a falta de confiança na capacidade da cadeia brasileira respeitar efetivamente todos os requisitos de segurança sanitária e qualidade exigidos pelos consumidores europeus. Outrossim, não avaliam como suficientes as múltiplas iniciativas regionais que visam aprimorar a segurança sanitária e a qualidade, pois acham que os grupos de pecuaristas que estão por trás dessas iniciativas não têm como garantir o fornecimento de volumes suficientes de carne. Para o varejo europeu, o parceiro brasileiro ideal seria uma rede formada por um "clube" de pecuaristas e frigoríficos visceralmente comprometidos pelas exigências de qualidade e segurança sanitária. Essa rede teria condição de fornecer volumes de carne compatíveis com as necessidades de mercados importantes e garantiria a cada um dos seus integrantes a justa remuneração dos esforços realizados. As múltiplas experiências regionais que já existem no Brasil mostram que o país pode perfeitamente atender a demanda do mercado europeu. O que importa é transformar essas experiências limitadas em estratégia coletiva capaz de convencer os atores centrais do mercado europeu que são as empresas varejistas. Além de abordar esses temas, o palestrante procurará esclarecer pontos importantes como:
O autor
é francês, economista formado pela Universidade de Rennes (França). |
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Boletim Informativo nº 945,
semana 12 a 18 de fevereiro de 2007 |
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