Morcegos frugívoros, que se alimentam de frutas, podem ser a mais nova ferramenta para a recomposição de áreas degradadas de floresta. A novidade é resultado do trabalho desenvolvido pela pesquisadora da Embrapa Florestas, Sandra Bos Mikich e pelo mastozoólogo Gledson Bianconi, da Sociedade Dritz Muller de ciências Naturais e envolveu três espécies, entre as mais comuns na América Latina: Artibeus lituratus, Sturnica lilium e Carollia perspicillata.
A pesquisa ganhou o Prêmio Ford na categoria “Iniciativa do Ano em Conservação” e consiste em atrair esses morcegos para áreas degradadas pela indução dos odores das frutas de que gostam. Os pesquisadores extraíram óleos essenciais dos frutos consumidos pelas espécies e aplicaram em pequenos pedaços de espuma que foram colocados nas áreas de interesse. Como o sistema digestivo dos morcegos é rápido, cerca de 20 minutos entre os processos de ingestão e eliminação, as sementes consumidas são depositadas na área, garantindo o início do processo de sucessão ecológica, mesmo em áreas onde o banco de sementes foi depauperado em função de seu uso prévio, segundo informações divulgadas pela assessoria de imprensa da Embrapa – Florestas. Outra vantagem apontada é que os morcegos não digerem as sementes, que são eliminadas intactas.
O projeto foi desenvolvido no bioma Mata Atlântica, mas em entrevista ao Jornal Valor Econômico, na edição de 17 de janeiro, Sandra Bos fala de experimentos realizados em áreas abertas pelo pasto e agricultura, onde foi possível testar a real efetividade do morcego como disseminador de sementes: “Conseguimos atrair os morcegos para áreas no noroeste do Paraná, regiões de plantações de soja e milho. Não é o tipo de culturas que eles costumam visitar”, declarou a pesquisadora ao jornal.
A técnica pode se tornar uma ferramenta de baixo custo em programas de recuperação de áreas degradadas que hoje dependem em grande parte do plantio de mudas. A pesquisa não está concluída e deve receber novos investimentos para que se consiga obter um produto que possa ser colocado no mercado. O desafio é isolar o composto químico responsável pela atração e sintetizá-lo.