Em 2006 o setor rural sofreu o rescaldo da crise iniciada em 2004 e agravada em 2005 com a decretação de focos de febre aftosa no Paraná. As receitas dos produtores rurais continuaram sendo afetadas pela política cambial, embora os custos de produção tenham reduzido um pouco, com a estabilização do dólar, mesmo que baixo.
As medidas do Governo Federal, alongando as dívidas dos produtores, apenas deram um refresco, não uma solução. Como há um período de carência nos alongamentos, os produtores vão sentir o peso das dívidas novamente no final de 2007, quando começarem a pagá-las, sem que tenha havido um aumento na receita, por conta dos preços deprimidos pelo câmbio.
O Valor Bruto da Produção agrícola no Paraná vai fechar o terceiro ano consecutivo em queda. Em preços corrigidos, o VBP era de R$ 32,5 bilhões na safra 2003, caiu para R$ 31 bilhões em 2004 e chegou a R$ 25,8 bilhões em 2005. Neste ano, o faturamento da agricultura do estado deve ser de pouco mais de R$ 24 bilhões (Fontes: CNA e Seab-PR).
Quanto aos pecuaristas, a situação continua difícil por conta da febre aftosa, uma vez que o mercado internacional ainda está fechado para nossas carnes bovina e suína e os preços pagos aos produtores permanecem baixos.
O próximo ano de 2007 vai ser um reflexo desta situação, uma vez que não se acredita na possibilidade de uma reversão na política cambial com a depreciação de nossa moeda. Também persiste o fantasma da aftosa, até que o Paraná seja internacionalmente liberado pela OIE e possamos iniciar a difícil escala de reconquista dos mercados, a esta altura tomados por competidores.
Parece que vamos continuar tendo as mesmas dificuldades em relação aos governos federal e estadual. O governo federal parece não ter aprendido a lição da aftosa, que provavelmente veio do Paraguai via Mato Grosso do Sul. Com esse quadro, é indispensável reforçar a vigilância na fronteira, que é de responsabilidade da União, e evitar os costumeiros cortes nos recursos orçamentários destinados à defesa sanitária.
Também se espera que o governo do estado venha tirar da dolorosa lição da aftosa uma estratégia que reforce o nosso sistema para que nunca mais nossos pecuaristas sejam prejudicados como ainda estão sendo.
É indispensável, igualmente, cuidar melhor da infra-estrutura de transporte, da pesquisa e da extensão rural para que o Paraná possa desenvolver novas tecnologias e aumentar a sua competitividade tanto no mercado interno como externo.
No centro de tudo isso está o produtor rural que vem tendo prejuízos contínuos, seja por problemas climáticos, seja por causa da política cambial. Ele precisa recuperar a sua renda para poder voltar a produzir como há 3 ou 4 anos. Desestimulado e descapitalizado, ele não tem como fazer milagres, embora venha fazendo muito mais do que pode, inclusive ajudando o país a gerar saldos positivos em sua balança comercial.
O que faremos em 2007 - O sistema FAEP , a federação e sindicatos rurais – tem a obrigação de defender os interesses dos produtores rurais do Paraná. Sempre fizemos isso e continuaremos a fazê-lo, mesmo que para isso sejamos obrigados a enfrentar as autoridades, como aliás tem sido uma constante.
Acho que 2007 e os anos subseqüentes nos reservam problemas muitos sérios, entre os quais o endividamento dos produtores, a incompreensão dos governos, as ações do MST e a falta de condições para que haja uma produção com renda para o homem do campo – a manutenção da política cambial é exemplo disso.
Ao mesmo tempo, o sistema FAEP vai continuar com seus programas de fortalecimento dos sindicatos rurais e de empreendedorismo na área rural, além dos programas que o SENAR desenvolve de formação profissional de trabalhadores e produtores rurais. Os governos podem não querer nos ajudar, razão suficiente para que os produtores rurais criem as condições para poderem trabalhar num ambiente não muito favorável.