Agropecuária terá uma queda de
4,3%, segundo projeção da CNA

Os cálculos do faturamento da agropecuária projetam uma queda de 4,3% para 2006. Enquanto, em 2005, a receita da agropecuária atingiu R$ 174,0 bilhões, as estimativas para 2006 apontam para o valor de R$ 166,5 bilhões. A redução do faturamento decorre de motivos já conhecidos pelo mercado, como a queda dos preços de alguns produtos e também da valorização cambial, que deprecia os preços internos de algumas commodities.

A redução do VBP tem maior impacto na pecuária que, em 2005, faturou R$ 72,1 bilhões e, em 2006, sinaliza para R$ 67,6 bilhões, registrando queda de 6,27%. Mas esses números ainda refletem a redução dos preços da carne bovina, ocorrida no primeiro semestre do ano. Em junho, houve recuperação, invertendo a tendência de queda no faturamento pecuário.

A carne bovina obteve o maior valor do segmento pecuário, registrando faturamento de R$ 29,2 bilhões, em 2006, contra R$ 31,2 bilhões, em 2005. Em valores absolutos, a carne bovina também apresenta maior queda do segmento, estimada em R$ 2 bilhões. As estimativas para a agricultura indicam que o faturamento bruto do segmento poderá atingir R$ 98,8 bilhões. Em valores absolutos, o faturamento de 2006 registra perdas de R$ 3,0 bilhões em relação a 2005, quando a receita bruta atingiu R$ 101,9 bilhões, revelando queda de 2,98%. ?

Dentro do segmento, o faturamento de grãos e fibras pressiona as receitas da agricultura. Embora registre crescimento de 4,6% da produção, atingindo 117,9 milhões de toneladas, em 2006, o faturamento bruto chega a R$ 46,67 bilhões. A queda foi de 13,72% em relação a 2005, quando as receitas somaram R$ 54,09 bilhões.

A soja é o produto que apresenta maior perda no faturamento em valores absolutos. Em 2005, faturou R$ 26,3 bilhões e as estimativas para 2006 apontam para R$ 22,3 bilhões, com redução de R$ 4,0 bilhões na receita bruta da commodity. Essa queda de faturamento pode ser amenizada pela recuperação dos preços da soja, especialmente em outubro. As expectativas positivas para o consumo mundial do milho e a escassez do trigo no mercado internacional influenciaram positivamente as cotações da soja que, mesmo em período de colheita e de produção recorde nos Estados Unidos, registrou sucessivas altas nas cotações em Chicago.

Apesar de todo esse quadro, no entanto, não se vêem ações do governo estadual em defesa da agricultura, nem mesmo no sentido político, apoiando-a em suas reivindicações em Brasília. Ou mediante um plano de recuperação que estivesse ao alcance das instituições estaduais.

O VBP do milho apresentou aumento de 2,2% em relação ao ano passado. Em 2005, o faturamento bruto da commodity chegou a R$ 10,3 bilhões. Para 2006, as projeções apontam para R$ 10,6 bilhões, como resultado do aumento da produção. A escassez do milho no mercado internacional, conjugada às boas expectativas de demanda mundial, principalmente para atender à produção de etanol, elevaram as cotações do milho no mercado internacional para os maiores patamares desde 2004.

No mercado interno, apesar da intervenção do Governo Federal, com a realização de leilões de PROP, PEP e VEP, os preços continuaram firmes, já que o período é de formação de estoques pelos compradores. Tais fatores trazem a perspectiva de recuperação dos preços do milho, que poderá encerrar o ano com um VBP ainda melhor. O trigo é outra commodity que pode refletir positivamente no resultado do VBP em 2006. Apesar da queda do VBP do trigo em 25,2%, quando comparado ao ano passado, a escassez do produto no mercado internacional tem forçado a escalada de preços, que já atinge valores recordes. O mercado interno já sente os reflexos desta alta de preços no mercado internacional, já que o principal fornecedor de trigo para o Brasil é a Argentina, cuja formação de preços é tomada no mercado internacional.

As estimativas do VBP do algodão indicam o faturamento de R$ 2,5 bilhões em 2006, com queda de 29,4% em relação a 2005, quando o faturamento atingiu R$ 3,5 bilhões. Esse resultado decorre não apenas da redução dos preços, como da queda da produção do algodão. No entanto, as boas perspectivas do mercado internacional do algodão apontam para a recuperação dos preços, o que contribuirá positivamente para o resultado do VBP da agricultura.

Os demais produtos que compõem o VBP somam o faturamento de R$ 52,2 bilhões, contra R$ 47,84 bilhões alcançados no ano passado, o que representa um incremento de R$ 4,8 bilhões no faturamento do segmento da agricultura. Tal desempenho decorre principalmente das boas expectativas de mercado da laranja e da cana-de-açúcar.

As boas perspectivas de preços que o mercado delineou para algumas culturas sinalizam que o resultado do VBP de 2006 poderá ser melhor que as estimativas iniciais. No entanto, não atingirá o desempenho obtido em 2005 e o resultado projetado ainda é insuficiente para cobrir as perdas dos últimos anos.

Para a CNA agronegócio brasileiro mantém trajetória de estagnação

O agronegócio brasileiro prossegue numa trajetória de quase estagnação, com ligeira tendência de melhora até o final do ano. A recuperação de preços já afeta positivamente o segmento de produção vegetal, enquanto o segmento de produção animal só agora começa a reagir. Embora haja pequeno crescimento no agronegócio total, em termos setoriais as evoluções são significativas, sinalizando mudanças substanciais na distribuição da renda dentro do agronegócio. O agronegócio baseado na agricultura deverá se expandir um pouco, mas o agronegócio da pecuária deverá encolher expressivamente.

Nessa redistribuição, o setor primário, representado pelas atividades dentro da porteira da fazenda, perderá bastante: sua renda deverá encolher em termos absolutos. O setor primário arrastará consigo o setor de insumos, com decréscimos tanto no segmento de insumos para a agricultura, como para a pecuária.

A queda dos setores primário e de insumos é compensada por um crescimento moderado da agroindústria voltada à produção vegetal. A indústria de base animal, por sua vez, tende para uma queda apreciável. Comportamento semelhante é esperado para o setor de distribuição: cresce no segmento vegetal e diminui no segmento animal – na média ficará estagnado. ?

Até o final do ano, espera-se alguma melhora geral, ainda que modesta, graças à recuperação nos mercados de produtos agropecuários, que já se faz sentir também no ramo animal. O nível do consumo interno vem crescendo no País – acima mesmo da produção – graças aos programas de distribuição de renda. No front externo, várias commodities estão apresentando melhoria nos seus preços.

Perspectivas - O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro estimado pela Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (CEPEA / USP), com base em dados acumulados de janeiro a setembro, indica uma queda de 0,5% em 2006, em comparação ao ano passado, atingindo a cifra de R$ 534,8 bilhões. Em setembro, no entanto, o setor cresceu 0,43% em relação a agosto, sinalizando possível moderação nessa queda até o final do ano.

O agronegócio da agricultura deverá crescer cerca de 1,2%, enquanto a queda no agronegócio da pecuária será perto de 4,82%. Em setembro, no entanto, esses segmentos cresceram 0,52% e 0,20%, confirmando possível recuperação até o final do ano.

Se considerado apenas o desempenho do setor primário, nas atividades dentro da porteira, projeta-se que o PIB do setor agropecuário somará R$ 148,32 bilhões em 2006, frente aos R$ 153,04 bilhões de 2005. Este resultado representa redução de R$ 4,72 bilhões ou 3,08% na renda dos produtores, se mantidas as mesmas taxas de crescimento nos meses subseqüentes do ano. Tanto para a agricultura, como para a pecuária, a expectativa é de redução do PIB em 2006. O PIB da agricultura deverá somar R$ 83,45 bilhões neste ano, com uma queda de 2,01% em relação ao valor de R$ 85,20 bilhões em 2005. Para a pecuária, a estimativa é de um PIB de R$ 64,87 bilhões, em 2006, ante os R$ 67,84 bilhões no ano passado, com recuo de 4,38%.

Essas projeções baseadas no comportamento até setembro são muito influenciadas pelo desempenho desfavorável da pecuária. No entanto, já no mês de setembro, como reflexo das altas de preço do boi e do frango, observou-se uma recuperação da pecuária, que registrou sua primeira expansão em 2006, com crescimento de 0,39% dentro da porteira. Quanto ao correspondente PIB da agricultura, houve variação negativa de 0,30% em setembro, resultado da estabilidade de preços de alguns produtos, como grãos, café e suco de laranja, em conjunto com queda de outros, como cana-de-açúcar. Desta forma, o PIB da agropecuária, nas atividades dentro da porteira, não sofreu variação em setembro.

Insumos - O índice relativo aos insumos industriais para a agropecuária, com base no desempenho entre janeiro e setembro, mostra que deverá ocorrer uma retração de 4,06% no PIB do setor, em 2006, com queda de 0,21% em setembro. A queda será menos acentuada para os insumos utilizados pela agricultura - da ordem de 3,87% (0,28% em setembro). O segmento de insumos para a pecuária apresentou variação negativa de 0,11% em setembro e, em 2006, deverá cair 4,3%.

A agroindústria cresce pouco e a distribuição ficará estagnada: enquanto o segmento vegetal expande, o segmento animal encolhe muito. O segmento da indústria da agropecuária poderá apresentar crescimento positivo de 1,78%, em 2006, com elevação de 0,79% apenas em setembro. A indústria processadora vegetal, que apresentou elevação de 0,92% em setembro, sinaliza crescimento de quase 3% em 2006. Em contrapartida, o segmento da indústria processadora animal aponta para queda de 5,3%, de 2005 para 2006. Cabe salientar que, em setembro, o recuo apresentado foi muito pequeno, de 0,004%.

O segmento de distribuição do agronegócio poderá permanecer completamente estagnado em 2006. Deverá ser observado o crescimento de 2,36% na distribuição de produtos vegetais, mas também a queda de 5,33% na distribuição de produtos de origem animal.

Boletim Informativo nº 938 , semana de 4 a 10 de dezembro de 2006

FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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