Um ponto em comum entre os projetos de experiência pedagógica selecionados como os melhores do estado é a mobilização da comunidade, não apenas dentro do ambiente escolar, bem como o fato deles terem provocado melhorias na realidade vivida pelas crianças.
O trabalho desenvolvido pela professora Michele dos Santos Telles envolveu a participação de 27 alunos da 1ª série da Escola Jardim Brasília, em Carambeí. O objetivo foi disseminar a cultura empreendedora entre as crianças e despertar na população escolar e na comunidade a possibilidade de inserção no mercado de trabalho por meio de formas criativas.
Durante o ano, a professora promoveu atividades e brincadeiras em sala de aula, entre as quais: leitura, interpretação de textos, pesquisa no dicionário, dinâmicas de grupo, dramatizações, palestras sobre higiene bucal e diabetes, realização do exame de glicemia, vivência das etapas de um plano de negócios para a montagem de uma loja de balas.
De acordo com o relato de Michele, após o término do projeto percebeu-se que os alunos ficaram mais cooperativos, solidários, participativos, criativos, dispostos a ajudar na escola e em casa, conforme testemunho dos pais. “Também valorizam mais o dinheiro. Avançaram na aprendizagem das diversas áreas do conhecimento principalmente na alfabetização”, comenta a professora que também destaca a aproximação entre o processo educativo escolar e a comunidade: “Pelo projeto aprendi que o trabalho com os temas transversais faz com que a relação escola-comunidade não fique apenas no discurso, mas seja efetivada na tarefa cotidiana da escola, ao mesmo tempo em que promove o reconhecimento da comunidade como fonte de conhecimento e de cultura, valorizando saberes e formas de expressão próprios da comunidade, incorporando sua experiência no desenvolvimento curricular e nas práticas de ensino”.
Entre os alunos da 2ª série da professora Izolete Miranda de Oliveira, de Campina Grande do Sul, existe uma criança com deficiência auditiva. O objetivo do trabalho dela foi integrar a linguagem de sinais “libras” por meio de atividades cotidianas, buscando valorizar esta segunda língua na comunicação diária em sala de aula e entre a comunidade escolar.
O resultado foi um sucesso. Segundo Izolete, os alunos conseguiram interagir facilmente. “Após o trabalho percebi que os alunos estão mais participativos. Pedem a palavra em diversas situações em que antes permaneciam calados, fazendo questão de falar se preocupando com o colega que não consegue se comunicar com a fala. Usam gestos, mímicas e libras”.
No decorrer desses meses de trabalho a professora conta que a turma já domina o alfabeto manual e também diversos sinais e seu significado. As atividades promovidas incluíram dramatizações, teatros, músicas, jogos e mímicas. Os alunos tiveram um bom retorno em sua aprendizagem: “Melhorarram na leitura e são mais cordiais com os colegas. A linguagem de sinais colaborou na relação de amizade e ajuda mútua. Esta forma de comunicação criou não somente inclusão e sim uma relação de cidadania e amor, respeitando e valorizando as diferenças”, comenta a professora.
O projeto desenvolvido pela professora Elenice Gonçalves trata da importância de uma vida saudável como princípio básico para uma melhor qualidade de vida. Foi esse o fio condutor de uma série de atividades desenvolvidas durante o ano letivo. O foco foi a turma da educação infantil, mas durante o ano a ação acabou se estendendo a outras turmas, escolas e comunidade em geral. “O projeto é fruto da reflexão e do entendimento de que a escola também é promotora de saúde, uma vez que atua na área preventiva e de conscientização”, relata Elenice.
O grupo trabalhou com a montagem de peça de teatro que abordou importância de uma alimentação saudável e escovação diária dos dentes. Foram feitas palestras com dentistas, inclusive com participação das mães, demonstrando necessidade de escovação dos dentes a partir do evidenciador de placas, que mostra onde a sujeira se acumula. Elenice também trabalhou com o mapeamento da boca dos alunos, onde cada um marcou os dentes careados. Por meio de abaixo-assinado, os alunos reivindicaram um dentista para a escola. Um mês depois a dentista foi contratada. “Pode ter sido coincidência, mas a impressão que ficou é que nossa reivindicação foi aceita”, comenta Elenice.
Além disso, foram promovidas aulas de culinária com o intuito de introduzir hábitos alimentares mais saudáveis entre os alunos. A elaboração de um livro de receitas levou às mães sugestões para o preparo de lanches fáceis e nutritivos. Foi feita complementação da merenda dos alunos da educação infantil. Alguns lanches foram preparadas por eles mesmos: suco, gelatina com frutas, vitaminas, sala de frutas. Os ingredientes foram arrecadados junto aos pais, que contribuíram com o que tinham em casa. Algumas atividades iniciadas na escola ganharam repercussão e por intermédio do Departamento de Educação e Saúde do município essas ações se estenderam para 20 escolas, entre zona rural e urbana, particulares e públicas.
A escola Nossa senhora da Fátima está inserida em uma comunidade agrícola formada por pequenos produtores do município de São João, sudoeste do estado. O trabalho da professora Marli Schilk iniciou com um seminário a respeito da estiagem e outros fatores que afetam o meio ambiente e a atividade agropecuária. Da conversa sobre poluição e destinação do lixo veio à tona um fato comum entre os familiares dos alunos: falta de boas instalações sanitárias, fontes de água sem proteção próximas a chiqueiros e fossas, esgoto a céu aberto, animais domésticos defecando no jardim e na horta, lixo mal acondicionado.
O cruzamento dessas informações com sintomas comumente apresentados pelas crianças: diarréia, dores abdominais, mal-estar, sonolência e palidez despertaram para a necessidade de uma ação efetiva. “Em parceria com escola, comunidade, posto de saúde, legislativo, prefeitura municipal, imprensa e comércio local a luta começou. Iniciamos uma campanha para esclarecer as questões: organização do lixo, qualidade da água e verminose”, relata Marli que aponta o desconhecimento como principal causa da poluição: “Não podemos deixar nossas crianças sofrendo de verminose por falta de informação”. O projeto foi desenvolvido em turma com 15 alunos.
Em uma outra etapa do projeto foi desenvolvida a campanha “Adote uma rua”. Com apoio do comércio local, os alunos confeccionaram e distribuíram panfletos onde pediam à população para colaborar com limpeza da rua de sua casa, acondicionamento correto do lixo, preservação de árvores, flores e pássaros. Junto à administração municipal, eles conseguiram a instalação de lixeiras em frente ao posto de saúde da cidade, escola e áreas de maior circulação de pedestres. “Cada região deve preocupar-se com sua própria realidade e trabalhar para sanar os problemas locais. De nada adianta defender a vida do mico-leão-dourado e esquecer nossas crianças que às vezes acabam morrendo de diarréia e verminose. Para que haja equilíbrio é preciso educar”, conclui Marli.
Boletim Informativo n937 , semana de 27 de novembro a 3 de dezembro de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná