A história se repete *Eduardo Sciarra |
Deputado federal Eduardo Sciarra |
O Brasil, mercê dos investimentos realizados nas últimas décadas, avançou com muito sacrifício, mas de forma extraordinária na pesquisa em genética e em biotecnologia, atingindo o nível dos países mais desenvolvidos. Não é por outra razão, que a agricultura brasileira deu um salto de qualidade e produtividade nas últimas décadas. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer dos últimos 4 anos. A convivência entre ideologia e ciência nunca foi pacífica, em nenhum lugar do mundo e aqui no Paraná não foi diferente. |
É inacreditável que em pleno início do século XXI, nós paranaenses tenhamos que nos confrontar com problemas que foram típicos da Baixa Idade Média ou que foram característicos de regimes autoritários como os implantados pela revolução dos soviets em 1917. O resultado desta "política agrícola" já é conhecido. "A agricultura soviética foi assolada pela praga do obscurantismo que vedou o uso de fertilizantes e sementes híbridas por razões ideológicas" (ibidem). Pode-se creditar à incapacidade de produção de alimentos a queda da União Soviética, que passou a depender sempre mais da importação de alimentos do Ocidente "decadente". Os analistas consideram que esta foi uma das causas mais proeminentes do desmoronamento do império soviético. É impressionante como, às vezes, a história se repete, já que o arsenal de tolices de nossos governantes parece inesgotável. A história está se repetindo sim no Brasil. Sim no Paraná, mais de meio século depois. O governador Requião, extrapolando todos os limites da racionalidade em sua luta contra os transgênicos, é uma reencarnação do Lysenko. Tal como este, Requião fundamenta a sua luta contra a ciência em uma ideologia ultrapassada. A Justiça determinou a reintegração de posse. Por mais de 5 meses, o Chefe do Poder Executivo deixou de cumprir uma ordem judicial. A ordem foi finalmente cumprida pois o Poder Judiciário impôs multa diária pelo não cumprimento da ordem de reintegração. A certeza da proteção do poder público é tão grande que um dos líderes da invasão declarou à reportagem da revista Exame: "Não vamos sair daqui", diz Celso Barbosa, da direção do MST e da Via Campesina. "Nossa meta é transformar a área em um centro de agroecologia voltado para o desenvolvimento de sementes crioulas. Não teremos químicos e vamos usar arados puxados por animais." Este Sr. Barbosa emblematicamente diz para onde o governador está levando o Paraná: vamos usar arados puxados por animais. Muitas vezes parece haver confusão entre pesquisa científica e situação de monopólio ou oligopólio de mercado da produção e comercialização de sementes transgênicas. O monopólio e mesmo oligopólio não é bom em qualquer setor da economia, muito menos na produção de sementes e ninguém é favorável a ele. Mas daí a hostilizar a pesquisa científica chega a ser uma barbárie. Bem ao contrário, é preciso estimular outros laboratórios e empresas a investirem maciçamente em pesquisa para que surjam produtos que acabem com os monopólios. Mas no Paraná esta racionalidade não vale. O que vale é o que foi decidido pelos festivos participantes dos fóruns sociais: é "chic" e "avançado" ser contra os avanços científicos na biotecnologia. O povo brasileiro e o paranaense em especial já paga caro pelo preço dessa insanidade: o Brasil que já foi um dos centros de referência em pesquisa genética, vai ficando inexoravelmente para trás. O governo federal é um pouco mais sofisticado. Não proibiu, mas implantou tanta burocracia, tanta exigência desmedida que, na prática, nada mais é pesquisado, há vários anos. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) é responsável pelas autorizações para experimentos e plantio comercial de sementes geneticamente modificadas. O presidente da Sociedade Brasileira de Melhoramento de Plantas, Aloísio Boren, afirma que a CTNBio não está nessa posição por opção própria, mas sim por causa da dicotomia do governo. O Ministério do Meio Ambiente insiste em obstruir as discussões porque tem uma visão ideológica". Enquanto isto, mais de 500 pedidos aguardam para ser analisados na CTNBio. Esta Comissão foi criada para não funcionar: "Exigir quórum de 2/3 para liberação dos transgênicos também impede os trabalhos", diz o Prof. Boren. É preciso, pois, que fique claro ao povo brasileiro que os governantes que tentam impedir ou enquadrar a ciência dentro de sua perspectiva político-ideológica deverão ser responsabilizados pelo atraso que impõem à nação brasileira. Em nome de uma ideologia impõem atraso ao País que deve à pesquisa científica o avanço da agricultura e da produção de grãos. |
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Boletim Informativo nº 936,
semana de 20 a 26 de novembro de 2006 |
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