O que o campo espera
dos novos governos

Luiz Meneghel Neto

O setor agropecuário brasileiro, em especial o paranaense, viveu um período muito conturbado nos últimos anos. Primeiro, transformou os organismos geneticamente modificados em vilões, sem que nada tenha sido comprovado contra, enquanto nossos concorrentes ganham o espaço que perdemos nas lavouras, nos portos e no mercado internacional.

Diante da postura radical e emotiva de algumas autoridades, exportadores paranaenses desviaram suas exportações para os portos de Santos e São Francisco do Sul, enquanto que Paranaguá deixa de cumprir sua missão como corredor de exportações de nossa produção e aguarda investimentos para sua modernização e competitividade.

Recentemente, Santa Catarina anunciou grandes investimentos em São Francisco e Navegantes, para atender ao aumento das exportações, parte com origem no Paraná.

O Paraná também foi vítima da incompetência das autoridades em administrar um suposto caso de febre aftosa, transformando o "desconfiômetro" num prejuízo de milhares de dólares em produção interna, empregos, renda e exportações. Prejuízo irrecuperável e com severa repercussão na imagem junto aos países importadores.

Gastou-se tempo e dinheiro em brigas de adolescentes raivosos, enquanto aqueles que alcançaram a maturidade prosseguiram sua caminhada racional na produção e busca de resultados.

Também continuamos vivendo o terror das invasões ilegais de propriedades, que pela forma como ocorrem parecem estar sendo patrocinadas e apoiadas por instituições com poder político. Apesar de condenar essas invasões, nem o governo federal se mostrou capaz de cumprir a lei no que diz respeito à reintegração de posse. Com o rabo preso no passado histórico, o governo patina no lodo provocado por um movimento que tem apenas objetivos políticos. Com essa insegurança, afastam-se importantes investimentos no agronegócio.

Os problemas não param aí. Às vésperas das eleições de outubro, o governo cedeu às pressões dos produtores gaúchos e autorizou o plantio de grãos ilegais de soja transgênica como semente. O que esperar de um governo conivente com a ilegalidade, e que contribui para desmantelar a estrutura produtiva de sementes legais?

De positivo contabilizamos a publicação da MP n.º 327 e do Decreto n.º 5.950, que dá uma solução ao problema do plantio de OGMs próximo às áreas de amortecimento. Essas medidas demonstram que é possível, em meio a tantos problemas, o governo ter atitudes racionais.

Passado o período de insanidade diante do quadro político e do fato do presidente e do governador não poderem ser reeleitos em 2010, esperamos que as coisas melhorem a partir deste ano. É hora de colocar a casa em ordem, de atuar racionalmente, promover o crescimento e as boas relações entre governantes e governados e, além do mais, alcançar a maturidade. Nenhum ocupante é dono dos seus cargos, pois estes pertencem aos eleitores. No Paraná, os eleitores demonstraram com clareza o quanto é preciso mudar.

Portanto, deixemos de lado o comportamento de adolescentes e vamos trabalhar!

Luiz Meneghel Neto é engenheiro florestal, produtor rural e presidente da
Apasem – Associação Paranaense de Produtores de Sementes e Mudas


Boletim Informativo nº 936, semana de 20 a 26 de novembro de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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