Soja
transgênica avança, apesar |
Mesmo sendo alvo de uma verdadeira cruzada do governo estadual contra seu plantio e comercialização, a soja transgênica avança rapidamente pelo Paraná, dobrando a área plantada em relação à safra anterior e podendo ultrapassar 50% do total de terras destinadas à cultura no estado. O avanço sobre mais de 50% da área plantada é previsto pela Embrapa Soja e pela Coodetec. Os pesquisadores das duas empresas estimam a área com base na quantidade de sementes OGM disponível para safra 2006/07. São quase 4 milhões de sacas destinadas ao Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, suficientes para semear mais de 3 milhões de hectares. |
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A participação da semente geneticamente modificada (OGM) só não será maior pela falta de variedades adaptadas às diversas regiões do estado. Se a estimativa for confirmada, 1,62 milhão de hectares serão cobertos com a soja Roundup Ready no Paraná, tecnologia que garante a tolerância ao glifosato, produto utilizado para controlar as ervas daninhas da lavoura. A |
consultoria de mercado Kleffmann estima que na última safra a área transgênica foi em média de 19% no Paraná e de 32% no Brasil, atingindo 99% no Rio Grande do Sul. De acordo com a Associação Paranaense de Produtores de Sementes e Mudas (Apasem) existem 4,2 milhões de sacas de sementes disponíveis para cultivo 2006/07 no estado. Desse total, 37%, ou 1,55 milhão de sacas, são de soja OGM. OGM X Convencional Um estudo comparativo feito pela Embrapa Soja, dentro do programa Treino & Visita, de autoria dos agrônomos Lineu Domit e Fernando Adegas, mostra que o diferencial no custo de produção entre soja transgênica e a convencional está, basicamente, na utilização do herbicida e no valor da taxa tecnológica. A análise econômica não contempla questões como o potencial de produtividade; preço de venda; e custos adicionais, como de segregação e transporte que, segundo Adegas, devem ser analisados de acordo com a realidade de cada produtor e região. As despesas com sementes e custo de operação de máquinas são idênticas. Nas três simulações apresentadas, para lavouras de baixa, média e alta infestação de ervas daninhas, a soja RR tem uma vantagem competitiva econômica no orçamento da lavoura. Na primeira situação, o custo por hectare é de R$ 687 para OMG, contra R$ 697 da convencional. Em áreas de média infestação de plantas invasoras, a relação fica de R$ 691 para R$ 720. No terceiro cenário R$ 695 para R$ 745.No desembolso com insumos e serviços, o custo de produção da soja RR fica entre 1,45 % até 7% mais baixo. A diferença só não é maior por causa da taxa tecnológica de R$ 0,30 por quilo de semente transgênica – para efeito de cálculo, foi considerado o valor pago na compra da semente – despesa que não onera o plantio convencional. No final das contas, o que garante a vantagem do transgênico é o herbicida, a um custo médio de R$ 20 a R$ 28 por hectares, contra um gasto de R$ 48 a R$ 96 na soja convencional, conforme o grau de infestação da lavoura. O exemplo do produtor Nelson Paludo, de Toledo (Oeste), ajuda a referendar o estudo. Na última safra ele obteve a mesma produtividade com a soja transgênica e convencional e na comercialização não recebeu nenhum diferencial de preço. No ano passado, ele plantou 70% da área de soja com variedade transgênica e agora vai plantar 100%. "A opção é baseada em redução de custo no controle às ervas daninhas, mas principalmente pela facilidade de manejo." Segundo Ivo Carraro, diretor-executivo da Coodetec, mesmo se o orçamento fosse igual ao da convencional, a opção pela soja transgênica viria "pela facilidade de manejo, poucas aplicações e flexibilidade para administrar o defensivo." Na propriedade de Roberto Tonet, em Campo Mourão (Noroeste), 70% da área será com soja modificada. Em condições normais de desenvolvimento da lavoura, ele espera uma produtividade entre 55 e 60 sacas por hectare ou 3.300 a 3.600 quilos. Um rendimento acima da média histórica do estado, de 2.800 quilos. Tonet faz a opção pelo OGM pensando na redução de custos e no manejo mais flexível. Desafio é adaptar variedades e ganhar produtividade Depois de identificar e introduzir o gene resistente ao glifosato, a pesquisa se esforça para obter melhor rendimento das variedades transgênicas. A soja Roundup Ready protege a planta da ação do herbicida, mas não interfere na produtividade. Os pesquisadores buscam agora o ganho genético e a adaptação dos materiais aos microclimas das regiões produtoras. Na cooperativa Agrária, distrito de Entre Rios, em Guarapuava (Centro-Sul), 13% da área de 75 mil hectares destinados à oleaginosa serão lavouras transgênicas. Roberto Satller, gerente de unidades da cooperativa, explica que só não será maior pela falta de variedades adaptadas. Em meio ao avanço da tecnologia, o Paraná ainda preserva verdadeiros oásis de soja convencional. Um exemplo é o produtor Ivo Arnt Filho, que administra um grupo familiar em Tibagi (Campos Gerais), que não planta OGM "por conveniência e por questões de ideologias". Ele explica que não é contra o transgênico, mas que, neste momento, apenas não precisa dessa tecnologia. "Faço rotação de cultura, minhas lavouras têm baixa infestação de plantas daninhas e não uso herbicida de folha larga", relata Arnt para justificar sua opção por uma questão de custo-benefício. Arnt faz parte do Grupo de Agronômos de Tibagi, que plantam ou então representam produtores que somam 60 mil hectares de lavouras, "onde ninguém vai plantar transgênico". Restrições
ambientais |
Pela Lei Federal 10.814, de 2003, fica vetado o cultivo de organismos geneticamente modificados |
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nessas regiões. A legislação, no entanto, não define a extensão da área de amortecimento, que deve ser estabelecida em um plano de manejo específico para cada unidade de conservação. Na ausência dessa regras, a fiscalização se ampara na Resolução 13 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 2002, que exige o licenciamento ambiental para qualquer atividade desenvolvida num raio de 10 quilômetros. Se considerada a área de 400 mil hectares dos 129 parques municipais, estaduais e federais do Paraná, a faixa de amortecimento pode atingir 4 milhões de hectares, explica Gustavo Sbrissia, da área técnica-econômica da Ocepar. As entidades de representação do agronegócio defendem a redução dessa faixa para 500 metros. Ainda assim, 60 mil hectares ficariam amparados pela lei. Gustavo cita o exemplo da Reserva Biológica dos Perobais, em Tunas do Oeste e Cianorte, que abre um precedente na discussão. A lei que criou essa unidade, em março de 2006, estabelece que o raio de amortecimento nessa unidade é de 500 metros. Outra polêmica na difícil missão de produzir e preservar, independente de plantar soja transgênica ou convencional, está na reserva legal e na preservação e recuperação da mata ciliar. A legislação é clara na responsabilidade do produtor: destinar 20% da área para mata nativa (Reserva Legal) e uma faixa entre 30 e 500 metros às margens dos rios e nascentes, proporcionalmente ao tamanho da fonte ou ribeirão (área de preservação permanente) . "Isso pode inviabilizar as pequenas propriedades", alerta Luiz Anselmo Tourinho, do departamento técnico da Faep, que atua no setor de meio ambiente. Ele lembra que há esforços para alterar o Código Florestal, com a proposta de poder contar a área de preservação permanente no cálculo da reserva legal. "O setor está consciente da necessidade de preservação, mas o agricultor também precisa produzir, por isso defendemos a incorporação dessas duas obrigações." |
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Boletim Informativo nº 933,
semana de 23 a 29 de outubro de 2006 |
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