Soja transgênica avança, apesar
da "cruzada" do governo do PR

Mesmo sendo alvo de uma verdadeira cruzada do governo estadual contra seu plantio e comercialização, a soja transgênica avança rapidamente pelo Paraná, dobrando a área plantada em relação à safra anterior e podendo ultrapassar 50% do total de terras destinadas à cultura no estado.

O avanço sobre mais de 50% da área plantada é previsto pela Embrapa Soja e pela Coodetec. Os pesquisadores das duas empresas estimam a área com base na quantidade de sementes OGM disponível para safra 2006/07. São quase 4 milhões de sacas destinadas ao Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, suficientes para semear mais de 3 milhões de hectares.


Um estudo comparativo feito pela Embrapa Soja mostra
que o diferencial no custo de produção entre soja
transgênica e a convencional está, basicamente, na
utilização do herbicida e no valor da taxa tecnológica


   Um levantamento de campo, feito pelo projeto Rumos da Safra, do jornal Gazeta do Povo, confirma o crescimento da intenção de plantio de transgênicos e mostra que essas variedades devem ocupar pelo menos 41% da área cultivada com soja no Paraná. O projeto tem apoio técnico da Federação da Agricultura do Paraná (FAEP) e da Organização das Cooperativas (Ocepar); a segunda reportagem, de uma série de quatro, saiu na última terça-feira, 17 de outubro, no caderno Caminhos do Campo.



De acordo com a Associação Paranaense de Produtores
de Sementes e Mudas (Apasem) existem 4,2 milhões de
sacas de sementes disponíveis para cultivo 2006/07 no
estado. Desse total, 37%, ou 1,55 milhão de sacas, são
de soja OGM


   O percentual de 41% foi tabulado a partir de pesquisa de campo realizada entre os dias 11 de setembro e 3 de outubro. Foram ouvidos produtores, cooperativas, revendas e empresas de pesquisa que desenvolvem variedades de soja OGM. A amostragem contempla um universo de 30 mil produtores e uma área superior a 2,5 milhões de hectares.

A participação da semente geneticamente modificada (OGM) só não será maior pela falta de variedades adaptadas às diversas regiões do estado. Se a estimativa for confirmada, 1,62 milhão de hectares serão cobertos com a soja Roundup Ready no Paraná, tecnologia que garante a tolerância ao glifosato, produto utilizado para controlar as ervas daninhas da lavoura. A

consultoria de mercado Kleffmann estima que na última safra a área transgênica foi em média de 19% no Paraná e de 32% no Brasil, atingindo 99% no Rio Grande do Sul.

De acordo com a Associação Paranaense de Produtores de Sementes e Mudas (Apasem) existem 4,2 milhões de sacas de sementes disponíveis para cultivo 2006/07 no estado. Desse total, 37%, ou 1,55 milhão de sacas, são de soja OGM.

OGM X Convencional

Um estudo comparativo feito pela Embrapa Soja, dentro do programa Treino & Visita, de autoria dos agrônomos Lineu Domit e Fernando Adegas, mostra que o diferencial no custo de produção entre soja transgênica e a convencional está, basicamente, na utilização do herbicida e no valor da taxa tecnológica. A análise econômica não contempla questões como o potencial de produtividade; preço de venda; e custos adicionais, como de segregação e transporte que, segundo Adegas, devem ser analisados de acordo com a realidade de cada produtor e região. As despesas com sementes e custo de operação de máquinas são idênticas.

Nas três simulações apresentadas, para lavouras de baixa, média e alta infestação de ervas daninhas, a soja RR tem uma vantagem competitiva econômica no orçamento da lavoura. Na primeira situação, o custo por hectare é de R$ 687 para OMG, contra R$ 697 da convencional. Em áreas de média infestação de plantas invasoras, a relação fica de R$ 691 para R$ 720. No terceiro cenário R$ 695 para R$ 745.No desembolso com insumos e serviços, o custo de produção da soja RR fica entre 1,45 % até 7% mais baixo. A diferença só não é maior por causa da taxa tecnológica de R$ 0,30 por quilo de semente transgênica – para efeito de cálculo, foi considerado o valor pago na compra da semente – despesa que não onera o plantio convencional. No final das contas, o que garante a vantagem do transgênico é o herbicida, a um custo médio de R$ 20 a R$ 28 por hectares, contra um gasto de R$ 48 a R$ 96 na soja convencional, conforme o grau de infestação da lavoura.

O exemplo do produtor Nelson Paludo, de Toledo (Oeste), ajuda a referendar o estudo. Na última safra ele obteve a mesma produtividade com a soja transgênica e convencional e na comercialização não recebeu nenhum diferencial de preço. No ano passado, ele plantou 70% da área de soja com variedade transgênica e agora vai plantar 100%. "A opção é baseada em redução de custo no controle às ervas daninhas, mas principalmente pela facilidade de manejo."

Segundo Ivo Carraro, diretor-executivo da Coodetec, mesmo se o orçamento fosse igual ao da convencional, a opção pela soja transgênica viria "pela facilidade de manejo, poucas aplicações e flexibilidade para administrar o defensivo."

Na propriedade de Roberto Tonet, em Campo Mourão (Noroeste), 70% da área será com soja modificada. Em condições normais de desenvolvimento da lavoura, ele espera uma produtividade entre 55 e 60 sacas por hectare ou 3.300 a 3.600 quilos. Um rendimento acima da média histórica do estado, de 2.800 quilos. Tonet faz a opção pelo OGM pensando na redução de custos e no manejo mais flexível.

Desafio é adaptar variedades e ganhar produtividade

Depois de identificar e introduzir o gene resistente ao glifosato, a pesquisa se esforça para obter melhor rendimento das variedades transgênicas. A soja Roundup Ready protege a planta da ação do herbicida, mas não interfere na produtividade. Os pesquisadores buscam agora o ganho genético e a adaptação dos materiais aos microclimas das regiões produtoras.

Na cooperativa Agrária, distrito de Entre Rios, em Guarapuava (Centro-Sul), 13% da área de 75 mil hectares destinados à oleaginosa serão lavouras transgênicas. Roberto Satller, gerente de unidades da cooperativa, explica que só não será maior pela falta de variedades adaptadas.

Em meio ao avanço da tecnologia, o Paraná ainda preserva verdadeiros oásis de soja convencional. Um exemplo é o produtor Ivo Arnt Filho, que administra um grupo familiar em Tibagi (Campos Gerais), que não planta OGM "por conveniência e por questões de ideologias".

Ele explica que não é contra o transgênico, mas que, neste momento, apenas não precisa dessa tecnologia. "Faço rotação de cultura, minhas lavouras têm baixa infestação de plantas daninhas e não uso herbicida de folha larga", relata Arnt para justificar sua opção por uma questão de custo-benefício. Arnt faz parte do Grupo de Agronômos de Tibagi, que plantam ou então representam produtores que somam 60 mil hectares de lavouras, "onde ninguém vai plantar transgênico".

Restrições ambientais
ainda limitam o plantio


   Vencida a polêmica sobre a legalidade do cultivo e comercialização da soja transgênica, os produtores se deparam agora com outras restrições, de natureza ambiental. A discussão envolve as chamadas faixas de amortecimento às margens de parques. As áreas de proteção ambiental (APA), reservas indígenas e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) não exigem áreas de amortecimento.

Pela Lei Federal 10.814, de 2003, fica vetado o cultivo de organismos geneticamente modificados


nessas regiões. A legislação, no entanto, não define a extensão da área de amortecimento, que deve ser estabelecida em um plano de manejo específico para cada unidade de conservação.

Na ausência dessa regras, a fiscalização se ampara na Resolução 13 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 2002, que exige o licenciamento ambiental para qualquer atividade desenvolvida num raio de 10 quilômetros. Se considerada a área de 400 mil hectares dos 129 parques municipais, estaduais e federais do Paraná, a faixa de amortecimento pode atingir 4 milhões de hectares, explica Gustavo Sbrissia, da área técnica-econômica da Ocepar. As entidades de representação do agronegócio defendem a redução dessa faixa para 500 metros. Ainda assim, 60 mil hectares ficariam amparados pela lei. Gustavo cita o exemplo da Reserva Biológica dos Perobais, em Tunas do Oeste e Cianorte, que abre um precedente na discussão. A lei que criou essa unidade, em março de 2006, estabelece que o raio de amortecimento nessa unidade é de 500 metros.

Outra polêmica na difícil missão de produzir e preservar, independente de plantar soja transgênica ou convencional, está na reserva legal e na preservação e recuperação da mata ciliar. A legislação é clara na responsabilidade do produtor: destinar 20% da área para mata nativa (Reserva Legal) e uma faixa entre 30 e 500 metros às margens dos rios e nascentes, proporcionalmente ao tamanho da fonte ou ribeirão (área de preservação permanente) .

"Isso pode inviabilizar as pequenas propriedades", alerta Luiz Anselmo Tourinho, do departamento técnico da Faep, que atua no setor de meio ambiente. Ele lembra que há esforços para alterar o Código Florestal, com a proposta de poder contar a área de preservação permanente no cálculo da reserva legal. "O setor está consciente da necessidade de preservação, mas o agricultor também precisa produzir, por isso defendemos a incorporação dessas duas obrigações."


Boletim Informativo nº 933, semana de 23 a 29 de outubro de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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