Leite

Análise aponta correlação
entre câmbio e exportação

Os laticínios paranaenses e brasileiros vislumbraram um notável crescimento em 2004 e 2005, por aumento de competitividade e reflexo da taxa cambial de 2003, fatores que viabilizaram muitas das operações e abriram oportunidade de mercado externo.

No Paraná, o ano de 2005 mostrou desempenho relevante dos exportadores: dos 25 lácteos registrados no sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior (ALICE), 9 apresentaram crescimento significativo. O total das exportações em dólares mais que dobrou em relação a 2004. Com atenção especial a ser dada ao leite em pó, à manteiga e aos queijos. O queijo mussarela que, no Paraná, teve uma representatividade média de 90% do total do produto exportado no País, obteve um crescimento de 122% no período e consagrou-se como principal lácteo no ranking dos exportados em 2004 e 2005. Contudo sofre grande retração em 2006.

Os contratos de manteiga comercializados no auge das exportações representaram 48% do total do produto exportado pelo Brasil, totalizando US$ 1,47 milhões. Da mesma maneira, o leite em pó integral obteve ótimos resultados, US$ 3,22 milhões, porém com baixa representatividade, apenas 7% do total exportado. No entanto, até julho de 2006 ainda não haviam sido negociados contratos deste produto no Estado.

Os queijos fundidos, apesar de apresentarem um crescimento de 15% nas exportações (2005 ante 2004), vêm perdendo representatividade no País. O produto que foi o "carro chefe" das exportações do Estado durante vários anos e chegou a representar 90% do total brasileiro em 2002, hoje representa apenas 26%, conforme os dados do 1º semestre de 2006. A boa notícia é que o produto vem obtendo melhor remuneração nos períodos comparados.

O Paraná representou 17,5% de todas as exportações brasileiras em 2005, apresentando crescimento muito maior que o do País no ano, 138% em comparação a 35% .

Isso posto retrataria cenários ótimos em 2004 e 2005 e um cenário razoavelmente bom em 2006, uma vez que as exportações vinham crescendo em ritmo acelerado de 24% ao ano e o acumulado para o ano atual é semelhante ao total de 2004. Porém, essa não é a realidade. O que se vê é um esforço da indústria para cumprir contratos, mesmo obtendo grandes prejuízos por conta da política cambial atual, na qual o Real está supervalorizado. Da mesma maneira os produtores pagaram sua cota de sacrifício: no 2º semestre de 2005 as exportações se viabilizaram às custas de redução de 27% no preço da matéria prima.

Os altos investimentos realizados pelos laticínios brasileiros em 2004 e 2005 caíram a menos da metade em 2006. Segundo noticiado na imprensa, no Paraná a Frimesa abortou um projeto de exportação de queijos especiais para a Coréia, cujos investimentos foram da ordem de R$ 6 milhões. A empresa teve 20% de prejuízo nas transações por causa do câmbio, o que a fez reduzir em 200 mil litros diários a sua captação, passando de 800 para 600 mil. Também no Paraná, a Confepar investiu R$18 milhões em estrutura para fabricação de leite em pó, almejando um acréscimo para 30% na produção. No entanto, ao contrário do planejado, houve um decréscimo de 30%. O maior gasto com ampliação do parque produtivo em 2006 foi feito pela Itambé, R$ 270 milhões em duas fábricas, GO e MG.

Fora o prejuízo, o cumprimento dos contratos tem pontos positivos, além da credibilidade conquistada e mantida frente aos compradores externos, existe a preocupação em dar sustentabilidade aos produtores. É sabido que há um aumento na captação de leite pelos laticínios, segundo o Índice de Captação de Leite (ICA-L), do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq-USP (CEPEA), o Brasil mostra o terceiro maior crescimento da produção em comparação aos principais produtores, ficando atrás apenas da China e da Argentina.

O CEPEA relatou que até julho desse ano a balança comercial do leite se manteve positiva, obtendo um superávit de US$ 4,15 milhões. Dentre os principais compradores estão Venezuela, Cuba, Angola, EUA e Argentina. Isso significa um cenário frágil, tendo em vista a realidade político-econômica desses países.

É imprescindível que o Brasil se firme como exportador, pois o crescimento da produção verificado e o potencial crescimento reprimido (possibilidade de elevar facilmente a média brasileira de 1100L. de leite vaca/ano para 3000/l) indicam que os produtores brasileiros têm três alternativas:

  • Produzir menos, o que poderá ocorrer por pressão de mercado. Porém, tirará dos produtores o ganho em escala;

  • Incentivar um aporte de consumo através de marketing, alternativa viável tendo em vista que o consumo nacional está abaixo do recomendado de 140Kg/hab, porém esbarra no fator renda da população;

  • Exportar.

Destas, a alternativa mais concreta é a exportação que voltará a ser interessante caso venham ocorrer as mudanças tão necessárias na política cambial para o próximo governo, de maneira a escoar a produção em canais alternativos e, por conseguinte, garantir a rentabilidade do setor.

_____________________________
Claudius Augustus Faggion Filho
DTE/FAEP – Sob orientação de
Maria Sílvia C. Digiovani e Gilda Bozza


Boletim Informativo nº 932, semana de 16 a 22 de outubro de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

VOLTAR