Jornal Gazeta do Povo

Pobre agricultor

O Paraná acaba de reconhecer e quantificar oficialmente um fato sem precedentes na sua história: a agropecuária estadual empobreceu 12% entre 2004 e 2005. O valor bruto da produção caiu no período de R$ 29,3 bilhões para R$ 25,8 bilhões, segundo cálculos divulgados na semana passada pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura. Se descontada a inflação, a perda real é ainda maior, ultrapassando a casa dos 17% nos dois anos.

Salvo quando da ocorrência da grande geada negra que dizimou a cafeicultura e todas as lavouras de inverno no trágico 17 de julho de 1975, não se tinha notícia de um cataclismo maior do que o agora registrado no Paraná. A grande diferença é que aquele de 31 anos atrás foi logo superado, enquanto que o atual, além de não oferecer vislumbre de saída, tende a produzir efeitos ainda mais catastróficos a longo prazo.

Os azares climáticos de 75 encontraram resposta rápida pelas mãos dos próprios agricultores e também graças a maciço apoio governamental. A agricultura paranaense, até então baseada na monocultura cafeeira, pôde então diversificar-se. A pesquisa, a assistência técnica e os organismos de fomento garantiram segurança e êxito ao processo de mudança do perfil agrícola, enquanto que o crédito oficial, abundante e barato, viabilizou grandes investimentos na modernização do campo. O resultado é que, em pouco tempo, o Paraná atingiu posição de liderança na produção de grãos do país, batendo recordes sucessivos ano após ano.

Os azares que se vêm registrando desde 2004 são de natureza diferente. Houve, sim, problemas climáticos graves e queda nas cotações internacionais de algumas commodities, mas as causas mais importantes situam-se na inexistência de uma política agrícola consistente somada à política econômica do governo federal, baseada no tripé da valorização cambial, das altas taxas de juros e da elevada carga tributária.

O resultado dessa equação não poderia ser pior, como se comprova com cálculos desenvolvidos pela Federação da Agricultura do Paraná (Faep): o produtor de soja, milho ou trigo que, há dois anos, faturava em média R$ 1.407,00 por hectare, viu seu rendimento despencar para R$ 859,00, ou seja, uma diminuição de quase 40%! Esta conta torna evidente o empobrecimento do agricultor paranaense, com conseqüências que se refletem imediatamente sobre outros setores.

Segundo dados do IBGE, os estados líderes do agronegócio brasileiro apresentaram os piores desempenhos no comércio varejista nos últimos meses. Enquanto a média nacional de crescimento do setor foi de 5,6%, o Paraná – um desses estados líderes – registrou uma taxa positiva de apenas 0,36%. A venda de máquinas e implementos agrícolas caiu 37%, assim como a de outros insumos básicos, como adubos e defensivos. É claro que, por conta disso, milhares de postos de trabalho foram fechados no interior.

As autoridades federais, responsáveis por grande parte do drama vivido pela agricultura, fazem-se de cegas, surdas e mudas. Além de medidas paliativas e insuficientes, não oferecem o menor sinal de efetiva preocupação e de busca de soluções definitivas. É incompreensível.

(Editorial do jornal Gazeta do Povo, de 15 de julho de 2006)


Boletim Informativo nº 921, semana de 24 a 30 de julho de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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