Integração
lavoura pecuária exige |
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Em continuidade à entrevista iniciada em março (Boletim 905) com os professores Aníbal de Moraes (UFPR) e Claudete Lang (UEPG) sobre o tema Integração Lavoura – Pecuária, abordamos agora aspectos importantes, relacionados ao manejo dos animais e das pastagens de aveia e azevém nos meses frios do ano. O desenvolvimento das pastagens de inverno deste ano não está satisfatório, devido a falta de chuvas e de umidade. No entanto, as recomendações de manejo não mudam e continuam as mesmas, com um grau de importância maior ainda, pela deficiência hídrica originada da seca. |
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Aníval de Moraes |
Uma primeira questão de dúvida para alguns produtores refere-se à forma de utilização da aveia e do azevém. Qual a melhor maneira: fazer o pastejo com os animais ou cortar e servir no coxo? Professor Aníbal - O pastejo é a forma mais eficiente sob dois aspectos. Primeiro, do ponto de vista econômico, o corte implica na necessidade de se ter equipamentos na propriedade. Se for fazer feno ou silagem deve-se utilizar mais equipamentos, mão- de- obra, combustível, transporte, armazenamento, trabalhadores no fornecimento aos animais. E depois ainda, teria o transporte dos dejetos dos animais para a lavoura. Isto tudo encarece o sistema de produção. Em segundo lugar, quanto ao desempenho da pastagem: quando pastejada diretamente pelo animal, cresce melhor do que quando é cortada. Os animais sobre a pastagem facilitam a ciclagem dos nutrientes. Isto, fezes e urinas devolvem ao solo a maior parte dos nutrientes retirados da pastagem pelos animais. Por outro lado, o fato do animal pastejar diretamente |
estabelece uma relação positiva entre a planta e o animal, que é benéfico ao desenvolvimento das plantas. Outra dúvida é quanto ao método de pastejo, qual é o melhor, contínuo ou rotacionado? Aníbal - Após vários anos de pesquisa, o consenso no meio técnico é de que, mais importante do que o método, é o correto manejo que determina a resposta positiva. Para as espécies de inverno, aveia e azevém, recomendamos a forma de lotação contínua. No rotacionado, a alta carga animal sobre um piquete durante uma semana, em condições de chuva, pode acabar com a pastagem pelo pisoteio dos animais. No caso da lotação contínua, há uma diluição do rebanho sobre a área e não há perigo. Por isto, recomendamos para pastagens de inverno utilizadas na rotação com lavouras, o método de lotação contínua. O método rotacionado é mais recomendável para pastagens de verão que tem um crescimento mais acentuado. Com este método consegue-se um melhor controle sobre o acúmulo de colmos e folhas mortas. Por serem pastagens perenes, estando bem formadas e bem manejadas com adubações e lotações adequadas, enfrentam menor risco de sofrer com o pisoteio de uma alta carga animal sobre os piquetes. Qual o momento ideal para colocar os animais na pastagem de azevém e aveia? Professora Claudete - Se não fosse a estiagem que prejudicou muito o desenvolvimento das plantas, normalmente teríamos condições de colocar os animais em pastejo entre os meses de maio e junho em praticamente todas as áreas do Estado. O que determina o momento de entrada dos animais é a massa de forragem formada pelas plantas, massa esta representada pela quantidade de folhas que a parte mais nutritiva das forragens e que será melhor aproveitada pelos animais. Esta massa também é importante por que, quanto maior, maior será a área de captura de energia solar que resultará em maior desenvolvimento das plantas. Normalmente, as condições ideais para a entrada dos animais ocorrem quando as plantas tiverem em torno de 30 centímetros de altura. Nesta fase, além da parte aérea, as raízes também estarão bem desenvolvidas. Portanto, não serão arrancadas pelo pastejo. Por outro lado, se o produtor demorar muito a iniciar o pastejo, a aveia que tem um crescimento mais rápido do que o azevém acabará por sombrear e prejudicar o desenvolvimento do azevém. |
Aníbal - Como o método indicado é a lotação contínua, os animais permanecerão o tempo todo na área. A duração deste tempo dependerá do manejo e das condições de tempo, e do prazo máximo para retirada dos animais para se fazer a dessecação, com vista ao plantio da cultura de verão. Se os animais entram em maio, a aveia é pastejada nos meses de maio e junho e o azevém a partir de julho, até setembro ou outubro. Isto em condições normais de umidade e temperatura resulta num período de 120 a 150 dias de pastejo. O que não será possível atingir neste ano. Qual a altura de manejo da pastagem de inverno? Anibal - Estudos realizados no sul do Brasil indicam que a altura ideal fica em torno de 20 centímetros. Esta altura |
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atende a necessidade dos animais, permitindo ganho de peso ideal. Por outro lado, a planta tem uma garantia de área foliar suficiente para interceptação de radiação solar, e para continuar rebrotando adequadamente, além de permitir uma boa cobertura. No final, com a dessecação, fornecerá uma cobertura vegetal satisfatória do solo, para a semeadura das culturas de verão. Quando retirar os animais? Claudete - Havendo um bom manejo e boas condições de clima e solo, os animais somente serão retirados no final do ciclo da aveia e do azevém. Ou então, para atender o prazo de plantio das culturas subsequentes. Se a lavoura a ser cultivada for o milho, a retirada será mais cedo (meados de setembro até meados de outubro) não mais tarde do que isto, para não prejudicar a melhor data para o plantio da lavoura de milho na seqüência. Se a cultura for a soja, a retirada dos animais pode ser mais tardia (final de out/nov), período que coincide com o ciclo do azevém. A vantagem é que se o azevém completar seu ciclo, as sementes que ficarem no solo irão germinar no ano seguinte e o produtor não terá a necessidade de semear o azevém novamente. Se a cultura subsequente for o feijão, este poderá ser plantado até dezembro tendo então um tempo maior de uso da pastagem. Neste caso poderia ser incluído também trevo na mistura o que iria enriquecer muito a alimentação dos animais. E quanto à adubação, qual é a recomendação para a pastagem já implantada? Aníbal - A adubação é fundamental para se ter uma boa lotação de animais. Aliás, a definição do número de animais por hectare é dada pela resposta da pastagem ao manejo e à adubação que nós dispensarmos à ela. Se adubarmos corretamente, poderemos ter uma formação de biomassa que atenda à necessidade dos animais e permita uma lotação de 3 a 6 animais por hectare (bezerros desmamados). Quando os produtores não fazem adubação, dificilmente a lotação passa de 2 cabeças por hectare o que é antieconômico e prejudica todo o sistema. Além disto, a baixa produção de massa irá acarretará também uma baixa cobertura de solo, o que não é interessante para a integração lavoura – pecuária. A adubação deve ser iniciada no plantio. De preferência, aplicando-se fósforo na linha de semeadura. A primeira adubação com nitrogênio deve ser feita no perfilhamento. Nesta época (junho/julho), com a pastagem já estabelecida, é fundamental fazer a segunda aplicação de nitrogênio e a primeira de potássio. Esta aplicação é feita quando os animais já estão em pastejo. E o critério prático que irá definir a condição ideal para a adubação de cobertura é a chuva. O ideal é aproveitar uma semana com chuvas para que tenhamos uma melhor eficiência. Pode-se até esperar um pouco mais um pouco menos mas o solo precisa estar com uma boa umidade para que as plantas aproveitem o adubo.
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Boletim Informativo nº 920,
semana de 17 a 23 de julho de 2006 |
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