Salário mínimo regional complica
convenções coletivas na agricultura

Ao estabelecer por lei um piso regional mais alto do que o salário mínimo do País, o Governo estadual criou uma onda de desemprego em diversos setores da economia paranaense, além de dificultar a negociação das convenções coletivas. Na agricultura, o decreto estadual paralisou as negociações salariais e criou uma expectativa irreal de aumento, que não leva em conta a crise de renda e endividamento do campo.

Um setor que sentiu de imediato o impacto negativo do aumento salarial não negociado, à revelia da capacidade econômica, foi o dos

trabalhadores domésticos. "Muitas patroas têm demitido as funcionárias e contratado diaristas", diz Terezinha da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Estado do Paraná. Uma reportagem do jornal Folha de Londrina (05/07/06) mostra que, somente numa agência especializada em mão-de-obra doméstica da cidade, no mês de maio a oferta de emprego caiu 40% em relação a abril. "Há 11 anos estou neste mercado e essa é a maior taxa de fechamento de vagas que já vi", afirma Mara Leal da Silva, proprietária da Agência Mariá.

Agricultura. O piso salarial estadual tem dificultado as negociações entre sindicatos patronais e de trabalhadores, para a definição de reajustes. Mesmo naquelas categorias que têm convenção coletiva e, portanto, não estão sujeitas à legislação estadual. Na agricultura, o piso do setor deveria ter sido atualizado em maio, mas na maioria dos municípios acabou indo a dissídio por não haver acordo. Para o presidente do Sindicato Rural de Londrina, Luiz Fernando Kalinowski, a interferência do Governo numa relação de trabalho deixou "cada vez mais complicada a negociação das convenções coletivas". ‘’Reconhecemos que o salário mínimo não é justo, mas não dá para assumir um aumento tão grande num ano só’’, diz Kalinowski.

O professor de economia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Vanderlei Sereia, também ouvido pela Folha de Londrina, confirma que o piso regional de R$ 427 "provoca impacto muito forte no setor agrícola, que já passa por dificuldades.’’ Segundo o professor, a crise no setor, somada ao aumento do custo dos empregados, contribuirá para o desemprego no campo. ‘’Isso é preocupante, pois causa um efeito cascata. Quem fica sem trabalho na zona rural vem para a cidade em busca de emprego, aumentando o problema na área urbana.’’ Além disso, continua, considerando o aumento do desemprego na zona rural, setores do comércio e de serviços saem perdendo, pois significa menos dinheiro circulando no mercado. "O número de pessoas trabalhando na informalidade deve aumentar", prevê Vanderlei Sereia.


Boletim Informativo nº 919, semana de 10 a 16 de julho de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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