Conseleite Paraná é apresentado no
9º Congresso Pan-Americano do Leite

O Conseleite Paraná foi tema de palestra no 9º Congresso Pan-Americano do Leite, em Porto Alegre, que reuniu um público de 1,7 mil pessoas de 46 países. Wilson Thiesen, presidente, Ronei Volpi, vice-presidente, e Maria Sílvia C. Digiovani, assessora técnica do Conseleite explicaram a estrutura e o funcionamento do Conselho, que atua entre a indústria de lácteos e os produtores de leite. A delegação do Paraná contou também com 11 produtores da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da FAEP.

O público acompanhou com atenção a palestra. Faltou tempo para responder todas as perguntas sobre o estágio de organização diferenciado, alcançado pelo Paraná. Um dos principais eventos da agropecuária do continente americano, o 9º Congresso Panamericano de leite, assinalou as expectativas para a próxima década, novas tecnologias, União Européia, o leite e a saúde.

O congresso de Porto Alegre foi promovido pela AGL- Associação Gaúcha de Laticínios, Federação Panamericana do Leite (Fepale) e Embrapa Gado de Leite. O próximo será na Costa Rica, em 2008, e em 2010 voltará para o Brasil.

Brasil pode se destacar no mercado mundial
do leite na produção e industrialização


   O Brasil pode tornar-se um participante de peso no mercado internacional de lácteos, desde que acerte os rumos da produção e industrialização. Esta foi a mensagem deixada por especialistas nacionais e internacionais que participaram do 9º Congresso Pan-Americano do Leite, realizado em Porto Alegre entre 20 e 23 de junho.

No entendimento dos palestrantes, o mercado internacional de lácteos continuará aquecido nos próximos anos, impulsionado pelo crescimento da economia mundial, que deverá se situar em 4,5% ao ano. Conforme dados do Banco Mundial, a projeção


é de irá gerar aumento da demanda principalmente nos países em desenvolvimento da Ásia, África e América Latina.Atualmente, 80% do consumo de leite em pó está localizado em países com alto potencial de crescimento.

Destacaram uma importante correlação entre o aumento dos preços do petróleo e o aumento no comércio de commodities, uma vez que os principais países exportadores de petróleo são também importantes importadores de commodities.

Por ter atingido o teto, a curva de produção de petróleo deve diminuir daqui para a frente, o que se refletirá em preços cada vez mais altos para o produto. A experiência mostra que, quanto maior o valor do petróleo maior é o valor das commodities, apontando um bom momento para leite em pó e queijos no mercado internacional.

Outro aspecto animador para o setor é que a maioria da população do planeta está abaixo do consumo de 105 quilos de lácteos por pessoa por ano, o que ainda está muito aquém dos 150 kg/ano recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Quem terá acesso a esse mercado?

Os especialistas responderam que a chave para acessar esse potencial mercado, incluindo o mercado doméstico do Brasil com sua grande capacidade de consumo reprimida "é se fazer presente onde vão estar as oportunidades", citando o exemplo de Pelé, que é o rei do futebol porque conseguia antever onde a bola ia estar.

Isso implica em buscar as oportunidades, inovar, surpreender. Responder se o Brasil vai conseguir alcançar esse objetivo implica em responder a questão sobre o quanto vamos investir para isso.

Sem dúvida, tem que se investir na produção primária com vista à melhoria de qualidade da matéria prima. Porém, décadas de trabalho da assistência técnica oficial e privada, entidades de pesquisa, cooperativas, universidades e SENAR, produziram e levaram ao campo um banco de conhecimentos suficiente para que cada produtor de leite conduza seu empreendimento dentro das normas de qualidade preconizadas.

Esse trabalho resultou em avanço inquestionável. A tal ponto, do Brasil colocar-se como exportador de leite, apto ao exigente mercado internacional e quanto aos produtores que ainda não alcançaram padrões mínimos de qualidade, um esforço maior por parte de suas organizações de representatividade, no sentido de incentivar a utilização das ferramentas disponíveis (assistência técnica, profissionalização rural e crédito a juros compatíveis) poderia resolver a questão.

Fica claro, então, que o investimento maior deverá ser realizado pelas indústrias, buscando adequar-se para atender não só a um mercado crescente de commodities, como também modernizando-se para inovar e adequar seus produtos aos desejos de um público consumidor que evolui rapidamente e passa a escolher sua alimentação, de olho na proteção da saúde, a manter um peso ideal, a ter os conceitos de conveniência atendidos e a não abrir mão do prazer de comer um alimento saboroso.

Os especialistas assinalam que, daqui para os próximos anos, será o período ideal para as indústrias aproveitarem a oportunidade apresentada pelo cenário de bons preços internacionais das commodities, como um tempo de transição no qual devem investir no desenvolvimento de novos produtos, com maior grau de especialização.

Não há dúvida que os produtos dirigidos às massas (commodities) continuarão sendo o carro-chefe das exportações, inclusive na União Européia. Porém, é muito largo o espaço a ser ocupado por produtos lácteos que atendam a novos estilos de vida e hábitos de consumo, voltados às populações que cada vez mais se alimentam fora de casa.

As embalagens dos produtos para atender a esse público deverão ser fáceis de manejar e de consumir, que não requeiram o uso de colher, de um só uso ou com tampa, recipientes isotérmicos inclusive com opção para produtos quentes como bebidas com café ou chocolate.

Aliado à praticidade, o lançamento de novos produtos aponta para a importância de propiciar uma nutrição balanceada, de acordo com as necessidades específicas de adultos, jovens e crianças.

Paralelo ao aumento do consumo fora dos lares, cresce também o universo de consumidores que se dedicam à gastronomia, ao prazer de conhecer novas culturas e novas opções de comidas, aquecendo o mercado de produtos de maior valor, como queijos finos.

Outro segmento de crescimento explosivo é o de bebidas energéticas, em que o setor pode aproveitar a grande oportunidade de lançar produtos com cafeína e vitaminas. A busca pela saúde favorece a ampliação de mercado para leites fermentados e leite UHT - esse último saindo da vala comum do "leite branco" e se diferenciando através da adição de cálcio, ferro, ômega 3 e os leites fermentados - por serem veículos ideais para a incorporação de esteróis vegetais, que desempenham importante papel no controle dos níveis de colesterol.

Isto posto, conclui o Dr. Javier Berterreche, palestrante da Universidade de Santiago de Compostela (Espanha), " a capacidade de inovar, adaptar-se a mudanças do consumidor e gerar novas opções pode ser a diferença entre o êxito e o fracasso a curto, médio ou longo prazo e os esforços das empresas deverão dirigir-se a otimizar os recursos na área da inovação".

Quanto às mudanças no mercado internacional com relação a maior liberalização do comércio, não há espaço para otimismo exagerado: países ricos continuarão protegendo seus mercados internos. Apenas 7% da produção mundial de lácteos é comercializada entre países, devido à sustentação artificial de preços que distorce a comercialização e tira a competitividade dos países em desenvolvimento.

As negociações na OMC apontam para o término do subsídio à exportação apenas em 2013, mas a ajuda à produção deverá continuar.

União Européia, Austrália e Nova Zelândia dominam as exportações, cada qual com seus mercados tradicionais já definidos, porém apresentando algumas oportunidades devido à ampliação dos países membros da União Européia que aumentou consideravelmente seu mercado doméstico e deixou, aos países da Oceania, o atendimento a uma parte de "antigos clientes".

Surge a chance para grandes produtores como o Brasil entrarem abastecendo países em desenvolvimento não atendidos pelos tradicionais exportadores.

Se não há lugar para otimismo exagerado, o setor leiteiro brasileiro também não tem razão para ser pessimista, devendo manter um "otimismo realista", baseado no cenário futuro traçado pelos especialistas, nos avanços tecnológicos verificados internamente, principalmente a partir dos anos 90, suficientes para transformar o Brasil de um dos maiores importadores a exportador de lácteos.

E esse gigantesco passo foi dado à revelia dos igualmente gigantescos problemas que o setor enfrenta, como questões cambiais, falta de apoio governamental no que diz respeito a infra estrutura, aspectos sanitários e paz social no campo.

Para tão grande realização vale a máxima "porque não sabia que era impossível, foi e fez" e assim deverá continuar:

A força da união de produtores e indústrias trabalhando por um crescimento harmônico, o trabalho de instituições como a aliança Láctea Global pela abertura de novos mercados e a demanda dos povos em desenvolvimento permitirá o fortalecimento do setor lácteo brasileiro desde que cada setor cumpra sua missão de casa.


Boletim Informativo nº 918, semana de 03 a 09 de julho de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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