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Empreendedor Rural
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A agricultura Argentina na
visão dos empreendedores

No dia 28 de maio uma delegação de empreendedores rurais do Paraná partiu para Buenos Aires na Argentina para uma semana de estudos. O objetivo da viagem foi estudar as ações empreendidas pela cadeia do negócio agropecuário da porteira para fora. Foram visitados os mercados Central de Buenos Aires e de La Plata. Nestes mercados foram mostrados os grandes esforços feitos para melhoria da qualidade dos produtos por ali comercializados. Em ambos foram criados laboratórios para controle de resíduos dos defensivos agrícolas.
 

A visita a um produtor e suas instalações de embalagem de olerícolas mostrou o cuidado dispensado. Todos os produtos são lavados e em seguida amarrados com uma fita com nome e endereço do produtor, transformando-se desta forma em marca, isto é de valor agregado. Este produto mais tarde foi visto pelo grupo na prateleira do maior hipermercado da metrópole nas gôndolas de produtos gourmet, fechando assim o circulo da produção ao consumidor final.

Dois produtores distintos nos mostraram suas instalações. Um pequeno produtor (Sr. Marcelo) de 6  ha, mostrou  como aplica  as boas  práticas

agrícolas. Tudo é registrado: lote de semente, dia do plantio, aplicação de insumos, colheita. São 5 pessoas da família mais 4 a 5 colaboradores temporários contratados que fazem o trabalho. Os produtos são tomates e pimentão no verão e alface, espinafre e acelga no inverno. Durante o ano inteiro também se cultiva crucíferas como repolho.

Na cidade de Tandil, ainda na província de Buenos Aires, o grupo visitou um produtor de leite tipo “A” e de queijos. Boa parte dos queijos é destinada ao mercado gourmet, isto é, dirigido a uma camada consumidora muito exigente. Portanto também são necessários cuidados especiais no controle de qualidade tanto do queijo, como do leite. O leite A é vendido ao preço de P$1,10/l ao

intermediário, enquanto que pelo leite normal se recebe $ 0,53/l. A margem do mercado é de 18% no queijo comum e 25% no queijo premium.

A região também é líder na produção de mel. Na visita a uma embaladora, foram explicados os processos de recepção, homogeneização, análises, tratos de pasteurização e embalagem. Exporta-se bastante deste produto, mas o Brasil e os EUA impuseram barreiras sanitárias em 1994, que impediram seu envio a estes destinos. Foi feito um grande investimento para a conquista destes mercados e a inesperada interrupção deste processo acarretou prejuízos financeiros e uma grande frustração. A saída encontrada pelo empresário foi

 

 

então a busca de novos mercados para o mel fracionado (envasado em potes de no máximo 500g) e o desenvolvimento de novos produtos à base de mel, como a mostarda temperada com mel. Há um grupo de aproximadamente 45 apicultores fornecedores, com uma média de 2.000 colméias cada.

Uma rápida visita a uma produtora de framboesas mostrou outro caminho para a comercialização. Os frutos congelados a -18ºC, em geral são fornecidos a que produzem alimentos para companhias aéreas e hotéis. 50% da produção ainda sobram e são industrializados para doces, comercializadas em vasilhas de vidro com 1 kg cada.

Em San Pedro, aproximadamente 150 km ao norte de Buenos Aires, a visita foi a um packing house de laranjas e pêssegos. Na empresa Gomila acompanhamos todo o processo, desde o recebimento, passando por 2 banhos (cloro e detergentes), secagem e tratamento com fungicida. Isto são exigências do Mercado Comum Europeu, para em seguida ser selecionadas e empacotadas. No final do processo, recebem uma etiqueta em que estão anotados todos os dados do produtor, dos tratos culturais e defensivos aplicados, data de colheita e outros, de maneira  que o  consumidor final tem  possibilidade de  verificar tudo o que  aconteceu durante a

 

 

produção até seu consumo. A rastreabilidade é certificada e dá cumprimento às normas internacionais.

Ainda em San Pedro visitamos um dos maiores produtores nacionais de mudas arbustivas e arbóreas, a “El Pampero”. A família possue120 ha de áreas próprias nas quais produzem as mudas. Estas são comercializadas com viveiros menores na Argentina e também exportadas para o Brasil, Uruguai e Espanha. Mudas de laranjeiras e pessegueiros também são produzidas e comercializadas em grande escala.

O encerramento das visitas foi com chave de ouro em Moreno, uma cidade de 470 mil habitantes na periferia oeste da grande Buenos Aires. Os moradores são na grande maioria de origem japonesa, italiana e portuguesa e a comunidade encontra-se estrategicamente situada no entroncamento de diversas rodovias. A leste existe o centro de produção de flores de corte e a norte o centro de produção de mudas. A criação de uma associação que conseguiu juntar todos os produtores de mudas de flores ornamentais para jardins e interior num só grupo, tornou esta cidade o centro da floricultura argentina. São 106 floricultores associados. Os produtores daquela região já visitaram várias vezes a cooperativa Holambra no Estado de São Paulo, cujos métodos de comercialização pretendem introduzir também lá.

 
    (Trecho do relatório de Rüdiger Boye, Margit Boye e Astolpho H. Tibúrcio de Vilhena, empreendedores rurais premiados da turma de Cornélio Procópio)
 

Enfim, a viagem foi muito instrutiva para os empreendedores, que após uma semana voltaram às suas atividades com uma visão bem diferente, pelas muitas impressões que puderam ser coletadas. Valeu a pena! 

Produtores precisam se organizar
para fortalecer poder político

O sétimo capítulo do livro de Polan Lacki “Desenvolvimento agropecuário: da dependência ao protagonismo do agricultor” trata do papel do Estado em um cenário de eficiência no campo. Nos primeiros seis capítulos o autor demonstra como agricultores, em especial os pequenos, podem conseguir bons resultados em produtividade e renda sem depender muito de recursos externos. Após demonstrar como essa eficiência pode ser alcançada, Lacki chama a atenção para a responsabilidade do Estado em serviços estratégicos para a agropecuária.

O autor menciona uma política  de sacrifícios em


Organização do setor agropecuário é essencial para formulação de políticas mais justas

que agricultores são condenados a produzir em condições de adversidade e escassez, em que o Estado continua aplicando seus recursos em atividades menos importantes que a produção de alimentos.

A solução proposta no livro passa pela organização do setor agropecuário: “É fundamental, portanto, que os pequenos agricultores estejam organizados para que, além de produzir, administrar e comercializar eficientemente, também fortaleçam o seu poder político e reivindiquem que o Estado e os provedores façam o mínimo que poderiam e deveriam fazer em prol do desenvolvimento agropecuário”. Para tanto, Lacki enumera uma série de medidas que passam pela formulação de políticas nacionais de desenvolvimento não discriminatórias, alocação de recursos adicionais com distribuição eqüitativa, formação de profissionais e técnicos de ciências agrárias voltada às necessidades dos agricultores, enfim, questões para as quais é preciso ter união para que as reivindicações possam ser atendidas.

O texto do capítulo na íntegra está à disposição no portal do empreendedor rural comespaço reservado para que você dê sua opinião. Acesse o site:

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Boletim Informativo nº 917, semana de 26 de junho a 02 de julho de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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