"Remendo" no pacote de apoio
à agricultura traz avanços

Uma semana após a instalação do grupo de criado para discutir o endividamento do setor rural, o governo apresentou na quarta-feira, 14, as alterações no pacote de socorro à agricultura anunciado no dia 25 de maio. Entre as principais novidades, estão o aumento de percentuais de prorrogação automática e inclusão de novos produtos.

O grupo integrado por representantes do Ministério da Fazenda, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Comissão de Agricultura, Abaste- 

cimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Organização das Cooperativas do Brasil (OCB) voltará a se reunir dentro de 30 a 60 dias para fazer uma avaliação da capacidade de pagamento dos produtores para a safra 2006/2007. A fase de negociação foi concluída com as seguintes propostas adicionais:

Medidas complementares

Custeio: foram aumentados os percentuais e incluídos os seguintes produtos na prorrogação automática para o custeio da safra 2005/06, passando o prazo de pagamento que era de 4 anos para 5 anos:

Milho – era de 20% aumentou para 35%
Arroz – era de 40% aumentou para 50%
Algodão – era de 30% aumentou para 35%
Soja Região Sul e Sudeste – era de 50% aumentou para 55%
Soja Região Centro-Oeste – continua em 80%

Produtos novos incorporados:

Pecuária bovina de corte – 20%
Mandioca – 25%
Trigo – 20%
Suínos e aves, para produtores não integrados – 20%
Pecuária de leite – 20%
FAT-Giro:

Linha para aquisição de títulos: recursos para financiar as CPR financeiras e outros recebíveis emitidos pelos produtores: O prazo era de 2 anos passou para 5 anos com 2 anos de carência. O encargo dessa operação para os produtores é de 8,75%. As operações realizadas no ano passado e nesse ano dentro dessa linha passarão para o novo prazo que é de 5 anos;

Linha de financiamento direto ao produtor: Os encargos financeiros caíram de TJLP + 6% para TJLP + 3%, para os produtores com risco A e B, e TJLP + 5% para os demais riscos. O prazo é de 5 anos, com dois de carência.

Linha de financiamento aos fornecedores de insumos: financiar as vendas de insumos da safra 2006/07, com prazo que era de 15 meses aumentou para 5 anos, com 2 anos de carência. Os encargos financeiros são de TJLP+3%.

Capital de giro para as Cooperativas: Os encargos que eram de TJLP + 8% recuou para TJLP + 7%, continuando com o prazo de 24 meses para o pagamento.

Garantias hipotecárias reais dos produtores junto ao Tesouro: O governo irá liberar proporcionalmente a garantia correspondente aos valores já pagos no PESA e na securitização, sem reavaliar as garantias.

Parcelas do PESA e Securitização: parcelas de 2005 e de 2006: o governo irá estudar a possibilidade de considerar, para fins de pagamento com o financiamento de juros a 8,75%, situação de normalidade dessas prestações. Até o momento, está definido que o produtor que quiser pagar essas parcelas deverá fazer um financiamento bancário, com encargos de 8,75% ao ano, e pagar as parcelas de 2005 e de 2006, em atraso, com os encargos de inadimplemento (multa, etc).


Ve
ja como fica o conjunto de todas as medidas adotadas pelo governo

Dívidas de custeios:
Custeios 2004/05 – grãos com problemas de comercialização:

A parcela de 2005 foi prorrogada para 2006 e ganhou um novo prazo, vencendo em maio e junho.

Custeios 2004/05 – grãos com problemas de estiagem:

No primeiro pacote, a resolução 3.363 trata da reprogramação dos custeios de 2005 que foram prorrogados para 2006. Estes custeios ganharam prazo adicional de até um ano após o vencimento da última prestação prorrogada.

Custeio 2005/06 – grãos:
Governo prorrogou parte dos débitos de custeio da safra 2005/06. Repactuação deverá ser paga no prazo de cinco anos em parcelas anuais. A primeira parcela vencerá 12 meses após a data da renegociação. O montante que será prorrogado variará de acordo com a região e produto:
- soja, a prorrogação será de 55% nas regiões Sul e Sudeste e de 80% para as demais regiões.
- arroz, a prorrogação será de 50% em todo o território nacional.
- algodão de todo o país poderão prorrogar 35% de suas dívidas
- milho 35% prorrogado automático
- Pecuária bovina de corte – 20%
- Mandioca – 25%
- Trigo – 20%
- Suínos e aves, para produtores não integrados – 20%
- Pecuária de leite – 20%

Custeio - agricultura familiar:

Descontos são de 30% para os produtores de arroz; 25% para a soja; 22% para o milho; 20% para o algodão; 15% para o feijão e farinha de mandioca; e 12% para o leite. O teto por produtor foi fixado em R$ 2 mil.

Dívidas de custeio no Banco do Brasil:
Segundo informações da Superintendência de Agronegócios do Banco do Brasil no Paraná, as agências estão em compasso de espera em relação às parcelas de custeio que vencem neste mês, para não gerar atrasos e inclusão de produtores nas listas de inadimplentes. Com o anúncio do novo pacote, as medidas serão regulamentadas no Conselho Monetário Nacional (CMN). A edição das medidas pode demorar mais alguns dias, depois do anúncio oficial. Somente quando elas forem publicadas, as agências do Banco do Brasil receberão novas instruções sobre as prorrogações.

Dívidas de investimentos:

Investimentos – grãos:

A resolução 3.364 abrange os programas de investimentos com recursos do BNDES, Finame Agrícola Especial, Pronaf e Proger Rural. O novo prazo de pagamento da parcela 2006 foi postergado para até 12 meses após o vencimento da última parcela do contrato e poderá ser concedido de forma automática para os produtores cuja renda principal seja originada da produção de algodão, arroz, milho, soja, sorgo ou trigo, com dificuldade de comercialização em função de preços. Até o dia 31 de julho os produtores devem apresentar pedido formal de prorrogação às instituições financeiras.

Investimentos na pecuária e outros:

Os contratos de investimentos de produtores da pecuária de corte, leite, suinocultura, avicultura e outras culturas, passarão por um exame ‘caso a caso’ para verificar o enquadramento na medida. Comprovado o problema de preço, o investimento será prorrogado conforme análise da capacidade de pagamento e será estipulado novo prazo para quitar a parcela.
A prorrogação não inclui produtores que tenham como atividade principal cana-de-açucar, café, fumo e produtos que não tiveram problemas climáticos ou dificuldades de comercialização em função dos preços.

Dívidas com fornecedores de insumos, cooperativas e CPR Financeira
Recursos
- Foram destinados mais R$ 2 bilhões para o programa FAT Giro Rural, totalizando R$3,6 bilhões.
Prazo
- O prazo total para pagamento era de dois anos com até um ano de carência. Com os pacotes anunciados este prazo foi ampliado para cinco anos com até dois anos de carência.
Contratação
- A contratação deve ser feita até 31 dezembro/2006.
Finalidades:

1. Linha para aquisição de títulos- recursos para financiar as CPR financeiras e outros recebíveis emitidos pelos produtores: O prazo é de 5 anos com 2 anos de carência. O encargo dessa operação para os produtores é de 8,75%. As operações realizadas no ano passado e nesse ano dentro dessa linha passarão para o novo prazo que é de 5 anos.
2. FAT direto produtor- Os encargos financeiros são de TJLP + 3%, para os produtores com risco A e B, e TJLP + 5% para os demais riscos.
3. Linha de financiamento aos fornecedores de insumos- financiar as vendas de insumos da safra 2006/07, com prazo de 5 anos, com 2 anos de carência. Os encargos financeiros são de TJLP+3%.
4. Capital de giro para as Cooperativas: Os encargos que eram de TJLP + 8% recuou para TJLP + 7%, continuando com o prazo de 24 meses para o pagamento.

Dívidas de Securitização, Pesa e Recoop:
As parcelas do Pesa, Securitização e Recoop, vencidas em 2005 e vencidas e vincendas em 2006, dos produtores que estavam adimplentes até 31 de dezembro de 2004, serão refinanciadas com recursos controlados do crédito rural à taxa de 8,75% ao ano. O refinanciamento terá prazo de até 5 anos, incluídos até 2 anos de carência para o pagamento da primeira parcela. O prazo final para contratação será 29 de dezembro de 2006. Foi aprovado no Congresso medida provisória 285 que depende apenas de sanção presidencial para formalizar esta linha de crédito.

Garantias hipotecárias reais dos produtores junto ao Tesouro: O governo irá liberar proporcionalmente a garantia correspondente aos valores já pagos no PESA e na securitização, sem reavaliar as garantias.

Cobrança Administrativa de Pesa e Securitização
Foi estendido por até 180 dias o prazo de cobrança administrativa das dívidas vencidas e ainda não inscritas na dívida ativa da União dos programas de Pesa e Securitização para os produtores adimplentes até dezembro de 2004.

Apoio à comercialização da safra 2005/06:Havia no orçamento R$1,650 bilhão para Política de Garantia de Preços Mínimos – PGPM. Com os pacotes, o governo destinou mais R$1 bilhão para apoio à comercialização, especialmente da soja e milho.
R$ 238 milhões para aquisição de produtos da agricultura familiar.
R$ 5,7 bilhões para EGF e LEC (armazenagem) a taxa de 8,75%, mas o BB disponibilizou R$1bilhão até o momento.
Desvinculou do limite de crédito de comercialização do limite de custeio.
Elevado o limite de crédito de EGF (Empréstimos do Governo Federal) para operações formalizadas até 30.06.2006:
- Soja, de R$ 150 mil para R$ 600 mil
- Algodão, R$ 500 mil p/ R$ 1 milhão
- Milho, R$ 400 mil para R$ 800 mil
- Trigo, sorgo e arroz, de R$ 200 mil para R$ 600 mil.

Apoio à Comercialização da safra 2006/07:
O governo vai disponibilizar R$ 2,8 bilhões à Política de Garantia de Preços Mínimos e garantia de renda ao produtor na safra 2006/07. Para tanto, o governo promete utilizar os leilões de Prêmio de Risco de Opção Privada (Prop), que começam antes mesmo do plantio.

Seguro rural:
Será criado um fundo de catástrofe através de um Projeto de Lei. O Decreto nº 5.782, publicado no Diário Oficial da União, aumentou o subsídio ao prêmio do seguro. Os limites por beneficiário foram ampliados de R$ 26 mil para até R$ 32 mil. Na soja, a subvenção aumentou de 30% para 50%. O milho foi de 40% para 50%. Aumentaram também as atividades beneficiadas. Foram incluídos frutas, café, cana-de-açúcar, laranja, limão, outros cítricos e hortaliças. O orçamento do seguro neste ano ficou em R$ 42 milhões.

Desoneração de insumos:
Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) decidiu zerar as alíquotas de importação de fertilizantes e defensivos agrícolas. Segundo o Governo, a medida representará uma economia de US$ 42 milhões em impostos.
Os fertilizantes tinham uma alíquota de importação de 6% na Tarifa Externa Comum (TEC) e de 2% na lista de exceções. Já os defensivos agrícolas possuíam uma tarifa de 8% na TEC e 4% na lista de exceções.

Extensão do Regime de Drawback para todos os Produtos do Agronegócio:
O drawback possibilita a isenção de impostos na importação de matérias-primas desde que o produto final seja exportado. Atualmente, apenas frutas, algodão, camarão, carne de frango e carne suína gozam dessa isenção. O MAPA submeterá à Camex proposta de aplicar a todos os produtos do agronegócio o benefício do regime de drawback.

Isenção de Imposto de Renda para os Títulos do Agronegócio
Serão isentos do Imposto de Renda os rendimentos auferidos por pessoas físicas em títulos agrícolas, tratamento semelhante ao atualmente concedido aos títulos imobiliários. Com isso, incentiva-se um instrumento moderno, que alinha o agronegócio ao mercado de capitais, abrindo um importante de canal de financiamento da produção e comercialização rural. Tal isenção já foi aprovada pelo Congresso Nacional no âmbito da MP 280, a qual está em fase de sanção presidencial.

Plano Safra 2006/07
Crédito de Custeio e Comercialização:

Aumento de 44% no volume de recursos a taxas controladas. São R$ 30,1 bilhões contra os R$ 20,9 bilhões programados para a safra passada. Reverte a participação dos recursos a taxas controladas no volume total de crédito para custeio e comercialização passa de 63% em 2005-06, para 73% na safra 2006-07.

Aumento nos limites de crédito de custeio e comercialização:

Para produtores de soja o teto foi elevado de R$ 150 mil e 200 mil, dependendo da região, para R$ 300 mil em todo o Brasil. Para avicultores e suinocultores não integrados o limite passa de R$ 60 mil para R$ 120 mil.
Os agentes financeiros poderão conceder ainda um adicional sobre o limite de crédito para os produtores que já praticarem ou apresentarem plano de recuperação de matas ciliares e reserva legal (15%), adotarem sistemas de rastreabilidade na produção pecuária (15%) ou ainda utilizarem seguro rural (15%) e mecanismos de proteção de preços nas bolsas de mercadorias e futuros (15%). Os limites adicionais são cumulativos, porém limitados a 30%.

Crédito de Investimento:

R$ 8,6 bilhões para investimentos, recursos oriundos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dos Fundos Constitucionais e de outras fontes. Redução na taxa anual de juros de três linhas de crédito: Finame Agrícola Especial (de 13,95% para 12,35%), do programa para cooperativas – Prodecoop (de 10,75% para 8,75%) e Moderfrota (com taxa que varia de acordo com a renda bruta anual dos produtores). Para renda de até R$ 250 mil, os juros caíram de 9,75% para 8,75%. Para renda superior, a taxa cai de 12,75% para 10,75%. Na safra passada o limite de corte da renda para efeito de definição da taxa de juros era de R$ 150 mil. Dessa forma, um maior número de produtores serão beneficiados pela taxa mais baixa, de 8,75%. Outro ponto importante é que o Moderfrota passa a permitir o financiamento de máquinas usadas.

Avaliação do grupo de trabalho

A CNA, a OCB e a Comissão de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados apresentaram uma pauta mais ampla, com a inclusão de mais produtos na prorrogação automática de custeio, aumento do percentual para 80% e carência de 2 anos. Embora não tenha atingido o percentual de prorrogação automática de 80% e nem a carência, houve pequenos acréscimos para o milho, arroz, soja sul/sudeste e para o algodão, com a inclusão de produtos importantes. Faltou incluir o fumo e a fruticultura.

Em relação as parcelas do PESA e Securitização, o pedido era para que fosse realizado um aditivo ao contrato para prorrogar para 2 anos após o vencimento atual dos contratos dos produtores. O governo fez diferente. Abrirá uma linha de financiamento com prazo de 5 anos, com 2 anos de carência, com encargos financeiros de 8,75% ao ano, para o produtor quitar as prestações de 2005 e 2006, pagando juros, multa, etc, se as parcelas estiverem vencidas.

O governo não intercedeu nas garantias exigidas pelos bancos. Dessa forma, aqueles produtores que não disporem de garantia nem teto para a realização dos financiamentos, ficarão impossibilitados de fazerem os empréstimos.


Boletim Informativo nº 916, semana de 19 a 25 de junho de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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