Carne: varejo concentra a renda |
Supermercados
ganham cada vez mais pelo produto, * Transcrito do Jornal O Estado de São Paulo, Caderno Agrícola de 31 de maio de 2006 |
A grande rede varejista é o setor que fica com a maior fatia do lucro na venda de carne bovina. Isso é fato histórico e natural nas regras do comércio, em qualquer segmento. O problema, porém, segundo estudo da Scot Consultoria, é que esta concentração de lucros pelo varejo tem sido cada vez maior, em detrimento das outras partes da cadeia - o frigorífico e, principalmente, o pecuarista. No dia 24 de maio, por exemplo, segundo levantamento da consultoria, o traseiro do boi, a parte mais valorizada do animal, onde ficam os cortes nobres (picanha, filé, alcatra, contrafilé, coxões, patinho e lagarto), foi vendido por valor 80% maior pela rede varejista em relação ao preço que o pecuarista vendeu a mesma peça. O VALOR DA CARNE - Este levantamento vem sendo feito há um ano pela consultoria, para saber quanto vale o traseiro do boi para os diversos segmentos da cadeia de carnes, sendo que o traseiro representa, em média, 48% da carcaça bovina. No mesmo dia 24, a margem de lucro do varejo ficou em 74% a mais em relação à carcaça do traseiro no atacado (frigorífico) e 49% comparado aos cortes do traseiro, também no atacado. De acordo com o consultor da Scot, Fabiano R. Tito Rosa, para os cálculos foi tomado como base um boi de 16,5 arrobas, com 52% de rendimento de carcaça. Tito Rosa afirma que o cálculo feito pela consultoria considera quanto o produtor recebe pelo traseiro do boi que ele vende, quanto o frigorífico recebe do varejo e quanto o varejo (mercados, supermercados, casas de carnes e açougues) consegue pela comercialização dessa peça em cortes para o consumidor. No atacado, a Scot dividiu os frigoríficos em dois grupos: os que vendem a carcaça inteira e os que a vendem em cortes. A MENOR PARTE - Historicamente, conforme Tito Rosa, é o produtor quem fica com a menor parte dos ganhos. "No entanto, as margens do varejo estão cada vez mais elevadas", diz. "Isso mede a concentração de força das grandes redes de varejo, que usufruem de elevado poder de barganha, pressionando os fornecedores", argumenta, e acrescenta que os supermercados estão, também, expulsando os açougues desse comércio. Para mostrar essa tendência, Tito Rosa cita estimativa do Sindicato das Indústrias Varejistas do Estado de São Paulo, apontando que, entre as décadas de 70 e 80, 80% das vendas de carnes ocorriam em açougues. "A previsão, para a década de 2000 a 2010, é a de que esse porcentual caia para 30%." Antes, conforme o consultor, a divisão dos lucros era mais bem distribuída, "embora o varejo sempre tenha ficado com a fatia maior, porque é a lógica". |
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Boletim Informativo nº 915,
semana de 12 a 18 de junho de 2006 |
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