Jornal Gazeta do povo O futuro do emprego |
Aconselha-se que, a partir do mês que vem, o IBGE, o Dieese, o Ministério do Trabalho, as centrais sindicais, as federações e os sindicatos de trabalhadores e tantos outros órgãos oficiais e privados dedicados ao assunto redobrem a atenção em suas pesquisas de emprego no Paraná. De seus levantamentos, a curto e médio prazo, deverão emergir as conseqüências da aprovação do salário mínimo regional aprovado ontem pela Assembléia Legislativa e a entrar em vigor a partir de junho próximo. A título de esclarecimento prévio para que desde logo se evitem interpretações tendenciosas, é preciso dizer que se enganam aqueles que porventura imaginem estarem os críticos da iniciativa torcendo para que de fato ocorra o previsível fechamento de vagas em decorrência da medida. Ou que se atribua aos mesmos críticos a idéia estapafúrdia de que os trabalhadores não merecem ganhar melhor salário. Nada disso move os críticos. Não há torcida pelo quanto pior, melhor. Não seria sensato nem cristão torcer pela tragédia e pela continuidade do quadro de fome que aflige milhares de famílias submetidas à insignificância do mínimo de R$ 350,00 vigente em nível nacional – ou mesmo aos ainda insignificantes R$ 437,80 previstos na lei estadual. Um e outro salário são pequenos demais para satisfazer às necessidades básicas que garantem a dignidade da vida. Na verdade, existem razões objetivas para o temor de que o pior venha a acontecer, em escala ainda não mensurável. Razões que não foram levadas em conta pela unanimidade dos senhores deputados que ontem aprovaram o piso paranaense – mais preocupados que estavam em não desgostar as claques de plantão arregimentadas pelo Palácio Iguaçu e, muito menos, nem em correr riscos nas eleições que se aproximam. A primeira razão objetiva provém de uma lição elementar de economia – a de que o valor dos salários é sempre reflexo da produção de riquezas e da proporcionalidade que esta guarda com outra lei elementar da ciência econômica – a lei da oferta e da procura. Quanto maior e mais rentável a produção, maiores tendem a ser os salários. Quanto maior a demanda por mão-de-obra, melhores são os salários pagos. O mercado ensina isso de forma cristalina e incontestável – contratando e pagando bem quando a economia melhora e demitindo ou pagando pouco sempre que, por decreto, se fixam pisos salariais ou se acrescentam encargos superiores às condições proporcionadas pela economia. O Paraná atravessa nos últimos três anos um quadro econômico inversamente proporcional à intenção de elevar salários, algo que governo e deputados ignoraram. Na agropecuária, por exemplo, o valor de sua produção caiu 26% de 2003 para cá, de R$ 32,5 bilhões para R$ 24 bilhões. Outro exemplo é o da indústria, cujas quedas acumuladas no período alcançam 14%, contrariamente ao desempenho positivo verificado em nível nacional no mesmo período. Por essas e outras razões, o Produto Interno Bruto (PIB) paranaense ficou reduzido à metade do brasileiro. Ou seja, se o Brasil cresceu muito pouco (menos do que o Haiti no ano passado), o Paraná menos ainda. Para 2006, enquanto se prevê um PIB nacional de 4%, a perspectiva para o Paraná é de 0% – zero por cento. Trata-se, pois, de um quadro altamente desfavorável sequer para a criação de empregos, que dirá para o aumento de salários. O Executivo estadual e a Assembléia preferiram desconhecer essas realidades. É bem possível – embora torçamos para que tal não ocorra – que à glória eleitoral de alguns poucos corresponda depois ao desemprego de muitos. As pesquisas dos próximos meses darão a resposta. (Editorial publicado no jornal Gazeta do Povo dia 09 de maio de 2006) |
Boletim Informativo nº 911, semana de 15 a 21 de maio de 2006 | VOLTAR |