Santo Antônio da Platina Encontro de pecuaristas mostra |
Na última segunda feira (24) foi realizado em Santo Antônio da Platina o 2º Encontro de Produtores de Bovinos de Corte. A reunião- a 2ª de uma série de seis que serão realizadas nas principais regiões produtoras- teve o objetivo de discutir regionalmente a situação da bovinocultura de corte no Paraná, principalmente o enfoque da qualidade e organização dos produtores para a comercialização. O entendimento é aumentar a interação dos pecuaristas quanto à complexidade da comercialização de carne bovina e as implicações em termos de exigências, sanitárias e qualitativas do mercado. Durante anos, para não dizer séculos, a bovinocultura de corte manteve-se de uma forma quase que extrativista, com característica de cultura individualista e despreocupada em relação à competitividade. Hoje este quadro mudou. Não por opção, mas por exclusão. Ou seja é a conjuntura que leva a isto e não a decisão do produtor. Não dá mais para se ter uma fazenda ou duas, deixar o gado lá solto com um pouco de sal, sem uma grama de adubo nas pastagens e de vez em quando dar uma olhada para, após quatro ou cinco anos, procurar um comprador, desfazer-se do rebanho e entregar seus animais. O caminho mais fácil é culpar os frigoríficos pela situação ou responsabilizar o governo e as instituições representativas de classe pelas dificuldades. O quê os pecuaristas não estão percebendo é que ninguém irá resolver seus problemas a não ser eles próprios, através da sua organização. Não vamos confundir com união. Um bando totalmente desorganizado não deixa de ser uma união. Mas para dar certo é preciso uma união com organização, responsabilidades compartilhadas, comprometimento de todos com o grupo e com os aspectos fundamentais para a boa comercialização (sanidade, qualidade do processo produtivo e do produto e a regularidade de oferta). Atualmente, o Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, com 20% de sua produção destinada a outros países. Contudo, o produtor não participa deste processo ainda. Quem escolhe o que vai para a exportação é o frigorífico, depois que o boi é abatido. Muitos produtores- e até lideranças agropecuárias- desconhecem que a exportação de carne interfere - e muito, no preço do mercado interno- e que as 2 milhões de toneladas anuais hoje exportadas fariam um estrago considerável nesta cadeia, claro que se deixassem de ser exportadas. Ainda tem gente que não acredita em rastreabilidade, em qualidade e em mercado externo como as saídas para a superação desta crise. Desconfiam até da vacina contra aftosa: “meu pai sempre fez assim, eu sempre fiz assim porque tenho que mudar agora? Eu não! ” Iniciativas como o Programa Paranaense de Carne e Leite a Base de Pasto e a Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da FAEP movimentam grupos de entidades e pessoas – FAEP, SENAR/PR, PUCPR, IAPAR com as Associações de Produtores de Gado Caracú e de Produtores de Gado Nelore e os Sindicatos Rurais com o objetivo comum de levantar o debate em todas as regiões do Paraná. Espera-se que, ao longo do caminho, possam - se agregar novos e decisivos companheiros. Não há uma receita pronta nem proposta fechada de criar-se cooperativa, aliança ou associação. O que existe é a determinação de um grupo coeso do agronegócio da carne, preocupado com a situação. De um grupo que apoia e incentiva todas as formas associativas existentes e as que forem criadas em apoio e fortalecimento da cadeia da pecuária de corte. O mais importante é o fortalecimento do setor produtivo, com objetivo de criar força suficiente para sentar numa mesa com os comerciantes de carne e negociar de igual para igual, o que hoje ainda é impossível. Não é no grito ou esperando a compaixão do comprador e intervenção do governo, que se irá conseguir alguma coisa. Este jogo só vai mudar quando o produtor organizado, com “bala na agulha” ou seja, com produto de qualidade e garantia de regularidade sentar-se com os compradores e puder disputar de igual para igual. Daí, com certeza, não faltarão compradores para o bom produto. Qual a solução? Apoiar as iniciativas da COROL, da COOPAVEL, das Alianças Mercadológicas e das demais cooperativas criadas recentemente. Além disto, melhorar a gestão de sua propriedade, participar e comprometer-se mais, aprofundar o entendimento sobre a nova dinâmica do mercado, investir em melhorias do processo produtivo/ produto e, principalmente, ajudar na busca da melhor forma de organização. Quanto ao governo e às instituições de classe, cabe apoiar todas as iniciativas assim como fazem com os demais produtos. Mas quem tem de dar o primeiro passo é o pecuarista. Curitiba, 25 de abril de 2006 Rubens Ernesto Niederheitmann |
Boletim Informativo nº 909, semana de
01 a 07 de maio de 2006 | VOLTAR |