Crise agrícola afeta desempenho
do comércio e da indústria do PR

Agronegócio em crise, economia do Paraná também em crise. Esta estreita interdependência é hoje percebida na prática pelo comércio e pela indústria do estado. As perdas e os índices negativos não se limitam àqueles que trabalham da "porteira para dentro" nas propriedades rurais, mas avançam sobre os outros setores. Como fator agravante, está a política cambial, que sobrevaloriza o real em relação ao dólar.

Uma reportagem do jornal Valor Econômico, de

25/04, mostra que a atual crise já fechou oito empresas do setor madeireiro, com demissões de cinco mil trabalhadores. O desempenho das empresas florestais é grandemente afetado pelo câmbio, já que mais de metade das receitas dessa indústria vêm das vendas ao exterior. Mas a situação dos outros setores industriais não é muito diferente. Em março, segundo dados do DIEESE, houve recuo de mais 7% na indústria do estado, pelo oitavo mês consecutivo.

Levantamento feito pela Federação das Indústrias mostra que o faturamento dos dois primeiros meses do ano foi negativo em 13 dos 18 itens pesquisados, enquanto a soma das vendas reais ficou negativa em 0,15%, principalmente por conta de queda de 4,2% nas vendas para outros Estados brasileiros. O dólar barato impulsionou as importações, provocando perda no primeiro bimestre de 64,78% no segmento de vestuário, calçados e tecidos, em relação a mesmo período do ano anterior. Em seguida, vêm os plásticos, com perdas de 46,3%.

Além de ser negativamente afetada pelo câmbio, a indústria paranaense sofre os efeitos diretos da estrutura produtiva, dependente em grande parte do setor primário exportador. A agricultura, por sua vez, depende igualmente do câmbio e dos preços internacionais das commodities.

O diretor do Centro de Pesquisas Econômicas da Universidade Federal do Paraná, José Luís Oreiro, citado pelo jornal Valor, avalia que o problema se deve a duas crises, a do câmbio e a do agronegócio, que perdeu com estiagem, redução no preço internacional dos grãos, fechamento de mercados por causa da aftosa e queda do consumo de frango provocado pela gripe aviária.

"Aqui a conexão do agronegócio com a indústria é muito grande", disse Oreiro. Se a produção tem quebra, a renda cai e a indústria é atingida. Ele explicou ainda que a queda do dólar costuma trazer vantagens para quem importa matéria-prima ou com dívida atrelada à moeda, casos que não se aplicam à indústria do Paraná, maior produtor de grãos do país.

O professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná, Nilson Maciel de Paulo, ouvido pelo Boletim Informativo, alerta que o mercado não tem meios eficientes, como um seguro rural, para fazer frente à atual crise. "Historicamente, a agricultura sempre dependeu de políticas de compensação. Nos períodos de vacas gordas, ela não é acionada; é nos momentos de crise que se recorre ao estado para fazer a compensação". Um exemplo, segundo o professor, é a necessidade de garantia de um preço mínimo acima do custo de produção, o que não acontece em muitos casos.

Em relação às dívidas, apenas resolver o passivo não será solução, visto que os mercados não estão favoráveis, com os preços oscilando até negativamente, como é o caso do frango. Para o professor da UFPR, enquanto o câmbio e os mercados estiverem com o vento soprando em outra direção, o agronegócio vai sofrer em alguma medida. Serão necessários ajustes estruturais no plano micro-econômico, ou seja, melhorar a gestão da propriedade, alterar o quadro de investimentos, e até redirecionar as atividades ou vender a propriedade.

A crise na agricultura, que atinge seu ponto mais agudo, já era antevista e sentida pelo comércio no ano passado. Uma pesquisa feita com 288 empresários de 70 municípios, no segundo semestre de 2005, apontou cinco dificuldades que vinham contendo a economia paranaense – todas relacionadas à agricultura:

1. queda no preço de commodities agrícolas, como soja e milho e a redução da produção agrícola paranaense em comparação com 2004, por conta da estiagem ocorrida no primeiro semestre;

2. existência de estoques de grãos em algumas cooperativas do estado, para venda futura, guardando melhoria de preços;

3. contenção das atividades relacio-

nadas a venda de tratores, colheitadeiras, caminhões, bem como serviço de transporte de cargas, em função do menor produção do setor agrícola;

4. dificuldade nos compromissos relacionados aos financiamentos bancários contraídos pelos empresários agrícolas;

5. doenças que afetaram o rebanho bovino do país, que influenciaram negativamente toda a pecuária brasileira. 
 

Cafeicultores continuam descapitalizados

Os cafeicultores ainda lutam para se recuperar da forte descapitalização ocorrida entre 2001 e 2004. É o que aponta um estudo do Conselho Nacional do Café (CNC), divulgado na semana passada (25/04). No período citado, o preço do café alcançou os piores níveis históricos, entre US$ 43 e US$ 73 a saca de 60 quilos. O custo de produção estimado no mesmo período era de US$ 70 a US$ 96 a saca, para uma produtividade média de 20 sacas por hectare. Segundo o CNC, durante quatro anos os cafeicultores tiveram prejuízo e o setor teve perda avaliada em cerca de US$ 2,5 bilhões.

O estudo do CNC, apresentado em audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, aponta que ‘‘em diversos segmentos da sociedade, como o político e o governamental e até mesmo na mídia, há uma percepção errônea de que a cafeicultura vive um bom momento, gerando renda para os produtores e que, portanto, o setor tem capacidade de saldar seus compromissos’’.

O café, no entanto, como várias outras commodities importantes da agropecuária brasileira, vive um momento extremamente delicado, em conseqüência da forte descapitalização; desvalorização do dólar, problema comum a todas as commodities, que, no caso da café, colocou o custo de produção e o preço de venda muito próximos; e a forte especulação do mercado, provocando grande volatilidade.


Boletim Informativo nº 909, semana de 01 a 07 de abril de 2006
FAEP - Federação da Agricultura do Estado do Paraná

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